Crescer sem planejamento ou não crescer



Crescer sem planejamento ou não crescer?

Riscos de empresas que trocam o foco da qualidade pela produtividade e crescimento sem planejamento

Por Marcos Falcon *

Apesar da volatilidade da economia mundial, quer seja por fatores reais ou simplesmente especulativos, o Brasil está passando por um de seus melhores momentos das últimas décadas, o que é resultado de uma política econômica conservadora sustentada no rigor de sua política monetária.
Neste cenário, é comum vivenciarmos “booms” de crescimento em determinados setores da economia que se destacam. Podemos citar o mercado de crédito, que apresenta crescimento significativo em determinados nichos, como ocorreu recentemente com a expansão dos cartões de crédito, com o crédito pessoal, o crédito consignado e, no momento, ocorre com o crédito imobiliário.
No que se refere a este crescimento no crédito, principalmente o destinado ao consumo, o crédito massificado, vimos que os bancos e suas financeiras saíram atacando o mercado de forma galopante quando a taxa de juros ainda estava elevadíssima, apesar de apontar para uma curva descendente. A concorrência desenfreada tapou os olhos dos profissionais do setor, que, empunhando suas espadas, gritavam para toda a equipe: “Temos que produzir”, “O importante é produzir”, “Conquistar market-share”, “Vamos botar para dentro a qualquer custo”. Pergunto: e a qualidade?
Será que estes executivos não sabiam do risco que estavam correndo? Será que eram ingênuos e superestimaram a capacidade de pagamento do tomador de crédito de baixa renda? Claro que não. Eles tinham nas mãos fantásticas ferramentas de modelagem de dados: os “infalíveis” sistemas de “escoring”, e já haviam embutido nas taxas as expectativas da inadimplência.
E qual foi o resultado da corrida desenfreada pela oferta do crédito? Um dos maiores índices de inadimplência já experimentados pelo segmento, bem acima daqueles que foram inseridos na composição do preço. Fortunas foram provisionadas na forma de PDD (provisão para devedores duvidosos). O problema só não foi maior pelo fato de que os bancos no Brasil alcançam resultados fantásticos não só na intermediação financeira, mas também em suas tarifas de prestação de serviços. Aqueles bancos mais bem administrados estão dando a seus acionistas um retorno sobre o patrimônio na ordem de 25% a 35% ao ano. Será que existem negócios legais com maior retorno? Talvez alguns poucos.

Nas pequenas e médias empresas
Utilizei acima o exemplo dos bancos, pois, no momento, estão entre os segmentos de maior competitividade no mercado brasileiro. A grande preocupação, no entanto, está nas pequenas e médias empresas, que querem aproveitar estes picos de crescimento da demanda e saem de forma empírica na busca pelo crescimento e produtividade sem o menor esforço de planejamento e organização.
Sem noção clara do custo de produção, vendem a qualquer preço aquilo que têm e também o que não têm. Entregar? Bem, isto é outro departamento, agora não podem perder a oportunidade de mercado. O cometa vai passar e temos que montar em sua cauda.
Por ser chamado como consultor para atender a empresas que estão vivenciando a experiência que acabo de descrever, percebo a preocupação de seus donos e sócios que direcionam grande parte de suas energias apagando incêndios gerados pela falta de entrega ou pela péssima qualidade do que está sendo entregue.
Estão perdendo imagem junto ao mercado, perdendo clientes, perdendo dinheiro e se perdendo.
Concluindo, independentemente de se tratar de uma empresa de grande ou médio porte, ou ainda um pequeno empreendedor, é preciso, sim, aproveitar as oportunidades de mercado. Nos momentos certos, temos que ser ágeis e agressivos, pois não existe espaço no mundo atual para empresas lentas em seus processos decisórios. Mas isto não quer dizer que, para sermos rápidos e produtivos, devemos deixar de lado o planejamento de qualidade, a organização e a gestão de pessoas e processos.
Não existe mais espaço no mercado para ações amadoras. O preço a ser pago para competir e se posicionar é o da qualidade que vem a reboque do profissionalismo da gestão.
Sem planejamento, organização, gestão e profissionalismo, posso afirmar que a velocidade do crescimento e o aumento de produtividade de um negócio é diretamente proporcional à velocidade de sua queda, do prejuízo gerado e de sua saída de mercado.

* Marcos Falcon é sócio-diretor da Data Falcon Assessoria, empresa especializada em diagnóstico empresarial e departamental, revisão de processos, recursos humanos e que também desenvolve treinamento técnico e comportamental com foco no mercado financeiro.
Administrador de empresas, Marcos Falcon tem mais de 37 anos de experiência em gestão e desenvolvimento de projetos administrativos e de RH.

Contatos: [email protected] - (11) 5533-1738 - (11) 9997-2112. Blog: http://blogdofalcon.blogspot.com
Autor: Marcos Falcon


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