Bom e o Mau um convite à reflexão



Estou sem postar há algum tempo e procurava um tema que me motivasse a escrever quando li uma matéria sobre a violência, este mal que assola a sociedade moderna, e sobre sua banalização. Este artigo conduziu-me de volta ao passado de minha juventude, quando filosofar era o orgasmo de nossas noites de boteco, e lá um dos temas preferidos sempre foi a eterna batalha entre o bem e o mal.
Este tema é constantemente abordado e está presente no cotidiano de nossas vidas, quer seja no cinema, na televisão, nos livros, na religião, nas opções políticas... enfim, sempre existe o mocinho e o bandido, a vítima e o vilão, o santo e o pecador, o anjo e o demônio.
A proposta deste artigo é convidar os leitores a filosofar, pois “viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir”, palavras de René Descartes.
Historicamente somos levados a raciocinar de forma ortodoxa, pois em termos didáticos é mais fácil mostrar as diferenças pelo uso de estereótipos extremos, como certo e errado, alto e baixo, gordo e magro, bom e mau, bem e mal, sim e não. Na verdade, entre estes extremos existe um universo de colocações que, dependendo da escala, pode tender ao infinito. Certamente o mundo seria mais fácil de ser entendido e gerido se fosse preto e branco, porém seria “um mundo quase cão, onde viveriam um ou outro idiota sem o senso da razão” (Dirceu Herrera, poeta).
A idéia de bem e mal pode estar atrelada ao conceito do equilíbrio entre forças, conceito este que seria necessário para gerar a harmonia existencial; não existiria o conceito de bom sem que houvesse o de mal. Estes contrapontos são fundamentais e essenciais para a construção de pensamentos e opiniões e funcionam como o “bit” positivo e negativo na codificação binária das informações. Aqui cabe perguntar se a existência do mal é boa.
Não, não é trocadilho, é realmente uma questão que deve ser analisada. Não quero dizer que o mal é bom, e sim que pode ser uma conseqüência ou até mesmo pré-requisito para que os dois possam existir.
Existe o bem ou o bom entre os maus?
Suponha que você é integrante de um grupo terrorista que mata milhares de pessoas apoiados por uma causa religiosa ou política, e que entre eles exista um comandante altamente competente. Este comandante é realmente bom no exercício de sua função, sendo idolatrado por seus comandados por ser uma pessoa justa e compreensiva na relação com seus subordinados (boa). Como você julgaria este homem, estando na posição e pensando como um de seus subordinados?
O bem e o mal, ou o bom e o mau, são relativos? Dependem da posição ou da lente de quem os observa e classifica?
Estes conceitos de bom e mau já não mais existem na filosofia moderna, em que alguns pensadores tratam o tema do ponto de vista do julgamento ou avaliação de atitudes e comportamentos que não necessariamente devem ser classificados como sendo bons ou maus. Para eles, é necessário a “desconstrução” daquilo que se está analisando para entender de forma verdadeiramente empática às razões, os valores e crenças que levaram o agente àquela atitude. Nietzsche aborda com maestria este pensamento em suas obras “Genealogia da Moral” e “Para Além do Bem e do Mal”.
“Segundo Nietzsche, a verdade e a falsidade não mais existem, o homem está destinado à multiplicidade, pois tudo é interpretação. Como toda interpretação é perspectivista, isto é, relativa a um certo nível de potência, o bem e o mal seriam relativos, válidos para as relações de poder estabelecidas; desse modo, os valores estariam para além da moral, pois seriam compostos pelas relações de poder estabelecidas entre os seres humanos. Dessa forma, suas afirmações devem ser tomadas como um ‘instrumento’ que serve para demarcar as possíveis interpretações de mundo, e não como uma verdade”.
Imagine a existência de uma tribo isolada onde matar e comer o filho primogênito, quando este atinge um determinado tamanho, é parte da cultura, pois se acredita que este filho, sendo digerido, literalmente passa a integrar o corpo e o espírito daqueles que o devoraram, e assim será transmitido entre as gerações e terá uma vida eterna. Para este filho, é um orgulho ser o primogênito e ser devorado, pois entende ser um privilegiado por ser eternizado. Neste caso, teríamos o direito de intervir para evitar que cometam esta “maldade”, segundo nossos valores e crenças?
O ato dos pais e familiares que matam e devoram o filho, neste contexto, é bom ou mau? Ou neste caso este conceito não é aplicável?
Temos o direito de prejulgar um pai que mata a filha e atira pela janela, simplesmente qualificando-o de culpado ou inocente, bom ou mau?
Nós somos bons ou maus pelo fato de amarmos acompanhar estas notícias na televisão e jornais como se fossem uma novela de ficção?
Hoje eu ouvi a seguinte definição: “O mal é a total ausência do amor”.
Embasado nesta afirmativa, podemos concluir então que “o bem é o amor total”.
Cabe agora “desconstruir” e “reconstruir” o conceito de amor para entendermos melhor este pensamento.
Já dizia um filósofo que morreu há 2008 anos atrás “Ame o próximo como a ti mesmo”
Vamos fazer uma reflexão a respeito. Fica aqui uma lição de casa para aqueles que se interessarem por este tema.
Autor: Marcos Falcon


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