Baleias x Sereias - o que preferir?



Nesta semana fui até uma Barbearia próxima da minha residência com a finalidade de cortar o meu cabelo. Afinal cuidar da aparência sempre faz bem. Assim, ao adentrar no referido estabelecimento, fui prontamente informado que havia cinco clientes na minha frente, mas como não estava com pressa resolvi esperar.
Como não havia nada para fazer peguei algumas revistas e jornais que estavam numa mesa e comecei a ler. A Leitura estava demasiadamente chata, mas continuei lendo assim mesmo. Dizem que um bom leitor é aquele que devora tudo. Contudo, quem lê muito sem nenhum critério de qualidade, corre o risco de que o objeto devorado cause uma bela “dor de barriga”. Porém, essa é outra história!
À medida que o tempo passava, ficava mais entediado com a minha leitura, pois os temas tratados naquele jornal não me interessavam em nada. Segundo Mario Quintana, analfabeto é precisamente aquele que, sabendo ler, não lê. Que vergonha a minha, mas eu naquele momento estava sendo um analfabeto. E assim como todo analfabeto metido a leitor, comecei a observar as figuras e fotos contidas nos jornais e revistas. Numa das revistas havia uma propaganda que me chamou bastante a atenção. Era de um produto de emagrecimento destinado ao público feminino, o slogan dizia: “Não seja uma Baleia, seja uma Sereia”
Num primeiro momento, a propaganda cumpria com o seu objetivo, isto é, assustar o leitor, fazendo-o crê que o ideal e “ter” ou “ser” uma sereia. Desta forma, a cultura ocidental acaba por prezar pelas “sereias” e quem não se enquadra no perfil é excluído. O corpo sarado, a barriga tanquinho e as coxas grossas são valores advogados por quase todos. Por esse motivo, as protagonistas dos folhetins são sempre magras. Portanto, a mulher que tem um excesso de peso não se percebe na Televisão, porque a imagem de beleza socialmente aceita é de mulher alta, cabelos longos, olhos claros, bumbum “M” de Melância, seios fartos e, sobretudo, ser magra. Algumas pessoas podem até discordar da minha fala, contudo é só abrir qualquer revista de moda feminina e vocês perceberão que as modelos que ilustram essas campanhas têm essas características. Estas profissionais acabam sendo como uma bússola, “elas” que dão a direção, portanto, quem quer ser “bonita” precisa ser igual a elas. Para isso, vale tudo! Botox, bulimia, dieta da lua e cirurgia etc.
Agora o ponto nevrálgico em questão é que ao transitar por qualquer centro urbano, o que se vê é bem diferente, pois há uma variedade extraordinária de cores e formas que quase não são contempladas pelas revistas/jornais. As pessoas seguem um padrão de beleza que só existe, porque somos consumidores e divulgadores passivos disto, e acabamos, por fim sofrendo muito com isso. E enquanto sofremos um grupo pequeno, porém, expressivo economicamente ganham lucros com tudo isso, não é por acaso, que a Indústria da beleza vem crescendo muito ao longo dos tempos.
Vamos retornar à gênese deste meu texto, o Slogan que dizia: ”Não seja um Baleia, seja uma Sereia” Gandhi dizia: “O que pensas, passais a ser”. Ora, se acreditarmos indubitavelmente que o “legal” é “ser” ou “ter” uma Sereia, o que pensamos pode tanto afetar a emoção, infecta a memória e gera concomitantemente inúmeras misérias psíquicas. Nós materializamos os nossos próprios Anjos & Demônios, e costumamos ser severos com os demônios (Baleias) em beneficio dos anjos (Sereias). Mas, como dizia Nietzsche: “Não existe fato, o que existe são interpretações acerca do fato” e é isso que me proponho, ou seja, suscitar outra interpretação acerca destes personagens: Baleia x Sereia. Todavia, sairei em defesa da personagem Baleia e deixarei que a Mídia advogue a favor das Sereias, premissa esta conhecida e divulgada por todos.
As baleias são mamíferos de sangue quente que respiram ar. Elas são criaturas pacificas e brincalhonas e que tem alto nível de inteligência. Já as Sereias são seres mitológicos, parte mulher e parte peixe. Portanto, se elas existissem realmente não sairiam do analista, pois viveriam em eterno conflito de identidade. Sou peixe ou mulher? As baleias são reais, elas respiram oxigênio, e dão à luz a filhotes bem desenvolvidos, que crescem sendo amamentados pelas suas mães. O período de gestação é bem longo. Normalmente, um filhote nasce a cada um ou dois anos e requer mais de um ano de cuidados maternos, antes de poder sobreviver sozinha.
Segundo algumas descrições céticas, as sereias tinham um tamanho monstruoso, apresentando quase dezoito metros de altura. Tais lendas diziam também que as sereias só apareciam para seduzir os homens, a fim de, conduzi-los a morte. Na antiguidade, as sereias eram também invocadas no momento da morte, por isso, muitas estátuas que as representavam eram encontradas nos sepulcros. Dentro de suas peculiaridades genéricas estariam o dom da profecia, que lhes permite proferir maldições, a sugestionabilidade de sua voz, que lhes permite hipnotizar.
Ao contrário de tudo isso as baleias não fazem mal a ninguém. Estudos sobre baleias já revelaram um comportamento social bastante desenvolvido. Algumas espécies formam grupos com forte organização social, nos quais os indivíduos alimentam-se juntos e protegem os jovens doentes de forma coordenada e bastante elaborada. Elas têm excelente memória e isso evidenciado nos seus padrões migratórios.
Em suma, temos o livre arbítrio de escolher o que achamos mais conveniente para as nossas vidas (sereias x baleias). Entretanto, temos que ter cuidado em nossas escolhas, porque nem tudo que reluz é ouro. Precisamos resolver os nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta (Foucault, 1998). O desejo de ser livre nos ajuda a superar esses monstros, vencê-Ios e utilizá-Ios como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-Ia, criticá-Ia, usá-Ia.
Autor: wagner oliveira


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