A gramática agramatical



Tem-se como sinônimo de bom usuário da língua, o sujeito que domina as regras gramaticais e as utiliza com maestria. Como classificar então a oração sem sujeito?
Estudiosos da língua sabem que o seu ensino não se restringe às regras gramaticais e à produção de textos incoesos; o seu conhecimento efetivo perpassa as barreiras da decodificação e do saber sem significado ao aluno.
A aquisição da linguagem em nada está relacionada aos ensinamentos que são empregados na escola. Sabe-se que o usuário de quaisquer línguas possui em si uma gramática que é denominada internalizada, logo o estigma de ir à escola para aprender uma dada língua (neste caso a nativa) não procede. Mário A. Perini em seu livro Sofrendo a gramática declara: “Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento implícito perfeitamente adequado da língua” e se comunicam, o que é a função primeira de qualquer idioma. Esmeralda Negrão, juntamente com Ana Scher e Evani Viotti também mencionam algo semelhante: “Podemos dizer, então, que existe um conhecimento lingüístico que se desenvolve independentemente dos ensinamentos escolares e outro que é aprendido na escola”.
Refletindo sobre os apontamentos acima, é possível se ensinar língua portuguesa na escola? Qual a sua relevância? Há desafios?
O primeiro ponto cabe à conscientização do que seja ensinar língua portuguesa. O educador precisa ter conhecimento sobre sua responsabilidade docente, apresentar a língua ao aluno como algo que lhe seja familiar, inquestionavelmente necessária e não simplesmente como uma disciplina normativa, constituída por uma infinidade de regras do bem falar e escrever. A sociedade se constitui por meio da palavra e, subjacente a esta constituição tem-se a língua, irrestrita a nomenclaturas.
Sabe-se que o ensino de língua nas escolas privilegia a gramática normativa desde as primeiras séries do ensino fundamental. Considerando esta informação fidedigna, por que muitos usuários da língua, independentemente do seu grau de instrução, reconhecem não saber gramática? Creio haver uma lacuna quanto ao ensino da língua portuguesa; decoram-se as regras, mas falta conhecimento do discente para empregá-las. É tarefa do educador preencher esse espaço vazio, alicerçar o conhecimento do aluno fazendo com que este identifique o que fora aprendido em outras situações que não a sala de aula; e este é o maior desafio.
Por fim, o ensino de língua portuguesa nas instituições escolares deveria focar as suas múltiplas variações, fazendo com que o aluno se torne poliglota em sua própria língua. Minha intenção com esse artigo não é depreciar a norma culta em favor de uma anarquia lingüística, mas pontuar a ineficaz metodologia até então empregada. Afinal, é essencialmente nas aulas de língua portuguesa que o discente deveria aprender a ler, escrever, refletir criticamente, produzir textos e se expressar conforme a sua situação de enunciação, com maior ou menor formalidade; deixe que a classificação quanto ao índice de indeterminação do sujeito seja feita por especialistas da língua, cujo resultado lhe será de grande valia.
Autor: Renata Ferreira


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