Os Deputados e suas Verbas de Gabinete



Enquanto o povo acompanha, consternado, o desenrolar das investigações sobre o assassinato da menina Isabela e até mesmo à vampirização diária que a mídia vem fazendo ao sangue da inocente assassinada em circunstancias ainda misteriosas, o poder dominante através dos lacaios que habitam o Congresso Nacional, desfere mais um golpe na sociedade.

A Mesa Diretora da Câmara, na última quarta-feira (16) aprovou por unanimidade a reivindicação dos deputados aumentando a verba de gabinete que, a partir deste mês, passa de 50,8 mil para 60 mil, ou seja: 18,11% de aumento.

A "facada" já vinha sendo anunciada pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da câmara, que declarou ser favorável ao aumento argumentando que "todas as categorias têm direito a aumento de salário". Entretanto, o ilustre deputado não disse, por exemplo, que este direito atualmente é valido apenas para os parlamentares e sua legião de apadrinhados. Também não falou sobre as razões que o levaram a mudar de comportamento uma vez que, quando se elegeu presidente da câmara, declarou abertamente que era contra todas as mordomias dos deputados (coisa típica do PT: nunca falam o que realmente pensam e nem o que pretendem fazer).

A decisão da Mesa Diretora, composta por Chinaglia e mais 12 deputados, agradou a casta parlamentar que tem agora R$60 mil mensais para agraciar os seus apadrinhados, parentes e amigos, ou quem mais eles quiserem, com salários de até R$ 8.040,00.

Tão logo foi anunciado o aumento, o deputado Maurício Rands (PT-PE), líder do partido na câmara disse que "Todas as bancadas apoiaram a decisão da Mesa Diretora. Esses servidores vivem de seus vencimentos e têm direito a um reajuste anual. A medida da Mesa é correta". Com o mesmo entusiasmo do seu colega, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na câmara, comemorou: "Quero parabenizar a Mesa Diretora. É coisa rara ver toda a diretoria da Câmara dando notícia tão boa para os nossos assessores".

Essas declarações nos levam a refletir sobre a verdadeira índole dos nossos representantes no Congresso Nacional e aqui eu poderia fechar esta crônica, entretanto não posso encerrá-la antes de dizer que enquanto esses "cupins do dinheiro público" desfrutam de tanta mordomia à custa dos impostos que pagamos, somos obrigados a conviver com o desemprego, com a falta de postos de saúde, hospitais e escolas públicas decentes. Temos que nos curvar a sanha assassina da agiotagem oficializada e praticada pelos bancos, financeiras e administradoras de cartões de crédito que esmagam nossos salários com juros elevadíssimos e muitas vezes impagáveis. Temos que engolir um presidente que elogia e apóia em público políticos reconhecidamente corruptos como Severino Cavalcanti e governantes ditadores, cambalacheiros e inescrupulosos como Hugo Chaves e Evo Morales. E como se não bastasse tamanha afronta à nossa inteligência, ainda temos que engolir uma legião de "analfabetos políticos" aplaudindo de pé as mazelas parlamentares e governamentais sem atentarem para o detalhe de que esses serão seus algozes amanhã.

Não menos revoltante é ter atravessado em nossas gargantas um presidente espalhafatoso e prepotente que se aproveita de um controverso PAC-Programa de Aceleração do Crescimento para promover, com recursos públicos, a campanha da sua candidata a presidente na próxima eleição presidencial.

Enquanto isso, no salão das orgias políticas nossos ilustres parlamentares bailam travestidos de justiceiros fingindo não ver as mazelas de seus pares e sorriem descaradamente da nossa suposta ingenuidade.

O que poucos sabem e a grande maioria dos eleitores beneficiados pelas humilhantes “bolsas-esmolas” não sabem, e nunca se preocuparam em saber, é que, enquanto o governo federal alega não ter os recursos necessários para disponibilizar serviços essenciais de boa qualidade à população, um deputado federal arranca dos cofres públicos mensalmente a “mísera” quantia de R$ 115.893 composta pelas seguintes parcelas: Salário – R$ 20.625 (já incluído 13°,14°e 15°), Verba de Gabinete – R$ 60 mil, Verba Indenizatória – R$ 15 mil, Auxílio Moradia – R$ 3 mil, Gastos Postais e Telefonia – R$ 4.268, Gastos com Publicações – R$ 500, Passagem Aérea para seus Estados de origem (valor médio) – R$ 12.500. Além disso, os parlamentares ainda usufruem de regalias pagas pelos cofres da união, quais sejam: assinaturas de jornais e revistas num total de até cinco publicações; assistência médica ilimitada; aposentadoria com oito anos de mandato.

E assim o vírus vai se espalhando e contaminando a moralidade e a decência nacional até o dia em que o "analfabeto político" não mais trocar o seu voto por uma dentadura, por um saco de cimento, por um churrasco regado a cerveja ou por uma humilhante cesta básica que de básico tem apenas o firme propósito de comprar a sua dignidade.

Fecho aqui esta crônica-desabafo deixando, para reflexão, um texto do dramaturgo e poeta Bertolt Brecht falecido em 1956 aos 58 anos de idade e que há 50 anos atrás já alertava a sociedade para os políticos que hoje proliferam nos quatro cantos do País:

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro, que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais".

Reflita e antes de confirmar o seu voto na Urna Eleitoral, faça um exame de consciência. O futuro da Nação depende deste momento.

18/04/2008
Magno R Almeida
http://magroalmeida.blogspot.com
Autor: Magno R Almeida


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