Os verdadeiros deuses



Como a vida é uma sucessão de aprendizados, assimilei há poucos dias uma concepção mais aprimorada da importância dos professores em nossa vida, quando tive uma reflexão sobre tudo aquilo que eles nos dedicam. Cheguei à conclusão de que o professor, falando genericamente, merece mais admiração e reverência vinda de mim ainda do que aquela que eu já presto. Nunca é demais honrar aqueles que, ao lado dos nossos pais, dos amigos verdadeiros e do companheiro(a), são os nossos verdadeiros deuses, em homenagem a quem escrevo este artigo, recheado de amor, consideração, admiração, inspiração e respeito. Para alguém que considera que a educação deveria ser tratada com muito mais respeito do que é hoje, dedicar-lhes um artigo no Dia dos Professores é não um fardo, mas um compromisso sagrado.

Lembro, com amor, da dedicação desses verdadeiros heróis em me proporcionar conhecimento e formação. Ênio, Osvaldo Girão, André, Viriato, Falcão, Mardock, Osvaldo Braga, Mécia, Rita, Marília, Marcelo, Carlos Alberto, Francisco Granata, Daniella, Roberta... É uma pena não pôr todos os que já tive, então pus os que mais admirei, até porque invariavelmente sempre há aqueles que admiramos mais. Entre esse panteão, que me perdoem os já citados e os não-citados, mas ponho uma menção honrosa apaixonadamente dedicada a dois que foram ainda mais especiais: Roberto Falcão, professor meu de português no pré-vestibular por dois anos seguidos, e Daniella, professora de inglês que nos menos de dois meses em que me ensinou conseguiu me encantar profundamente como poucos outros mestres conseguiram em minha vida.

Falcão, com quem tive o prazer e a honra de estudar em 2004 e 2005 e ver umas poucas aulas como visitante em 2008, é um caso de alguém que ensina duas coisas quase simultaneamente: português (ou literatura) e cidadania. Seus momentos que ele chama de bate-papos são instantes de reflexão cidadã, de conscientização perante muitos dos problemas e contradições da sociedade e do mundo. Posso comparar cada aula sua, por que não, àquela Última Lição dada pelo saudoso Randy Pausch, com o diferencial de que Falcão dá as suas todos os dias. Creio religiosamente que, se ele gravasse DVDs com suas lições de consciência, causos e contos filosóficos, os mesmos venderiam como água. Nunca é demais declarar que foi ele que me inspirou e inspira a escrever artigos orientados pelo objetivo de intervir na míope visão de mundo adotada pela maioria da sociedade. Objetivo esse que, desde o ano em que eu nasci, ele também leva adiante. Digo com sinceridade que, se ele tivesse algum tempo livre disponível para prestar ensinamentos extraclasse aos seus alunos e ex-alunos, eu me posicionaria como seu discípulo mais devotado.

Daniella Marinho, ah... Um encanto único, um sol vermelho (estranhamente essa é a cor que mais a lembra ao meu ver) que brilha e proporciona um bronze irremovível aos seus alunos. Como resumir as qualidades dela em um parágrafo? Linda, dedicada, atenciosa, sorridente, gentil, carinhosa, carismática e trinta adjetivos positivos mais, seu jeito de dar aula a faz ser avaliada pelo aluno como excelente em menos de uma semana e inesquecível em menos de um mês. Ah as “conversations”... “Helloooo!” “Moneyyyy!” “Annnd!” E a Hot Chair! Ninguém, ninguém mesmo, escapa da ao mesmo tempo tão temida e tão amada Hot Chair! Ao ter deixado sua sala de aula, me deu ao mesmo tempo uma tristeza por não tê-la mais como atual professora de inglês e um ligeiro alívio por não correr mais um sério risco de me apaixonar por alguém que me disse que já é comprometida (risos). É uma pena e pesar do tamanho da também estrela vermelha Antares que ela foi aquela que me ensinou por menos tempo em toda a minha vida. Ao namorado ou noivo dela, peço que não pegue ar comigo por esta menção dedicatória, porque esta é uma admiração como aluno muito grato e, se pudesse manter contato regular, como possível amigo.

Também sinto a pulsante honra de citar outros dois que também me foram magnânimos: um é Osvaldo Braga, o Humorista da Biologia, que põe quase todos os humoristas vivos do Brasil no chinelo quando mostra o seu jeito sem igual de expor assuntos que normalmente soariam chatos, insossos e quase intragáveis. O mais impressionante é que ele divide com uma maestria idem, nos momentos certos, a seriedade e firmeza e a irreverência e descontração, com o equilíbrio de um Yin-Yang. E o outro é José Carlos Mardock, também irreverente, muito brincalhão e dono de uma oratória muito potente. Esse sabe transformar o ensino de História num show e toca o melhor do lado passional da pessoa. O resultado dessa miscelânea são miríades de alunos apaixonados pelo seu irreprodutível jeito de ensinar, se não pela própria História à qual ele dá um toque mágico e gostoso.

Como deu para perceber e cada pessoa vivencia ao longo de sua vida estudantil, não existem dois professores iguais. A qualidade pode ser comparativamente igualada, mas seu jeito como pessoa e professor nunca encontram semelhantes totais. E digo isso também quando reflito sobre o carinho que cada um deles reserva e dedica aos seus alunos. Mestres como Daniella, Falcão e Osvaldo distribuem de maneira quase uniforme, mas nunca frio ou insincero, seu amor para os alunos (por favor, não pense que um carinho quase uniforme é algo desprovido de amor legítimo e reconhecimento de personalidade!), do tipo que atrai para si a simpatia e aproximação dos alunos que mais os admiram. Já outros, como Mardock e minha atual professora de inglês Roberta Luigi, preferem tratar cada aluno de maneira singular, considerando um tanto mais as características da personalidade de cada um de seus alunos durante suas aulas, prestando um carinho personalizado por seus pupilos. É absurdo dizer que os segundos amam seus alunos mais que os primeiros, mesmo que alguns pensem assim.

De carinho em carinho, eu cultivei um tratamento especial e personalizado para os grandes mestres de minha vida. Aos que prezam mais pela excelência, firmeza e seriedade saudável, trato com reverência e me porto quase como um discípulo. Já aos que adotam maneiras divertidas, irreverentes e inovadoras de ensinar, dedico camaradagem e uma recíproca e respeitosa irreverência – em outras palavras, trato-os como amigos de happy-hour. Para todos, sem exceção, o carinho e o elogio sincero são absolutamente indispensáveis. Mas com todo o cuidado de não parecer estar os adulando, bajulando, puxando o saco. Já dizia Dale Carnegie que é imprescindível ser sincero na sua aprovação e pródigo no seu elogio, e é sempre pertinente considerar que a adulação é algo ridículo e dela pouquíssimas pessoas notórias gostam. A admiração honesta é a maneira certa de se tratar aqueles professores que mais me cativaram. Eles são meus verdadeiros deuses, mas tenho consciência de que sua veneração veda totalmente o louvor em forma de puxação de saco.

Algo evidente é que nem todos devem se portar do mesmo jeito. Seguir sua personalidade ao prestar uma admiração legítima é a dica magna a todas as pessoas que têm ou já tiveram professores dignos de grande apreciação. Não é todo mundo que tem a mesma reverência por certos professores. Gente que segue o comportamento parecido com o daqueles “heróis tardios” dos animes japoneses, rebeldes e inimigos da “veneração”, não costumam chegar perto de seus professores para iniciar uma conversa demonstradora de carinho. A essas pessoas, deve haver um jeito personalizado de prestar ao menos a gratidão aos mestres sem, nas palavras delas, “ajoelhar-se” perante eles. Não sou a melhor pessoa para determinar um método “mais recomendado” para o tratamento deles, nisso fica a sugestão de que cada um desenvolva sua maneira, a mais adequada possível à sua personalidade, de demonstrar essa admiração.

Agradeço de coração e cérebro a todos esses grandes mestres que edificaram minha pessoa e me puseram num caminho promissor e esperançoso. E peço desculpas àqueles que de alguma forma, ao longo de minha vida, eu machuquei ou desprezei. Sou eternamente grato a todos esses que me foram verdadeiras divindades provedoras de sabedoria e conhecimento. E, por que não, agradeço também aos que, através dos livros que escreveram, também exerceram de certa forma o papel de mestres em minha vida: Dale Carnegie, Sensei Jorge Kishikawa, Lair Ribeiro, Andrew Matthews, Carl Sagan, Alberto Montalvão, Richard Dawkins e diversos outros nomes. Um artigo é insuficiente para expor todo o meu carinho por todos, mas é o mínimo que eu poderia fazer para prestar essa homenagem. Mestres, tenham um felicíssimo Dia dos Professores e que sejam honrados por seus pupilos da melhor forma possível!
Autor: Robson Fernando


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