COMO ME TORNEI "DEVOTO" DE SANTA LUZIA



No dia 13 de dezembro, nos países católicos, é comemorado o Dia de Santa Luzia. A santa é padroeira em muitas cidades brasileiras. Milhares de vozes entoam refrão do hino popular da Padroeira: "Ó Santa Luzia, pedi a Jesus, que sempre nos dê, dos olhos a luz".
Começando meu artigo, assim, dá idéia que sou um católico praticante ou, talvez, um dos fervorosos devotos de Santa Luzia. Nada disso. Não sou católico nem evangélico: sou apenas cristão. Aliás, tenho tudo para não acreditar no santos. Nascido em lar evangélico, aprendi, desde cedo, por lição bíblica ou heteronomia, que Cristo é nosso único intermediador com Deus.
Mas, em 2003, me aconteceu algo intrigante. Preparava, para o Curso de Letras, uma aula sobre Luzia-Homem, romance do sobralense Domingos Olímpio. Postulei que o título do romance e seu enredo teriam a ver com a história de Santa Luzia. A ficção naturalista recontaria, na minha hipótese, a legenda da santa européia, através de uma lenda brasileira, bem nordestina, a de Luzia-Homem.

Mergulhei na hagiologia. Li várias lendas do martírio da santa. Luzia nasceu na Sicília, Itália, nos século III, tempo de muitas perseguições cristãs. Contam que seus pais eram cristãos, de origem nobre, e ricos. Com a morte do pai, a vontade da mãe era que Luzia contraísse matrimônio com um moço de estirpe nobre, mas pagão. Como havia feito voto de virgindade a Cristo, não aceitou o casamento. Sentindo-se rejeitado, o noivo, denunciou-a ao governador Pascácio, um homem perverso que, em tribunal, intimou-a a sacrificar sua vida aos deuses pagãos. Luzia não abriu mão de sua fé cristã. Apoiando-se nas Cartas de Paulo, respondeu a intimidação de Pascácio: "Adoro um e só Deus verdadeiro, a Ele prometi fidelidade e só a Ele adorarei."

A insistência de Pascácio para que Luzia, a todo custo, se casasse com o fidalgo, levou-a perguntar-lhe: “Afinal, o que este rapaz viu em mim, sendo ele tão rico e poderoso”. A resposta do governador foi taxativa: “São seus belos olhos que o encantam”. Luzia, então, pediu-lhe um pratinho e um arrancou, de súbito, seus olhos, e ofereceu ao noivo que a denunciou. Pascásio, irado, ordenou que fosse derramado, sobre Luzia, azeite, piche e resina e ateasse fogo em uma grande fogueira. Dano nenhum sofreu Luzia. Por fim, foi decapitada.

Certo que, numa dessas terças-feiras de 2003, preparava minha aula de literatura e com cirurgia marcada para retirada de um tumor no meu olho. Olhava detidamente a imagem da santa para comparar sinais mitológicos (olhos no pratinho, ramo de palmas etc) com o enredo do livro. Fiz, então, um desafio à Santa Luzia: “Se a senhora é santa mesmo, mostre-me seu poder e me cure dessa doença no meu olho, para que não precise me submeter à cirurgia”.
Incomodado com a inflamação ocular, já não me olhava no espelho. Por isso, foram os colegas de trabalho que me apontaram, no dia seguinte, o desaparecimento total do caroço no meu olho esquerdo. Médicos, católicos, evangélicos e pessoas amigas falam-me, ainda hoje, de algo inexplicável no meu olho.
O martírio da santa ocorreu em 303 de nossa era. Passados tantos séculos, o que ocorreu comigo, não tenho dúvida de que foi um maravilhoso e extraordinário milagre de Luzia.

Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral.
Autor: Vicente Martins


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