O Planejamento Estratégico e a Dívida inesperada



A DÍVIDA NÃO ESTAVA NOS PLANOS – E AGORA?

Algumas vezes as necessidades ou as crises tornam-na necessária. O difícil, mesmo, é conviver com essa dor de cabeça...

Quando tomamos o cenário de negócios das Pequenas e Médias Empresas (PME), é difícil imaginar que seus planos estratégicos possam prever crises ou dificuldades tais, que a tomada de crédito seja uma alternativa planejada ou imaginada, antecipadamente.

Normalmente, as únicas linhas de crédito eventualmente planejadas são aquelas que contemplam o suporte financeiro a título de investimento em uma nova frente, em um novo negócio ou em uma nova iniciativa comercial ou de produção.

Nesse caso – não esquecendo que planejamento significa “antecipação”, o tempo permite a busca por linhas de crédito mais apropriadas, com taxas mais baratas e prazos vantajosos, uma vez que não existe a urgência de se apagar um incêndio - fato comum nos momentos de problemas ou crises.

Mas quando falamos desse tipo de crédito para investimento planejado, estamos distantes daquele endividamento compulsório que surge nos momentos de desespero.

Infelizmente, o comum no mundo das PME é o endividamento por capital de giro operacional e, muito pior, o endividamento associado a obrigações legais e trabalhistas.

Tomemos, em primeiro lugar, as obrigações legais e trabalhistas, pois a empresa poderá ser executada no caso de inadimplência.

Da mesma forma que todas as empresas sabem que carregam obrigações legais, fiscais e trabalhistas, a quase totalidade delas relega essa necessidade em seus planos de negócios, “esquecendo”, momentaneamente, que existem os períodos do ano em que são demandadas por gastos adicionais relativos a férias, décimo terceiro salários, encargos, impostos, etc.

Todos têm essa preocupação, mas acreditam que o dinheiro surgirá no momento necessário. A ausência de planos antecipados exige que, nesses períodos, os proprietários e seus executivos saiam à caça desesperada por dinheiro, a fim de honrar os compromissos e os pagamentos dos seus colaboradores, assim como os impostos e obrigações legais.

Como comentado em um artigo anterior, esse problema seria contornado caso a ferramenta de “provisão orçamentária” fosse utilizada com antecedência. Trata-se de uma provisão contábil – uma verba mensal, “separada” e acumulada, a fim de que possa ser utilizada no pagamento das obrigações trabalhistas de final do ano, nesse exemplo, deixando de impactar o caixa da empresa de forma desastrosa.

Outra causa de endividamento, se não a principal de todas, é o giro do caixa operacional. Todo empreendimento necessita de capital de giro e esse dinheiro nas PME está totalmente dependente do resultado mensal do negócio.

Em outras palavras, se a empresa tiver uma receita maior que o custo associado no mês, ela contará com algum capital de giro, caso contrário, não.

Essa tem sido a lei da sobrevivência no mundo das PME, o que não significa dizer que seja sadio e que esteja correto.

O planejamento estratégico e o operacional são as ferramentas de sobrevivência de qualquer empresa. É preferível reconhecer que os números e os resultados são desastrosos em uma planilha de planejamento, previamente, do que ter que enfrentá-los na vida real, onde as alternativas antecipadas de contorno ou mesmo de prevenção, já não têm mais tempo de acontecer.

Uma coisa é fato: os bancos sobrevivem dos lucros advindos do empréstimo de seus recursos (dinheiro) para os seus clientes. Quanto maiores as taxas de juros, maiores os lucros. Esse é o escopo do negócio financeiro.

Para escapar da dor de ter que pagar juros elevados em empréstimos, temos que agir na causa e não apenas buscar fontes mais baratas de recursos.

Agir na causa significa trabalhar em planos detalhados, completos e precisos no cenário estratégico e no operacional do negócio, com bastante antecedência. Apenas dessa forma será possível prever e agir nas possíveis causas de endividamento.

Por isso é que temos duas definições clássicas para o dinheiro necessário ao andamento das empresas. Uma delas é a tomada de recursos ou investimentos - normalmente necessários para novas expansões, negócios ou empreendimentos. A outra é o endividamento operacional – o famigerado empréstimo de capital de giro.

Ambos são passíveis de planejamento e, portanto, de antecipação.

É evidente que muitos outros fatores compõem o quadro de sucesso de uma empresa, mas, invariavelmente, a quase totalidade das empresas que padecem na luta pela sobrevivência, sangra em dívidas dolorosas e de difícil solução.

Não basta planejar estratégias de crescimento, de atuação no mercado e do diferencial dos produtos e serviços. Há que se planejar, também e fundamentalmente, a estratégias e as ações operacionais necessárias à estabilidade financeira do negócio, a fim de que as armadilhas do otimismo exagerado, assim como as do desconhecido e do inesperado, não surjam como sérios obstáculos de percurso, levando a empresa aos labirintos dolorosos do crescente endividamento que, normalmente, pode nocautear os mais promissores empreendimentos.


Roberto A. Trinconi
CEO
EdgerSense Consulting
The Business Management Intelligence Company
Autor: Roberto A. Trinconi


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