MÍDIA PARA AGRADAR OS DONOS DO PODER



Estou lendo o artigo de Bruno Dominguez (RADIS 66 Fev.2008), “Um fenômeno (clássico) de imprensa” onde ele diz achar que “esteja onde estiver Oswaldo Cruz deve estar confuso”. Pois eu penso que ele (se é que isso seja possível) deve estar em estado de choque, pelos absurdos que são publicados na mídia com destaque para alguns especialistas que declaram não se tratar de epidemia (seja de Dengue, Febre Amarela ou Leishmaniose).
Milhares de casos de dengue explodindo em todo o país e o especialista em negar evidências, corre em busca da mídia e declara não se tratar de epidemia! Em primeiro lugar o repórter não pode afirmar que “desde 1942 a ‘Febre Amarela’ urbana não faz vítimas”. Meia dúzia de casos pode ser chamada de ‘surto’. Mais do que isto é epidemia, sim!
(E urbana ou silvestre, esta definição serve apenas para desviar a atenção: O vetor envolvido, tanto com a chamada DENGUE que não é outra patologia senão a chamada FEBRE AMARELA, um dos tantos nomes recebidos para esta doença viral.)
Outra coisa: o Ministro da Saúde está um tanto confuso ao declarar que existem algumas zonas de risco...
Ministro, o Brasil todo é zona de risco!
Há mais de vinte anos a vigilância e o combate ao vetor vêm agindo equivocadamente, com decisões erradas facilitando a proliferação do vetor, e, hoje, apenas uma reação radical, em todo o País, poderá mudar o quadro que se apresenta: complexo e alarmante, lamentavelmente.
Mosquitos vetores proliferam em todos os lugares: clubes, residências, órgãos públicos, hospitais e (por que não dizer?) em salas de aula de instituições de pesquisa! É, recordo um bebedouro de água na própria FIOCRUZ, onde, após observar um número razoável de insetos, fomos examinar a vasilha que há no bebedouro, que estava cheia de água, com larvas de todos os instares e pupas!
Imaginemos o resto por aí... Especialmente se considerarmos certos que coordenadores da vigilância epidemiológica e entomológica, que, como já citei em artigo anterior, confunde zebra com Aedes, já que ambos possuem listras...
Mas o que considero pior é este tipo de mídia “panos quente”, que ganha para fingir que tudo está bem. E não está. Infelizmente. Alarmismo? É alarmista a mãe que vê o filho morrer por causa de um mosquito? Para o infectologista José Cerbino (IPEC) “o número de casos não justifica todo este medo” e diz ainda “Não há necessidade de imunizar quem não mora em área de risco e não vai viajar para lá” esquecendo-se de que o Rio de Janeiro é uma das maiores áreas de risco, aliás, o Brasil, quase todo (repito), é uma imensa área de risco!
Quanto ao “teor técnico que o Ministério da Saúde tem lidado com o episódio é suficientemente esclarecedor para a mídia e para a sociedade”. Que teor técnico é este? Na NOTA TÉCNICA Nº. 081/03 do Ministério da Saúde, “A Fundação Nacional de Saúde adquiriu uma nova formulação de inseticida piretróide (K-Othrine) para aplicação espacial (Ultra Baixo Volume). Esta nova preparação utiliza a água como solvente ao invés do óleo de soja tradicionalmente utilizado, o que traz considerável economia à operação”... Economia? Com a saúde da população brasileira? Utilizando veneno para baratas para matar o mosquito da Dengue? E tem mais, na NOTA TÉCNICA Nº 40/04, também do Ministério da Saúde, “Utilização da Alfacypermetrina SC 20% no tratamento perifocal para o controle da dengue e borrifação domiciliar residual nos programas da malária, doença de Chagas e leishmaniose visceral”.
Alfacypermetrina, conforme nota técnica do fabricante, é indicada para o controle da Mosca-do-Chifre (Haematobia irritans), Mosca doméstica e S. calcitrans, carrapatos (Boophilus microplus) e prevenção de bernes. E mosca, senhores técnicos, NÃO É MOSQUITO! Em sua biologia comportamental, desenvolvimento etc. totalmente diferente! E carrapatos? É outro departamento... Nada a ver com o mosquito.
E o senhor Fernando Verani ainda questiona ser, no entendimento dele: “É a politização do episódio, repetindo uma prática que vem ocorrendo ao longo dos anos, que tende a dar um caráter de descontrole as ações do governo na saúde e acaba confundindo a sociedade e gerando um pânico injustificável”.
Esquece o senhor Fernando que ao longo desses últimos 20 anos o Aedes aegypti e a Dengue ou Febre Amarela, como queiram, foram se estabelecendo, e, hoje, quem manda é o mosquito!
Para concluir, em seu último parágrafo o repórter cita o boletim da Secretaria de Vigilância em Saúde (?) do Ministério, que no dia 23 de janeiro, “dos 40 casos suspeitos 15 foram descartados e 18 confirmados com nove mortes e nove casos de recuperação”. Se analisarmos estes dados, eles representam, na verdade, 50% de mortes!
E a população e a mídia são chamadas de alarmistas... Parece que tem gente brincando de fazer Saúde Pública!
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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