O FREVO: as características do ritmo e estilo



O FREVO: as características do ritmo e estilo

*Silas Azevedo Ribeiro

Resumo: Este artigo é uma brve exposição das características do ritmo de frevo. Falaremos de seu nascimento nas ruas de Recife, das influências primordiais para a consolidação do estilo. O artigo possui um capítulo que explica a escplha do nome “frevo”. Falaremos, também, sobre os tipos de frevo. Para concluir, o trabalho expõem um relatório das técnicas empregadas para a realização do arranjo Luizinho do Frevo.



Palavra-chave: Frevo. Ritmo. Estilo











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* Pós graduando em Especialização em Teoria e Prática da Interpretaçao Musical
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1. INTRODUÇÃO


O frevo é um ritmo pernambucano que surgiu da interação entre músicas e danças folclóricas, no final do século XIX, em Recife durante a comemoração do carnaval. O nome frevo veio bem depois do ritmo já consolidado. Muito depressa esse ritmo começou a se desenvolver conquistando todo Brasil. Hoje em dia, muitos instrumentos que eram incomuns naépoca começaram a ser introduzidos no estilo, como por exemplo a guitarra. Os guitarristas tiveram que desenvolver uma linguagem muito peculiar para adaptar as linhas que foram escritas para outros instrumentos.


2. O DESPERTAR DO FREVO

O Frevo é um ritmo pernambucano, é uma dança carnavalesca própria, original, nascida do povo. Surgido no Recife no final do Século XIX e é, sem sombra de dúvidas, uma das criações mais originais dos mestiços da baixa classe média urbana brasileira, na sua maioria instrumentistas de bandas militares – tocadores de marchas e de dobrados , ou componentes de grupos especialistas em música de dança do fim do século XIX – tocadores de polcas, tangos, quadrilhas e maxixes como disse Tinhorão1. Na verdade, o frevo é um amálgama destes gêneros musicais. A marcha e a polca não tinham introdução, assim começou a ser estabelecida as diferenças do frevo: introdução sincopada, com quiálteras.



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1 TINHORÃO, Jose Ramos. Pequena história da música popular brasileira. Pág. 137

Desta forma concluímos que assim como o maxixe, o frevo surgiu da interação entre a música e a dança. “O frevo fixou sua estrutura numa vertiginosa evolução da música das bandas de rua, de inícios da década de 1880 até aos primeiros anos do século XX”. (TINHORÃO, 1978)
Os estudiosos do frevo são unanimes em concordar que a origem dos passos se deu pela presença de capoeiras nos desfiles de bandas musicais militares, no Recife no final do século XIX. Acontece as bandas militares que também acompanhavam os desfiles das agremiações carnavalescas, e no meio dos foliões que brincavam o carnaval estavam os capoeiras disfarçando as manobras da luta marcial em gingas mais leves, aparentemente inofensivas. Como esses capoeiristas eram perseguidos pela polícia, precisavam de disfarces para acompanhar as bandas, agora nos clubes. Desta maneira, os passistas modificaram seus golpes ao acompanhar a música, assim surgiu o “passo”. Trocaram suas antigas armas de defesa pelos símbolos dos clubes. A sombrinha toda colorida é um exemplo de uma estilização utilizada inicialmente como armas para ataque e defesa, já que a prática da capoeira estava proibida. Podemos dizer que hoje em dia é o ornamento que mais caracteriza o passista e é um dos principais símbolos do carnaval de Pernambuco. Era de costume cada banda de música tomar partido entre os capoeiristas. Não apenas torcer, mas acompanhá-las pelas ruas, e brigar por elas.


O costume de valentões abrirem caminho de desfiles gingando e aplicando rasteiras sempre fora comum em outros centros urbanos, como o Rio de Janeiro e Salvador, principalmente nas saídas de procissões. No caso especial do Recife, porém, a existência de duas bandas rivais em importância serviu para dividir os capoeiras em dois partidos. E estabelecia essa rivalidade, os grupos de capoeiras começaram a demonstrar as excelências da sua fragilidade à frente das bandas do Quarto e do Espanha*, aproveitando o som da musga para elaborar uma complicada coreografia de balizas, uma vez que todos usavam bengalas ou cacetes da duríssima madeira de quiri. (TINHORÃO, 19782).

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2 TINHORÃO, Jose Ramos. Pequena história da música popular brasileira. Pág. 137
Tinhorão descreve que a partir da década de 1880 a música de rua do Recife deixou de ser fornecida apenas por bandas militares, segundo ele, nesta década surgiu as fanfarras a serviço de humildes trabalhadores urbanos3. As fanfarras eram constituídas por instrumentos de metal, pela velha tradição bandística do povo pernambucano. Os compositores adicionaram à fanfarra o caixa (tarol) que sustenta o ritmo o tempo inteiro, com a finalidade de controlar a multidão incontrolável. Desenvolveram, também, artifícios que levaram o frevo a desdobrar-se em subgêneros.
Assim nasceu um espírito de criação espontânea, pois os músicos se viram livres, não existia mais a obrigação de se prender a dobrados, e hinos marciais. Os músicos anseavam por mais animação, músicas mais vivas, impetuosas, mais barulhentas. Então, quando menos se viu, a música já tinha ganhado características próprias. A denominação “frevo” veio muito tempo depois da sua criação.
O frevo completou cem anos, em fevereiro. Porém, a data que foi oficializada teve como referência a primeira vez que a palavra frevo foi divulgada na imprensa, em nove de fevereiro de 1907. Porém, como falamos, no capítulo anterior, que fala sobre o despertar do frevo: o nome frevo veio muito tempo depois do nascimento da dança. Da criação da música até seu batismo demorou bastante, imagine até a primeira divulgação na mídia. Naquela época o frevo não era ainda considerado como um gênero musical, mas sim folia, rebuliço, multidão “freveno”, ou seja, fervendo nas ruas.





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3 TINHORÃO, Jose Ramos. Pequena história da música popular brasileira. Pág. 139

3. A DENOMINAÇÃO “FREVO”

A palavra “frevo” vem da da linguagem simples do povo: “eu frevo todo.” Querendo dizer que ferve todo ao ouvir essa música. Ferver ou frever está no sentido de efervescência, agitação, confusão, rebuliço; o apertão nas reuniões de grande massa popular no seu vai-e-vem em direções opostas, como o carnaval, de acordo com o Vocabulário Pernambucano, de Pereira da Costa. A palavra ferver, também pode ser porque o estilo da dança faz parecer que abaixo dos pés das pessoas exista uma superfície com água fervendo. Este estilo pernambucano de carnaval é um tipo de marchinha bastante acelerada, que, ao contrário de outras músicas carnavalescas


4. AS CARACTERÍSTICAS MUSICAIS DO FREVO


Uma das características do frevo é ter o ritmo demasiadamente acelerado, pois, foi certamente uma criação de compositores de música ligeira feita para o carnaval. Os músicos queriam que o povo usufruisse de mais animação nos folguedos. Desta forma, no decorrer do tempo, a música foi ganhando características próprias, acompanhadas por um bailado inconfundível de passos soltos e acrobáticos. Talvez seja a única composição popular no mundo onde a música nasce com a orquestração.
É característica do frevo possuir compasso binário ou quaternário, isso irá depender da composição, de ritmo freqüentemente sincopado, obrigando a movimentos que chegam a paroxismos frenéticos e lembram, por vezes, o delírio. É uma das músicas mais vivas e mais brejeiras do folclore brasileiro. A comunicabilidade que sua música transmite é tão contagiante que acaba por atrair todos que passam, para tomar parte nos folguedos. É uma dança de multidão onde todas as classes sociais se confundem em promiscuidade democrática.


4.1. O RITMO DO FREVO

Como já foi dito, o frevo é um ritmo nordestino (de Recife) que surgiu da interação entre músicas e danças folclóricas, no final do século XIX. Seu carácter instrumental se dá pelo fato dos primeiros grupos terem surgido das bandas militares, por isso era comum usar vários instrumenhtos de banda marcial4. Também por causa da forte ligação com as bandas militares, não apresenta a rítmica muito sincopada nas partes graves. Enquanto nas melodias, comumente são apresentadas várias síncopes e acentuações no contra tempo. O andamento acelerado, como também dissemos, é outra característica marcante do frevo. E quando é mais rápido que o normal chamamos frevoventania. Quando mais lento, chamamos de marcha-rancho, é usado para canções, pois facilita a articulação da letra. É escrito normalmente em 2/4 mas está se tornando cada vez mais comum encontrar partituras em 4/4. Podemos encontrar também o uso de ¾. A melodia é sincopada o tempo todo. A guitarra vem sido utilizada no frevo recentemente. Normalmente é a melodia tocada por uma flauta piccolo com um uso intenso de enfeites e contraponto melódico. O contrabaixo é bem como no jazz “walking bass”, observa-se que as harmonias são bastante simples, geralmente turnarouds.

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4 FARIA, Nelson. The Brazilian Guitar Book. pág. 102

RITMO PADRÃO E VARIAÇÃO DE RITMO NA GUITARRA


Exemplo 1 extraído: FARIA, Nelson. Inside the brazilian rhythm section 2. pág 80.


Exemplo 2 e 3 extraído: FARIA, Nelson. The brazilian guitar book. pág 104.


Exemplo 4 extraído: FARIA, Nelson. Inside the brazilian rhythm section 2. pág. 81.

Como em outros estilos brasileiros, a linha do baixo mantém a ligação entre a tônica e a quinta do acorde. Se já é colocado sobre a 6a corda, você pode manter a mesma nota para toda medida.
Podemos afirmar que a principal característica rítmica do frevo é a figura executada pela caixa e pelo pandeiro. Sobrepondo essas divisões, e somando-as ao bumbo e ao surdo, temos5:

Nesta melodia, por exemplo, não se encontra síncopes de um compasso a outro, mas várias síncopes internas. Além do uso das tercinas, outra característica marcante nesta melodia é o acento no tempo 2, de dois em dois compassos6:

No trecho dessa melodia pode-se notar a presença de várias síncopes, bem como a presença de anacruses e acentos no contra tempo7:

Vale apontar que a divisão começou apoiada nas colcheias a partir da primeira metade do trecho e depois passou a apoiar-se nas semicolcheias, numa espécie de dinâmica rítmica:

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5 ROCCA, E. Ritmos brasileiros. pág. 42
6 Exemplos 6, 7 e 8 foram extraídos de: FORTES, Leandro Rodrigues. A aplicação da rítmica brasileira na improvisação: Uma abordagem sobre algumas possibilidades. pág. 27

“Karatê” – Egberto Gismonti7

Esta melodia, assim como no primeiro exemplo, não apresenta nenhuma síncope de um compasso para o outro, apenas algumas síncopes internas. Existe um detalhe que as semicolcheias sempre aparecem na primeira metade do compasso. Outra coisa interessante é que as semicolcheias quando inseridas num fraseado baseado em colcheias, vêm seguidas de uma síncope8:

Basicamente, as melodias de frevo são diatônicas. As divisões rítmicas e de velocidade são as maiores dificuldades a serem encontradas. Outra característica relevante são as “perguntas e respostas” entre os instrumentos. Como em todos os gêneros musicais, é muito importante ouvir e vivenciar o estilo para assimilar suas peculiaridades.
O frevo freqüenta ruas e salões no carnaval pernambucano, arrastando multidões num delírio contagiante. As composições musicais são a alma da coreografia variada, complexa e acrobática. Na década de trinta surgiu a divisão do frevo, dependendo da estruturação musical os frevos podem ser: Frevo-de-Rua, Frevo-Canção, Frevo-de-Bloco.

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7 FORTES, Leandro Rodrigues. A aplicação da rítmica brasileira na improvisação: Uma abordagem sobre algumas possibilidades. pág. 27
8 FORTES, Leandro Rodrigues. A aplicação da rítmica brasileira na improvisação: Uma abordagem sobre algumas possibilidades. pág. 28

5. TIPOS DE FREVO


Frevo-de-Rua


As características desse frevo não se assemelham com nenhuma outra música brasileira, nem de outro país. A diferença está na ausência completa de letra. É feito exclusivamente para ser dançado. Geralmente, é composto de uma introdução de 16 compassos seguido da chamada "resposta", com o mesmo número de compassos, que por sua vez antecede a segunda parte, mas nem sempre é uma repetição da introdução. Este estilo tem as modalidades, segundo terminologia usada entre músicos e compositores, de: frevo-abafo – é chamado também de frevo-de-encontro. Onde há predominância de notas longas tocadas por instrumentos de metal, como pistões e trombones principalmente. Assim diminuíam a sonoridade da orquestra rival. Por isso ganhou esse nome, pois geralmente tocavam para "abafar" qualquer outra banda que estivesse passando na rua; frevo-coqueiro – formado por notas curtas e agudas, com um andamento rápido e frevo-ventania – é o mais suave dos três, tranqüilo. Possui uma linha melódica bem movimentada, aonde há predominância das palhetas na execução das semicolcheias. Fica-se numa tonalidade intermediária entre o grave e o agudo. O frevo acaba, temporariamente, em um acorde longo e perfeito. De acordo com o entendimento do musicólogo Guerra Peixe9.

o frevo a mais importante expressão musical popular, por um simples fato: é a única música popular que não admite o compositor de orelha. Isto é, não basta saber bater numa caixa de fósforos ou solfejar para compor um frevo. Antes de mais nada o compositor de frevo tem de ser músico. Tem que entender de orquestração, principalmente. Pode até, não ser um orquestrador dos melhores, mas, ao compor, sabe o que cabe a cada seção instrumental de uma orquestra ou banda. Pode, inclusive, não ser perito em escrever pautas, mas, na hora de compor, ele sabe dizer ao técnico que escreverá a pauta, o
que ele quer que cada instrumento faça e em que momento. Se ele não tiver esta capacidade musical não será um compositor de frevo. (PEIXE, 1978)

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9 PEIXE, Guerra. Nova história da Música Popular Brasileira, 1978.
Frevo-Canção


É uma forma mais lenta de frevo, tem vários aspectos semelhantes à marchinha carioca. É constituído por uma introdução forte de frevo, seguida de canção, mas logo lhe foram acrescentados elementos de frevo, como a marcação do surdo e o tarol. Nos fins do século passado surgiram melodias bonitas que estavam presentes tanto nos bailes sociais, como nas ruas e eram capazes de animar a qualquer reunião e enlouquecer o passista. É originário do frevo-de-rua, que passou a incorporar melodias à sua música



Frevo-de-Bloco


Surgiu a partir de 1915, de serenatas feita por agrupamento de rapazes, que participavam simultaneamente, dos carnavais de rua da época. É executado por Orquestras de Pau e Corda, com violões, banjos e cavaquinhos. Suas letras e melodias, muitas vezes interpretadas por corais femininos. Nas últimas três décadas observou-se a introdução de clarineta. Sua música e dança têm traços fortes dos pastoris.

















6. RELATÓRIO DAS TÉCNICAS EMPREGADAS PARA A REALIZAÇÃO DO ARRANJO DA MÚSICA: “LUIZINHO NO FREVO”

Através de uma pesquisa foi comprovado que a obra “Luizinho no Frevo” foi arranjada para vários instrumentos como trombone, saxofone, guitarra, bateria e outros instrumentos também.
Com o terceiro trombone foi possível concretizar que ali estava a melodia e a partir dela poderia dobrar os outros instrumentos usando a mesma célula rítmica e com as linhas do baixo marcando em semínimas. Devido ao fato de o frevo ser uma dança, os trombones deixam pausa, enquanto o quarto trombone continua marcando sem deixar perder a harmonia.

7. ARRANJO DA MÚSICA

LUIZINHO NO FREVO











REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ARAGÃO, Mário. O Frevo. Teresina (Piauí): ARTE EDUCAÇÃO – Brasil Cultural. Acessível em: Data de acesso: 31/07/2008.

FARIA, Nelson. A Arte da Improvisação. Rio de Janeiro: Lumiar, 1991. 75 pág.

FARIA, Nelson. The Brazilian Guitar Book. USA: Sher Music Company, 1995. 144 pág.

FARIA, Nelson. e KORMAN, Cliff. Inside the brazilian rhythm section 2. USA: Sher Music Company, 2001. 111 pág.

FORTES, Leandro Rodrigues. A aplicação da rítmica brasileira na improvisação: Uma abordagem sobre algumas possibilidades. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, Centro de Artes – CEART, 2007. 65 pág.

GUERRA-PEIXE, César. Nova história da Música Popular Brasileira – Capiba e Nelson Ferreira. Rio: Ed. Abril, 1978.

LIMA, Claudia M. de Assis Rocha. Carnaval Pernambucano – Frevo. Pernambuco: Usina de letras. Acessível em: Data de acesso: 31/07/2008.

OLIVEIRA, Valdemar de. O Frevo. Olinda: Olinda on-line. Acesso: Data de acesso: 28/07/2008.

ROCCA, Edgard. Ritmos brasileiros e seus instrumentos de Percussão. Rio de Janeiro: Europa, 1986. Xx pág.


TELES, José. E o frevo segue seu compasso... Especial para o JC Online. Acessível em: Data de acesso: 23/07/2008.

TINHORÃO, Jose Ramos. Pequena história da música popular brasileira (da modinha à canção de protesto) 3a ed. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1978. 244 pág.
Autor: Silas Ribeiro


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