“O caçador de pipas”: o que você faria por um amigo?
Um garoto rico chamado Amir e o filho do empregado de seu pai, Hassan, são grandes amigos em um distrito de Cabul. Sua principal diversão é soltar pipas e Hassan tem um talento especial em encontrar as que eram arrebentadas em competições com linhas de cerol, daí a origem do nome da obra. Além desta brincadeira, Amir gostava de escrever histórias e seu amigo de escutá-las.
Os primeiros minutos do filme são essenciais para a compreensão do valor da amizade figurada na mente de Hassan. Ele é o garoto pobre e ignorante, amigo do filho do patrão, mas está de tal forma comprometido com sua amizade que chega a dizer que comeria terra se lhe fosse pedido pelo amigo.
Destaca-se também no filme o papel do pai de Amir, protagonizado com louvor pelo ator iraniano Homayoun Ershadi. Baba, como é chamado, tem uma relação formal demais com o filho, sendo exigente. Em compensação, Hassan é tratado com certo carinho, o que gera ciúmes em Amir.
Durante o campeonato anual de pipas, Amir conquista a admiração do pai ao bater seu recorde de pipas derrubadas. E, quando Hassan vai feliz com a vitória buscar para o amigo a última pipa, o garoto é violentado sexualmente por um rapaz, que antes já tinha certa rixa com eles. Pela demora, Amir vai procurá-lo e testemunha a cena sem tomar alguma atitude.
O sentimento de culpa por não ter defendido o amigo somado aos ciúmes do carinho de seu pai por Hassan, cegam Amir. A partir daí, tenta uma forma de expulsá-lo de sua casa até conseguir.
A história dá passos largos com a separação dos amigos. O Afeganistão é invadido pela União Soviética e Amir foge com seu pai para os Estados Unidos. Lá cresce como imigrante e só depois de adulto, já casado, publica seu primeiro livro.
O jovem Amir, protagonista de “O Caçador de Pipas”, é uma figura frágil e insegura, muitas vezes confundido como o grande vilão do drama. Mas ocorre a chance de redenção de sua história. E você só descobrirá assistindo ao filme. Rs!
O filme é para gente grande, pois a cena e a conotação de violência sexual infantil, mesmo que feito de modo sério, não agradaria estômagos puritanos. A cena não é explícita, mas se entende claramente o que acontece, além disso, o decorrer da história mostra que, com o domínio talebão, crianças continuam sendo violentas a custo de comida.
O “Caçador de Pipas” torna-se ainda mais especial por retratar detalhes da cultura islâmica, especialmente suas tradições e tabus. Percorre-se a história de dominação do Afeganistão e expõe a situação dos imigrantes deste país nos Estados Unidos.
Valores como amizade e perdão são os grandes destaques. Hassan é o amigo fiel, de coração aberto, disposto a amar até o fim. Amir é frágil, mas tem a chance de mostrar a força que existe dentro dele – que é gerada pelo perdão dado a si mesmo. Seu pai Baba é a figura que contesta a tradição, mas não se desliga dela – por ser sua única força de vida (a sua fé).
Minha sugestão é que, além do filme, conheça em profundidade o drama pelo livro “O Caçador de Pipas”, que já vendeu mais de oito milhões de cópias no mundo, sendo mais de um milhão só no Brasil.
Autor: Sérgio Fernandes
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