Em busca do emprego ideal



Há trinta anos eu consegui o meu primeiro emprego como Auxiliar de Escritório I na Klabin do Paraná, uma gigante do ramo industrial papeleiro, instalada na cidade onde eu morava. Meus pais se aposentaram na empresa e minha irmã do meio trabalha lá até hoje. Aliás, na época, quase toda a cidade havia passado pela Klabin. Ter a carteira assinada pela maior empregadora do município era o sonho de consumo da população local.

O primeiro emprego a gente nunca esquece. Eu tinha o melhor salário do mundo, um ótimo chefe, mesa exclusiva e companheiros inesquecíveis. Eu não reclamava das botas com biqueira de aço, das babadas inesquecíveis do chefe (um verdadeiro paizão), de bater cartão-ponto às sete e trinta e seis da manhã, do trabalho extra nem das longas idas e vindas pelas obras e pelo escritório central a pé durante o dia todo mesmo sabendo que à noite haveria uma jornada cansativa de estudos para cumprir.

O que era importante na época? Eu tinha crachá, símbolo de dignidade, segurança, status, respeito e um pacote considerável de benefícios para a minha idade. Quando eu passei no exame da Escola Técnica e pedi demissão, três anos depois, o chefe deu a maior força e ainda datilografou uma carta de referência, meu pai vibrou e naquele momento eu tinha certeza de estar no caminho certo.

Diferente dos demais, minha mãe se fechou no quarto e chorou ao imaginar que eu pudesse ficar pelo menos trinta anos no que ela dizia ser o emprego ideal. Entretanto, minha intuição dizia que as oportunidades não surgem em nossa vida por acaso e que o emprego ideal não viria sem estudo, determinação e novas experiências. Com muito jeito para convencê-la e uma decisão irrevogável, eu deixei o interior para tentar a vida na capital, em busca do emprego ideal, a exemplo de outros milhares de jovens desse país.

O sonho de construir uma carreira brilhante e encontrar o verdadeiro eldorado profissional numa cidade grande foi aplacado temporariamente no mesmo instante em que encontrei o primeiro chefe inescrupuloso. Entretanto, por trás das adversidades existem oportunidades disfarçadas. No auge da minha impetuosidade juvenil, as adversidades sempre me conduziram para ambientes mais promissores e aos poucos eu fui galgando a escada corporativa. Por conta disso, abandonei o meu primeiro emprego na capital quando surgiu outra oportunidade melhor.

Em trinta anos de história profissional eu mudei oito vezes de empresa e nunca encontrei o emprego ideal, por uma simples razão: ele não existe. Em todas as profissões, ocupações e gerações, a busca incessante do ser humano por uma zona de conforto maior do que sua própria natureza lhe proporciona o transforma num eterno descontente.

Particularmente, me angustio quando vejo pessoas sendo estimuladas a procurar o emprego ideal como se isso dependesse exclusivamente da boa vontade de cada um. A natureza humana é insaciável. Quando uma necessidade é atendida, outra surge imediatamente em seu lugar, uma verdade perfeitamente compreensível que contribui para o processo de evolução pessoal e profissional.

Cursos, diplomas, treinamentos, apadrinhamentos ou aconselhamentos de qualquer natureza não poderão ajudá-lo a encontrar o emprego ideal enquanto você estiver condicionado a associar dinheiro ao sucesso ou sobrevivência ao dinheiro de maneira automática. Ao contrário, o emprego ideal está diretamente associado ao sentido de realização e ao gosto pela vida.

São poucos os casos de pessoas dispostas a abrir mão de um bom salário ou de um ótimo cargo, bem como dos seus respectivos benefícios, para se dedicar a projetos mais nobres, talvez menos rentáveis, porém mais alinhados com a sua vocação original. Em geral, isso ocorre quando a pessoa já sacrificou parte da vida e da saúde numa corrida desenfreada pelo dinheiro.

A partir do momento em que você toma consciência da importância do trabalho na sua vida, você passa a sonhar com o emprego ou com a profissão ideal e, automaticamente, o desejo é transformado em objetivo de vida. Entretanto, ainda que você não o coloque no papel e não estabeleça metas para alcançá-lo, seja por conta própria ou como empregado, ele permanece no inconsciente pronto para pressioná-lo ao menor sinal de descontentamento. Não acredita? Aguarde a próxima discussão com o chefe, o próximo extrato bancário ou o próximo comprovante de pagamento.

O emprego ideal depende de uma série de fatores positivos que apenas o tempo, transformado em experiência de vida, é capaz de proporcionar. Por essa razão, os empregos são transitórios, nossos objetivos estão sempre além do que já foi alcançado e vivemos imaginando que o emprego dos outros é melhor do que o nosso. Por essa razão também existe sempre um substituto pronto para ocupar o seu lugar, pois, enquanto você está cobiçando o cargo do chefe, alguém está cobiçando o seu.

Meu pai trabalhou trinta anos na mesma empresa e não encontrou o emprego ideal. Eu passei por oito e continuo firme no propósito de consegui-lo, porém acredito ter encontrado o caminho: foco, determinação e muita persistência. Conheço dezenas de profissionais que passaram dos sessenta anos e ainda não sabem o que fazer da vida e outros milhares que continuam esperando a aposentadoria para então se dedicar ao emprego ideal.

Mudar de emprego não basta, é necessário encontrar-se interiormente, ser menos crítico, mais decidido, menos ansioso, estabelecer metas e preparar-se definitivamente para alcançá-las. Quando se sentir ameaçado, desmotivado e infeliz com o cargo e o salário, basta comparar o estágio alcançado com o dos demais da sua geração e você verá que a situação não é tão ruim quanto parece.

O primeiro passo indispensável para conseguir o emprego ideal é decidir o que você quer da vida. Como dizia Martin Luther King, “Dê o primeiro passo com fé. Você não precisa ver toda a escada, apenas suba o primeiro degrau.” Creio que mais importante do que encontrar o emprego ideal é nunca deixar de persegui-lo. Pense nisso e seja feliz!
Autor: Jeronimo Mendes


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