COMO ME TORNEI ESCRITOR



Ao completar meus 25 anos (Bodas de Prata) de intensa produção cultural e educacional, senti a necessidade de organizar, por anos, a publicação de artigos, entrevistas e notas publicadas nos principais jornais cearenses (O Povo, Diário do Nordeste, O Estado e Tribunal do Ceará, este último já extinto). Organizar as idéias é uma forma de organização do nosso pensamento e de nossa vida.

Aqui, neste tomo, reunimos os textos publicados no período que vai de 1982 a 1993.

Desde o ano 1976, estudante do Colégio Militar de Fortaleza, ao me deparar, na biblioteca, com livros de autores como Lúcia Pimentel de Góes (SP) e Ademir Antônio Bacca (RS), iniciei um intenso intercâmbio cultural com vários poetas e escritores brasileiros e, como fruto de todo o esforço da rede de contatos, recebi, a título de oferta, suas obras literárias. Minha produção epistolar receberá um tomo próprio uma vez que traz informações preciosas sobre muitos escritores brasileiros, especialmente os da Geração de 45.

Todavia, o primeiro texto, publicado na imprensa, foi em um espaço destinado aos leitores de O POVO, datado de 22 de janeiro de 1982. A carta, em tom de artigo, recebeu o título “A poesia dos poetas cearenses”. Fiquei muito feliz com a publicação deste artigo e, já no último ano de Colégio Militar e certo de que não seguiria a carreira militar, acreditei que a publicação de minha carta-artigo seria fundamental para minha vida profissional fora da escola. Abriaria as portas para o mercado de trabalho na área profissional de Letras. Não foi bem assim. A estrada até ganhar espaço no magistério cearense exigiu toda uma sorte de trabalho e dedicação aos estudos lingüísticos e literários.

Publicar artigos nos jornais cearenses, no primeiro momento, rendeu-me contatos pessoais com poetas e escritores cearenses como Aloísio Bezerra, Barros Pinho, Eduardo Campos, Márcio Catunda, Jader de Carvalho, o que foi valioso para minha formação profissional, a partir do ano de 1983, quando ingressei no curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará(UECE).

No período de 1982 a 1993, os textos, vale salientar, foram todos datilografados e enviados, por via postal, aos jornais. Não havia ainda e-mail. Na coletânea, há registros de prêmios literários como o da ACI, que me muito marcou pelo valor recebido em dinheiro e ainda a coleção completa da obra infantil de Monteiro Lobato, ainda hoje guardada e sempre relida.

No final de 1986, ingressei, por seleção, como revisor, do Jornal O Estado, que funcionava, na Aldeota, na Avenida Santos Dumont. No final daquele ano, em dezembro, resolvi enviar um texto para o Jornal O Povo, que abria espaço para a edição comemorativa do aniversário do Jornal O POVO, no dia 7 de janeiro de 1987. Então, resolvi enviar um trabalho de NTI que havia sido criticado e praticamente rejeitado por uma professora de Estilística do Curso de Letras da UECE, sob o título “Significado expressivo do poema “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade. O jornal O POVO publicou o trabalho acadêmico e, já trabalhando em O Estado, recebi convite do editor Ossian Lima para trabalhar como repórter policial e, depois, como repórter político, do referido jornal. O salário melhorou e as condições de trabalho também. Foi, pois, um pulo de revisor para repórter. Fiquei como repórter e redator do jornal O Estado até início do ano de 1991.

Como repórter do Jornal O Estado, pude acompanhar de forma mais presente e informativa, os trabalhos da Constituinte Nacional (1987-1988); posteriormente, a Constituinte Estadual (1989) e a Lei Orgânica de Fortaleza(1990), o que me levou a participar ativamente do processo de proposição de matérias na área educacional para as duas constituintes cearenses: a estadual e a municipal. Com esta rica experiência, levei à Universidade Federal do Ceará(UFC) a proposta de dissertação de mestrado em educação sobre a educação nas constituições estaduais brasileiras, uma vez que colaborei, também, com a feitura das cartas estaduais de Roraima, Amapá e Tocantins.

Em 1991, logo que saio do Jornal O Estado e ingresso no Mestrado em Educação da UFC, também ingresso, por concurso, na rede estadual de ensino (SEDUC) e minha atenção passa a ser exclusivamente o magistério, atuando nas áreas de língua portuguesa e língua espanhola. Fui docente ainda do Colégio Militar de Fortaleza, Farias Brito e pequenas escolas de Fortaleza. Em 1993, passei a me preocupar com minha carreira em longo prazo e a idéia de ser professor universitário, em Fortaleza ou fora do Estado, passou a concentrar meus esforços acadêmicos, o que me levou a rotina de coleta de informações sobre concursos públicos na área do magistério de educação superior. Em 1994, deixo as atividades em Fortaleza e passo a me dedicar exclusivamente às atividades docentes na Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral.

Para a organização deste material que ora se segue, gostaria de fazer alguns esclarecimentos. Limitar-me-ia a descrever o papel dos meus entes queridos na construção do meu pensamento próprio e na minha vida profissional.
Primeiro a Deus que durante todos os estes anos de dedicação à construção de uma carreira profissional tem me iluminado, de modo a poder escolher o que considerei, até aqui, estratégico e válido para seguir até os últimos dias da minha vida terrena.

Segundo, sou muito grato à minha mãe ou “pãe” Pedrina Maria da Silva Martins, que, com sua garra, determinação, coragem e, sobretudo seu trabalho, pôde me dar sustento material necessário para poder realizar meu desiderato. Foi e continua sendo, depois de sua morte, em 2006, um exemplo a seguir: honestidade, sinceridade, trabalho, coragem e inteligência.
Terceiro, minha esposa Luciene de Abreu Martins, que desde o ano de 1977, portanto, ainda quando estava no Colégio Militar, esteve sempre ao meu lado. Foi Luciene a primeira leitora dos meus textos. Muitos deles, sei, nem ela nem eu, em muitos momentos, entendíamos exatamente o eu queria dizer, principalmente nos poemas contidos em Insuflações Misteriosas (1982) ou “ O juízo crítico na esquizofrenia paranóica dos poetas inconscientes”(1982). Muitos poemas são uma descarga de angústia e depressão pelas dificuldades domésticas enfrentadas por mim e pela mãe querida naqueles dias difíceis dos anos 80. Luciene Martins, feito um bom anjo ou anja ou mesmo um anjo de guarda, soube conservar com zelo e muito amor toda minha publicação de sueltos poéticos, o que, aqui, reconheço sua dedicação e sou muito grato por seu carinho e respeito à minha memória. Não fosse Luciene, ao certo, não teria conservado tantas coisas escritas nos anos de adolescência que deverei, também, organizar em tomo próprio.
Por fim, gostaria de fazer um agradecimento especial, mas muito especial mesmo, as minhas filhas Mariana de Abreu Martins e Atília de Abreu Martins. Mariana, aos 12 anos, ao receber a tarefa de organizar o material, recortar os artigos e matérias diversas, para este tomo, sob dar uma arrumada necessária e inteligente aos meus textos. Atília, também, ajudou na organização do material, se detendo a detalhes como as datas e a diagramação do texto, sabendo das minhas exigências e cuidados acadêmicos em tal empreitada. As duas filhas são o escol da minha vida: agradeço a Deus sua existência e torço para que, no futuro, possam, em mundo ainda melhor, construir um pensamento próprio e emancipado como mulheres do século XXI.
Autor: Vicente Martins


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