A vegetarianização não pode ser “revolucioneira”



Todo aquele que entende de Ciências Sociais, História e outros cursos afins sabe que a maior parte da massa estudantil atualmente adepta de movimentos de juventude socialista carece de maturidade política e senso crítico perante aquilo que pregam. Embora intencionando o melhor para o povo mais sofrido, lançam-se em compor trabalhos de caráter muito passional e até caricato, verdadeiras pérolas “revolucioneiras” que resultam em as pessoas não levarem nada da panfletagem vermelha a sério. Paralelamente, o movimento brasileiro de propagação do vegetarianismo, ainda estando em sua infância, vê o risco de em breve uma quantidade significante de seus seguidores repetirem, ainda que em menor escala, os erros da “meninada rubra”, comportamento que termina dando também à perspectiva futura da prevalência vegetariana ares de uma também utopia ignorável. Merece ser explicado em que partes há grande risco atualmente de se repetir as falhas do revolucionismo imaturo dos que eu chamo de “ideoposers”, posers da ideologia vermelhinha, e como evitá-las.

A primeira questão, o romantismo de convicção ideológica, felizmente é pouco relevante entre vegetarianos militantes, uma vez que a assimilação das questões animais acontece normalmente por informação e consciência em vez de panfletagem apaixonada tocante a desejos e sentimentos coletivos. Minha experiência em comunidades virtuais de alimentação sem exploração e crueldade, comprovando esse fator, detectou muito menos gente motivada no ativismo por emoções do que nas fileiras juvenis socialistas. Mas requer uma certa atenção de nossa parte porque, cedo ou tarde, os passionais terminam aparecendo, cultivando o pensamento de que o Brasil e o mundo deixarão de consumir alimentos de origem animal mas sem se submeter ao trabalho de pensar ou participar do planejamento de como isso vai ser alcançado, como a pessoa poderá contribuir além de por ter abandonado ela mesma o consumo de produtos cruéis. Todo aquele que se torna vegetariano e dá os primeiros passos no combate à exploração animal deve atentar-se para usar o coração apenas para cultivar o carinho pelos animais não-humanos e o cérebro para todo o restante do pensamento libertador.

O pensamento romântico de “revolução” não é característica da maioria dos vegetarianos e veganos, mas é infelizmente freqüente a defesa de idéias inverossímeis e radicalescas que tornam o ideal de livrar os bichos das granjas e matadouros algo desprezado ou ao menos não aceito pelas pessoas comuns. Pesam para uma boa quantidade – não são todos, por favor! – a linguagem impropriamente agressiva usada na abordagem dos onívoros, como chamá-los de comedores de cadáveres e tachar insistentemente defensores animais não-vegetarianos de hipócritas, lembrando de alguma forma os impropérios generalizantes contra as classes alta e média-alta, e as propostas altamente rejeitáveis, como o sufocamento de empresas de carne e laticínios por inanição financeira – a saber, a principal utopia de muitos –, mesmo aquelas que, uma vez que já fabricam produtos vegetais baseados em soja, poderiam ajudar na propagação da alimentação livre de crueldade e ser convertidas com o tempo e a mudança das demandas, tais como Perdigão e Batavo. É aqui que a emoção, em forma de desejo de vingança, em detrimento do pensamento racional toma ares de ameaça ao andamento dos movimentos vegetarianos. Não é de surpreender que uma corrente de pensamento com muitos seguidores que pregam a superioridade moral de si mesmos e a falência de certas empresas a despeito de questões de desemprego ou mudança de ramo esteja sendo rejeitada por tanta gente e atacada por reacionários em todo lugar.

Entendemos que o ideal de vegetarianização da sociedade passa muito longe de ser a mesma coisa que o ingênuo pensamento socialista juvenil panfletado nas instituições federais de ensino, mas é bom deixar o alerta de que não repitamos os erros e evitemos utopias óbvias e linguagens impróprias para lidar com quem não assimilou ainda o ponto de vista da salvação dos animais. Empatia, compreensão antropológica – leia-se não julgar a pessoa por causa de sua ignorância ou diferença de pensamento – e compostura são necessários, e desenvolver propostas inverossímeis e até violentas equivalentes à “revolução proletária” atrapalhará muito em vez de ajudar.
Autor: Robson Fernando


Artigos Relacionados


Da Atribuição De Hipocrisia Aos Onívoros Contrários A Abusos Contra Animais

A Escolha Pelo Vegetarianismo

Vegetarianismo Também Pelo Ser Humano: Como Melhorar A Conscientização Persuasiva

Como O Governo Poderá Nos Vegetarianizar No Futuro

Orientação Crítica Aos Ovolactistas Acomodados

Os Maiores Blogs Ou Sites Sobre Vegetarianismo

O Jornalismo Mal-orientado E Seus Riscos De Propagar Desinformação