Canta Brasil



“Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção”, o conselho dado por Caetano Veloso em “Língua”, serve como exemplo do amor do povo brasileiro pela música.

Que País possui uma variedade tão grande de estilos e ritmos? E em que outro ela está tão presente no cotidiano?

A vida do brasileiro possui trilha sonora. Depois da efervescente “era do rádio”, a nossa época de ouro, não há momento da nossa História que não tenha uma música que o marque. Da eleição de Vargas ao enterro de Juscelino; do Golpe “militar” ao movimento pelas diretas; da Copa de 58 ao penta de 2002; tudo tem a sua trilha, tudo é representado por alguma canção.

O Brasil do mangue beat e da timbalada; dos choros, cirandas, marchinhas, frevos, cocos, baiões, partidos-alto, maracatus atômicos e bossas sempre novas. Do Abril pro Rock e do Free Jazz. Do Bumbódromo e do Sambódromo. Das batidas urbanas e da batida perfeita. O Brasil tropicalista. Um caldeirão de influências, tendências e - por que não? - idéias incríveis.
“Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval.” (Oswald de Andrade/Manifesto antropófago).

É na mistura de ritmos, na modernista antropofagia musical que revelamos a nossa identidade, que mostramos a nossa cara. Um País mestiço com uma música mestiça. O mundo inteiro está na música popular brasileira, assim como nas nossas cidades. Mas, essa absorção não resulta em confusão, ela fabrica a unidade. Uma singularidade que aproxima e distingue. Não é européia, nem oriental, nem africana e nem de nenhum outro lugar da América: é brasileira. Sem siglas nem chauvinismo.

Como definiu Mario de Andrade, a música popular brasileira é a mais completa, mais totalmente nacional, mais forte criação da nossa raça (entenda-se, o povo brasileiro).
“Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português.” (Noel Rosa/ Não tem tradução).

E mesmo com todas as tentativas torna-la caricata ou deprecia-la, ela resiste nas pontes de Pernambuco, nas vitrines do Rio, nas chalanas do Mato Grosso, nos manos de São Paulo, nos clubes e esquinas de Minas, nas praças da Bahia, nos uirapurus da Amazônia. Do Oiapoque ao Chuí, é a música que sensibiliza, orienta e influencia a vida de nossa juventude. Nossa filosofia, sociologia, nossa maneira de nos vermos e ao mundo, tudo é traçado pelas nossas canções. É a música, junto com o futebol, que impede que as nossas barreiras sociais se transformem definitivamente em castas. É nela que a juventude carente de Estado e História se agarra para não submergir.

Nossa música está nos palanques e nas sociedades alternativas, nas rosas e nos serrados, nas procissões e nas torcidas organizadas, nas curvas das estradas e nos vilarejos, nas cozinhas e nas salas de recepção, em Angola e Montreux. Ela foi a grande estrela televisa na época da popularização dessa e hoje as telas de cinema, que já tiveram seu auge com os músicais, biografam nossos compositores.

É a força dessa música que faz os movimentos sociais agarrar-se aos compositores (como os estadunidenses agarram-se aos produtores de cinema) e dá a todo bom letrista o nome de poeta (Chico Buarque, Cazuza, etc.) ao mesmo tempo em que transforma grandes poetas em letristas (Vinícius de Moraes, Torquato Neto, Capinam, Cacaso e outros). Por sua espontaneidade e competência nossos músicos, e aqui é necessário destacar que não somos um país imperialista, são reconhecidos e requisitados no mundo inteiro. De Cesária Évora a Diana Krall, de Ryuch Sachamotto a David Byrne, músicos de todo o mundo não cansam de render homenagens à música brasileira e seus profissionais.

Todo brasileiro é um músico em potencial; por perceber isso é que o maestro Heitor Villa-Lobos fez tanto para que a música fosse valorizada na educação formal e chegou a dizer que todos os problemas sociais do nosso País seriam resolvidos com a formação de um grande coral. Se hoje a música não faz parte da grade de ensino dos nossos colégios, trata-se de mais uma deficiência do nosso sistema educacional.

O Brasil ama sua música. E será nas lições musicais, das harmonias dissonantes, que construiremos a melodia de nossa democracia social. Uma aquarela de diferenças que se aglutinam e formam uma unidade.

E aí então, para alegria de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Brasil merecerá o Brasil.

Autor: Leandro Rodrigues


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