Enigma do Baralho



Fãs de jazz não dançam. Ficam ao lado do palco, imersos na música, sorrindo uns para os outros em uma espécie de conspiração. (Eric Hobsbawm – pensador egípcio).

O martelo batido muito rápido, encerrava o leilão naquela tarde chuvosa em Mumbai, Índia. A mercadoria arrematada, um container lotado de baralho, nada sobrenatural, exceto a falta do “ÁS”, carta indispensável em qualquer tipo de jogo. O mais curioso era o fato de o comprador não se importar com a ausência da peça. A martelada, num sincronismo capaz de deixar o músico Ravi Shankar, babando de prazer, parecia ter ativado um MP3 de “Mack The Knife”, interpretada por Louis Armstrong, confirmando o negócio da China, aliás, Índia.

Nenhum tipo de prudência foi descartado pela delegada Kamala e seu auxiliar Aziz, quando, envoltos em uma naipada de precauções compareceram ao evento.

A Gestão de Vendas, não pode ser um Enigma, uma vez, que se tem conhecimento de cada degrau alcançado na história ao longo dos milênios. Os registros bem mostram o legado que a sociedade herdou deste mister. A indefinição de alguns gestores enigmáticos ou incompetentes, estupidifica as decisões, agigantando os “molemente” previsíveis, caóticos resultados.

Como consultor, fui contratado para ministrar dois treinamentos em vendas, quando a pessoa responsável, frisou bem que eu incluísse em meus cursos, um capítulo onde obrigasse os funcionários a seguir as regras da empresa. O Gestor ficou surpreso quando lhe perguntei: posso ver as cartas, aliás, regras?

Pode alguém fincar estacas no ar? Paradoxalmente, a companhia não dispunha de nenhuma regra ou procedimento. Como exigir sua observância?

A eficiente delegada Kamala, Advogada e Pedagoga, antes de fazer concurso público, estudava sobre a aplicabilidade dos jogos na educação. Era conhecedora por excelência do baralho e falava ao assistente Aziz, desses detalhes:

-- Az. Embora não se tenha exato conhecimento, cavucando a história, há um unânime consenso, de que o baralho tenha sido criado na China, por volta do século X, chegando à Europa em torno do ano 1350. A Índia usava um baralho de 10 naipes, com seus obviamente conseqüentes 10 Ases. O padrão eleito pelo mundo todo acabou sendo o de 4 naipes e respectivos Ases.

-- Kaminha (Kamala). Hoje nosso país, não usa mais os dez naipes. Do contrário, estaríamos roubados com a investigação desse leilão. – comentou sorrindo Aziz.

-- Aplicando 10 por cento de desconto ao milênio que nos encontramos, alcançaremos o início do “seculozinho” 19. Nessa época, os governos da Espanha e França fabricavam as cartas e vendiam. A Inglaterra optou por cobrar vultosos impostos. Fiscalizava tão duramente seu pagamento, que cada baralho somente era liberado após a aposição no ÁS de espadas, de um carimbo da Receita Federal (ou seria: Royal Profit - Receita Real?) comprovar o efetivo pagamento das taxas. – prosseguiu Kamala.

-- Kaminha (quase virou Carminha), de repentemente, o cara que arrematou o baralho, é um contrabandista e vai receber os ases após pagar alguma taxa, né?

-- Só pra concluir, posso falar do treinamento? Perguntou a moça, fingindo não se importar com o raciocínio do assessor:

Treinamento
A mão-de-obra que envolvia a fabricação do baralho tinha esse perfil:

• Artesão de Cartas
O sujeito que desenhava, pintava e colava cartas, precisava fazer um curso de três anos;

• Oficial
Após três anos de aprendizado e trabalho o Artesão de Cartas era promovido a Oficial;

• Mestre
A criação de uma obra-prima e a comprovação de 6 anos como Oficial de Cartas, qualificava o profissional a receber o título de Mestre de Artesão.

Por falar em treinamento, acabei ganhando mais um pouco de dinheiro, para criar as tais das regras, que agora, sim passaram a existir, podendo nortear as equipes. Notei um enorme interesse dos participantes em conhecer os procedimentos e uma forte inclinação à obediência.

De repente, Kamala deu um pulo e disse:
-- Separe as algemas. Vamos prender o sujeito.

Procurando o comprador do container de baralho falou:

-- Senhor. Houve um engano e o lote leiloado tem todos os ases. O senhor vai receber o baralho completo.

Muito assustado, o arrematador deixou escapar:

-- E o que eu vou fazer com os ases que tenho em casa?

Ainda com a cabeça embaralhada, o “papa-leilão”, obedeceu incontinenti, à voz de prisão do simpático mas rígido policial Aziz. Como já dizia Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”.

O “rato-de-leilão”, contrabandeou o baralho, e, retirando os Ases, denunciou à polícia, sua própria carga, para arrematar por uma bagatela, quando o produto fosse leiloado. Assim, o Enigma do Baralho continuaria e ele sendo legalizado, poderia comerciar normalmente.

O céu de Mumbai extrapola a loucura, não permitindo que um ser vivente esqueça a sensação profunda de paz, nas fantásticas noites de lua cheia desse extraordinário trecho da Índia.

Com a gentileza e graça de uma filhotinha de cachorra labrador, a delegada Kamala, exibindo os dentes clareados pela própria natureza, olhou para Aziz.

O policial estava tendo aula de canto com o maestro Kurió Gupta. Para ouvir a linda voz de barítono do amado, a garota perguntou:

-- Az. Como é mesmo aquela música do leilão?

Como prenúncio do casamento do dia vindouro, uma parte do céu se permitia borrifar por uma macia nuvem para filmar os nubentes.

Encerrado show particular de Jazz, os pares de lábios dos cumpridores da lei, acoplados, celebravam o amor, dando por concluído o Enigma do Baralho.

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Escrito por:
Gilberto Landim
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www.vendasplus.com.br
Autor: Gilberto Landim


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