DENGUE: ARTIGO DE OPINIÃO II



*BIA LOPES

Há vários anos desenvolvo uma pesquisa sobre a DENGUE, e tudo o que envolve esta patologia de relativa gravidade já na 1ª infecção, em função do vírus envolvido, sua forma de replicação, e o grande desconhecimento que ainda cerca esta doença infecciosa. Não posso esconder a preocupação que sinto e venho alertando ao longo destes 14 anos que envolvem minha pesquisa, devido ao descaso, a falta de incentivo e, por que não denunciar? Até perseguições sofridas devido a este estudo fazendo...
Após concluir a graduação em Biologia, trabalhando no Deptº da Dengue, funcionária pública municipal concursada, (para onde fui convidada a trabalhar e, na ocasião do convite, deixei bastante claro que havia feito a inscrição para a especialização na área de Entomologia Médica) mas ainda assim, ao ser convocada para o curso, fui claramente ameaçada de corte de salário (o que de fato houve), como não deixei me intimidar, recebi ameaça de exoneração! E tudo por que meu maior sonho é trabalhar com a DENGUE, preocupada com o número de pessoas infectadas anualmente, no mundo, e aqui no Brasil a dengue alastra-se de forma assustadora, e as “providências” tomadas pelas autoridades da Saúde Pública são ineficientes e se repetem ano após ano!
A primeira epidemia que acompanhei aqui em Rondonópolis foi em 1993/94, novamente em 1997/98, depois 2001/2002 repetiu-se em 2005/2006 e está avançando por 2007. Não podemos esquecer que, anualmente milhares de novos infectados surgem... A pressão sobre minha pesquisa resultou em meu afastamento da saúde (apesar do concurso) e fui encaminhada para trabalhar na Secretaria de Trânsito (que, diga-se de passagem, tem muito a ser feito para melhorar). A pressão, a tensão e o fato de trabalhar “dobrado para pagar” os meses que fiquei fazendo a especialização resultaram numa cirurgia de urgência e, ao voltar para o trabalho, descobri que havia sido colocada “à disposição”! Ora, eu poderia abrir um processo contra o município e o Secretário de Transporte e Trânsito, mas na verdade, cansada de ver tantas coisas erradas no setor de trânsito (uma rotatória PINTADA no asfalto, numa movimentada avenida da cidade, palco de tantos graves acidentes, ora, se muitos motoristas não respeitam faixa de segurança, semáforos alguém ACREDITOU que um círculo amarelo pintado no chão iria evitar acidentes...), assim fiquei feliz com o desconhecimento do secretário sobre Leis Trabalhistas e optei por trabalhar na Secretaria de Receita e Arrecadação, onde o vírus mais próximo é o de computador ou alguns Aedes aegypti que circulam pelo local...
A prova disto é que duas pessoas que trabalham no local estão com dengue... Perdi um importante estágio no Laboratório de Virologia da UFRJ, justamente no deptº que pesquisa as estruturas de superfície do vírus da dengue...lamentável! Se parei com minha pesquisa? Não! Não vou parar nunca, já fiz importantes descobertas sobre o vetor, sobre o vírus e minha pesquisa intitulada DENGUE: Primeira Infecção, Reincidências e suas Conseqüências têm sua importância e prossegue, apesar das dificuldades. Li no The Times que na Índia as autoridades da saúde desmentiam DIÁRIAMENTE na mídia a existência de casos de dengue, mesmo com centenas de pessoas apresentando os sintomas de dengue até o dia que o genro e dois netos de um importante Ministro foram infectados de forma grave, pela dengue e só então o tal político exigiu explicação e providências urgentes...
Parece tudo igual, lá e cá, pois aqui houveram óbitos por Dengue Hemorrágica, Síndrome de Choque, onde o paciente sofreu perda de sangue, após os sintomas iniciais da dengue e posterior agravamento do quadro, e ainda assim os dados foram omitidos, o que é muito grave, segundo o Ministério da Saúde, a Organização Mundial de Saúde-OMS, a Organização Pan-Americana de Saúde-OPAS. As epidemias se sucedem, os erros de conduta na eliminação do vetor se repetem, ano após ano.
A falta de apoio e incentivo a pesquisa, ao trabalho é algo assustador e faz pensar numa historinha infantil “a galinha dos ovos de ouro”, no caso quem teria interesse em eliminar o “mosquito de ovos de ouro”? Afinal, ele significa um importante repasse mensal, aos estados e municípios (mesmo que o presidente tenha reduzido um tanto da verba)... Mas, ao fazermos uma análise de valores e despesas que envolvem uma população doente poderemos verificar que a medicina preventiva apresenta menores custos aos municípios, estados e federação do que os custos da medicina curativa!
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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