CASA GRANDE PRIMEIRO&SENZALA DEPOIS: INOVAÇÃO E REAÇÃO NA OBRA-MESTRA DE GILBERTO FREYRE



INTRODUÇÃO


Para estudar a história do Brasil e, principalmente, entender o processo de formação do nosso país, se faz necessário que o pesquisador passe a consultar diversas obras de reconhecida importância que contribuíram significativamente para com a historiografia brasileira. Dentre essa obras, chamadas clássicas, encontra-se o livro Casa Grande&Senzala de Gilberto Freyre, que, assim como seu autor, é marcado por antagonismos e contradições, embora tenha gerado um grande avanço para os estudos históricos e sociais no país.
Meu objetivo neste artigo é, portanto, analisar alguns antagonismos e idéias controversas presentes em Casa Grande&Senzala, demonstrando, também, sua íntima ligação com a trajetória sócio-política de Gilberto Freyre. Para tanto, apresentarei, ao longo do presente trabalho, alguns olhares críticos de diversos estudiosos que, em diferentes épocas do século XX até os dias de hoje, souberam evidenciar aspectos marcantes, importantes e ora controversos da obra freyriana.
Portanto, iniciarei este artigo analisando o impacto gerado por Casa Grande&Senzala, quando de seu lançamento em 1933, bem como sua repercussão entre o meio acadêmico na época e os aspectos que o tornaram ponto inicial da radicalização na historiografia brasileira. Na seqüência, tratarei sobre o elitismo presente na visão de Freyre sobre o processo de formação e estrutura da sociedade brasileira a partir de sua obra-mestra, contrapondo, assim, os aspectos conservadores aos inovadores que compõem o caráter antagônico de Casa Grande&Senzala. Apresentarei, também, visões mais atuais sobre a importância da obra no cenário de estudos sócio-históricos no Brasil, enfatizando alguns aspectos que foram reapreciados no livro de Gilberto Freyre por autores mais recentes. Por fim, farei as devidas considerações, mostrando que até mesmo os antagonismos presentes na obra e Gilberto Freyre são reflexos sociais no Brasil, onde, segundo Roberto Ventura (2000, p.77) “as inúmeras contradições da obra e de seu autor são também as da elite e do povo cujo dualismo entre ordem e liberdade, entre autoridade e democracia, procurou retratar”.

O LIVRO E A RADICALIZAÇÃO NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA

Quando foi lançado em 1933, Casa Grande&Senzala causou euforia em meio ao grupos intelectuais no Brasil, não somente por ter inovado em método, técnica e estilo, mas também por ter rompido com uma velha corrente historiográfica, Gilberto Freyre foi, durante as décadas de 1930 e 1940, aclamado como o descobridor da identidade do país e criador de uma nova auto-imagem do brasileiro, que passava de negativa a positiva com a valorização do mestiço no Brasil. “Antes tomado como inferno da depravação sexual e da degeneração étnica, o Brasil se converteu pelas mãos de Gilberto Freyre em paraíso tropical e mestiço, em que se daria a confraternização de raças e culturas oriundas da Europa, África e América” (VENTURA, 2000, p.11).
Apesar de Casa Grande&Senzala ser bem aceito e apreciado por muitos pensadores e estudiosos da época, tendo, inclusive, sido traduzido em diversos idiomas e rendido prêmios e homenagens ao seu autor, uma parcela da sociedade, mais conservadora e ligada ao pensamento tradicional, repudiou energicamente seu conteúdo. Essa pequena manifestação de resistência proveniente de alguns grupos acadêmicos e de diferentes intelectuais do período mostra-nos, portanto, o caráter ousado e radical da obra de Gilberto Freyre. Segundo o antropólogo Darcy Ribeiro (In: FREYRE, 2002, p.12):

"Nem tudo, porém, foram louvores naqueles dias de deslumbramento e espanto. O próprio vigor e, sobretudo o estilo acre de Casa Grande&Senzala provocaram em muita gente verdadeiras crises de exasperação. Principalmente pelo livre emprego de expressões tidas desde sempre como chulas, obscenas, irreverentes; mas também por muitas outras qualidades vistas como negativas. É compreensível de resto, que assim fosse para um público leitor habituado à pobre língua que se escrevia então no Brasil, acostumado a louvar e levar a sério literatos acadêmicos tão tolos como vestusos."



Gilberto Freyre, influenciado pelo pensamento culturalista do antropólogo Franz Boas , apresentou em Casa Grande&Senzala uma nova concepção de raça e cultura no Brasil. Passou a negar a degeneração étnica provocada pelo cruzamento racial, combatendo a idéia de que a pobreza resultava da inferioridade biológica dos desfavorecidos. Mostrou, também, que a origem do atraso no país estava ligada às causas sociais de alimentação e higiene. Assim, o conteúdo de Casa Grande&Senzala contrariava intérpretes consagrados no Brasil como o crítico Sílvio Romero, o escritor Euclides da Cunha e o sociólogo Oliveira Viana, que responsabilizavam o clima tropical e a população mestiça pelos problemas sociais no país. Devemos, contudo, considerar que o livro foi concebido no período entreguerras e que as idéias racistas tinham forte presença nos anos 30, não somente na Alemanha, Itália e Japão, grandes expoentes da Segunda Guerra Mundial, como no governo de Getúlio Vargas, que controlava o país desde a Revolução de 1930. Portanto, a nova abordagem culturalista para se tratar o racismo e a mestiçagem no Brasil foi, sem dúvida, um dos pontos de radicalização na obra de Freyre. A historiadora Laura de Mello e Souza (In: FREITAS, 2001, p.21) nos explica que “em Casa Grande&Senzala viu-se, pela primeira vez, abordada (a mestiçagem) como fato social, como dado sociológico, em que a transmissão cultural - o momento da cultura - conta mais do que a transmissão genética”.
Podemos perceber, ao lermos Casa Grande&Senzala, que Gilberto Freyre, além de valorizar o caráter sincrético da cultura brasileira, valorizou, também, as diversas manifestações populares, estudando suas características minuciosamente. Esse estudo apurado sobre a vida privada no Brasil, como trataremos na terceira parte deste artigo, rendeu novas discussões sobre o aspecto atual da obra, nos anos 80. Com um olhar atento, o autor conseguiu captar peculiaridades e especificidades culturais da sociedade brasileira como nenhum outro o fez até aquele momento. “A arte de Gilberto Freyre não só para fixar coisas e fatos de pequena aparência, e que se diluem como poeira aos olhos do observador comum, mas para igualmente identificá-los em valores característicos de um certo tempo e um certo meio, constitui uma das maiores revelações do seu gênio de historiador e sociólogo” (MONTENEGRO. In: FREYRE, 1947, p.15).
Podemos considerar, também, como ponto radical na obra-mestra de Gilberto Freyre a própria linguagem em que Casa Grande&Senzala foi escrita. Com estilo literário, linguagem coloquial com conotação, muita vezes poética, o livro nos mostra a inovação técnica de seu autor. Sobre esta inovação na linguagem, assim nos explica a antropóloga Fátima Quintas (2007, p.38):

"O livro chocou. Os ataques expandiram-se. Da linguagem coloquial e sensual, instigante, à ousadia da “técnica inovadora”. O texto era indecente, bradavam uns. O método era questionável reforçavam os adeptos do quantitativismo. A linguagem era superlativamente literária, reclamavam os cientificistas. Trabalho inconcluso, sem arremates, finalizações. Os ecos soavam de toda a parte. E a intolerância sugeriu queimar a obra, em repúdio às idéias, ao estilo, lírico em algumas passagens, aguerrido em outras, um estilo que se respaldava em vivas metáforas, de ordem poética de crueza ostensiva traçado não-linear de estrutura narrativa."



Por fim, todos esses elementos que analisamos em Casa Grande&Senzala nos apresentam, de forma positiva, vários aspectos que causaram uma transformação na historiografia brasileira, que podemos chamar de radicalização inicial, uma vez que foi seguida de outras grandes transformações nas obras de Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Júnior. No entanto, “o marco inaugural nas análises da cultura brasileira seria Casa Grande&Senzala, estampada em 1933. Fecho de um período do pensamento brasileiro, e início de outro” (SOUZA. In: FREITAS, 2001, p.20).

O ELITISMO E O CONSERVADORISMO EM CASA GRANDE&SENZALA

Até agora, pudemos perceber que a análise de Casa Grande&Senzala nesse artigo tratou a obra como inovadora, progressista, enfim, radical. Entretanto, nosso objetivo aqui é apresentar um estudo sobre o caráter antagônico do livro e, para isso, iremos evidenciar, também, alguns aspectos conservadores da obra, bem como, a visão elitista e reacionária do autor. O título deste artigo Casa Grande Primeiro&Senzala Depois, não por acaso, se apresenta bastante sugestivo ao indicar que o autor elaborou todo seu estudo do ponto de vista da elite, ou como se diz comumente entre os diversos autores, analisou a formação da sociedade brasileira a partir do alpendre da casa-grande.
Gilberto Freyre foi, sem dúvida, nos anos 30 e 40, considerado um ferrenho esquerdista, tanto pela sua oposição política ao governo ditatorial de Vargas, quanto pela divulgação das novas concepções sobre a própria sociedade brasileira. Entretanto, numa clara demonstração de conservadorismo, apoiou o golpe militar nos anos 60, inclusive sendo bastante favorável ao estabelecimento da censura. Anunciava publicamente que somente um governo forte e autoritário seria capaz de combater os males trazidos pela sociedade urbanizada e modernista. E, embora certa apologia aos tempos passados fosse uma característica da mentalidade regional da época, é inegável o aspecto saudosista com que Gilberto Freyre tratou a formação da sociedade brasileira em Casa Grande&Senzala. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso (In: FREYRE, 2004, p.22) nos explica que:

"É indiscutível, contudo, que a visão do mundo patriarcal de nosso autor assume a perspectiva do branco e do senhor. Por mais que ele valorize a cultura negra e mesmo o comportamento do negro como uma das bases da “brasilidade” e que proclame a mestiçagem como algo positivo, no conjunto fica a sensação de uma certa nostalgia do “tempo de nosso avôs e bisavós”. Maus tempos, sem dúvida, para a maioria dos brasileiros."



Apesar de alguns elementos como a questão da raça/cultura e do luso-tropicalismo serem plenamente apreciados por vários estudiosos da época, que chegaram a anunciar Casa Grande&Senzala como um livro definitivo e incontestável, muitos aspectos inovadores acrescidos por Freyre em sua obra já nasceram com retrocessos que seriam mais tarde desmascarados de forma clara, por diversos estudiosos. Ao mesmo tempo em que Freyre negava a superioridade de uma raça em relação à outra, afirmava a superioridade de uma cultura em detrimento de outra. Justificava a exploração e o imperialismo português ao explicar sobre a habilidade lusitana em lidar com a colonização multi-étnica, ao mesmo tempo em que harmonizava as relações entre as raças dominantes e as dominadas, propagando uma espécie de “democracia racial” no Brasil. Ao analisar o conservadorismo e o autoritarismo na política brasileira, Freyre expõe sua teoria sobre o sadismo do branco e o masoquismo do índio e do negro. Segundo nos conta em Casa Grande&Senzala, a relação entre o escravocrata, autoritário, severo e “sádico” e as raças dominadas, subservientes, conformadas e “masoquistas” representariam a relação entre o governo brasileiro, reacionário e conservador e o povo, sedento de um governo forte e másculo. Sobre isso, até mesmo um crítico generoso de Casa Grande&Senzala, como Darcy Ribeiro ( In: FREYRE, 2002, p. 18) apresenta uma clara contestação:

"Neste caso, é obvio, não seria injusto falar-se de uma tara direitista gilbertiana [...] Em sua propensão a tudo esconder atrás de um suposto relativismo cultural, esta antropologia se torna capaz de apreciar favoravelmente as culturas mais elementares e até de enlanguescer-se em saudosismos do bizarro e em amores estremecidos pelo folclórico. O que não faz é dar qualquer contribuição útil para vitalizar um valor real, afirmativo das culturas oprimidas; e muito menos despertar na gente que às detém uma consciência crítica ou uma postura rebelde contra a ordem social que as explora e oprime. Em lugar disso o que faz é justificar o despotismo."



Como podemos perceber, ao mesmo tempo em que Casa Grande&Senzala rompeu com preconceitos raciais e concepções arcaicas sobre a formação de uma sociedade híbrida no Brasil, encobriu “ sob fórmulas regionalistas e/ou universalistas, o problema real que é o das relações de dominação no Brasil” (MOTA, 1977, p. 58-59), evidenciando, portanto, seu caráter predominantemente antagônico, contraditório.

O DEBATE ATUAL E AS NOVAS VISÕES SOBRE CASA GRANDE&SENZALA

Pudemos notar que as duas primeiras partes do presente artigo mostraram, respectivamente, alguns aspectos do caráter inovador e reacionário de Casa Grande&Senzala. Sem dúvida, o estudo que estamos realizando nos apresenta a postura controversa da obra, que acaba por confundir-se com a própria contrariedade de seu criador. Porém, não nos surpreende que a análise de uma sociedade híbrida como a brasileira seja apresentada por um ensaio também híbrido, de tradição e inovação, pois como dissemos inicialmente, Casa Grande&Senzala, com todo seu antagonismo, reflete a própria sociedade com suas dualidades e contradições. Portanto, não desejamos rebater as críticas ao livro de Gilberto Freyre, já que elas procedem. Nosso intuito é demonstrar que os antagonismos existem, mas não desmerecem a contribuição dada pelo ensaio à sociologia e à historiografia brasileira. Segundo Cardoso (In: FREYRE, 2004, p. 20) “as críticas vieram pra ficar, assim como o livro”.
Casa Grande&Senzala foi vista diferentemente em três períodos distintos do século XX. O primeiro, por volta de 1930 e 1940 em que o livro foi lançado e visto de forma bastante positiva; o segundo, em meados de 1970, em que a obra sofreu duras críticas por parte de diversos cientistas sociais; e o terceiro, a partir da década de 80, quando as novas tendências nos estudos históricos da terceira geração da école des annale se difundiram no Brasil. A “Nova História” atribuía importância aos aspectos da vida cotidiana nos estudos do historiador, e isso, evidentemente, privilegiava a obra de Gilberto Freyre, que tratou com primor, os detalhes da vida doméstica da família patriarcal brasileira, resgatando o cotidiano miúdo, como a arquitetura das casas, a tradição culinária, as práticas sexuais, os jogos infantis, as roupas etc, bem como, focou-se em novos objetos até então marginalizados como o escravo, a mulher e a criança. “Além disso, desenvolveu um modo antimonumental de ver a sociedade desde suas raízes coloniais” (CÂNDIDO. In: Vários autores, 1988, p.65). Por isso, podemos dizer, que a partir de uma visão mais atualizada de Casa Grande&Senzala, é possível perceber que, embora haja antagonismos, em certos aspectos a obra foi além de seu tempo, anunciando um tipo de pesquisa histórica bastante precoce. Segundo Souza (In: FREITAS, 2001, p. 22) “ninguém, antes de Freyre, se detivera com tal vagar na questão, o que lhe confere precedência de mais de quarenta anos sobre interesse muito atual na história das mentalidades francesa ou na história cultural dos anglo-saxões”.

CONCLUSÃO

Finalmente, apesar de todos os aspectos tidos como ultrapassados na obra freyriana, temos que creditar à Casa Grande&Senzala, por todas as suas contribuições, um lugar de destaque na construção da historiografia do Brasil. Gilberto Freyre, reacionário e inovador ao mesmo tempo, foi também um dos precursores dos métodos da chamada História Oral ao recolher, de forma pioneira, testemunhos junto às famílias proprietárias dos antigos engenhos-de-açúcar, bem como , depoimentos de pessoas idosas que viveram à época de tais acontecimentos. Além disso, usou fontes pouco convencionais, como os arquivos e cartas de família, os inventários e os testamentos, diários, teses médicas, livros de viagem, estatutos de colégios, entre outros. Reuniu, portanto, uma vasta documentação, investigou a história com profundidade, importou conceitos e, embora tivesse familiaridade com diversos países no mundo, dedicou com paixão toda sua imensa obra à construção da história de seu país e, principalmente, de sua região. E, com certeza, Casa Grande&Senzala foi seu maior ensaio de interpretação do Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


CÂNDIDO, Antônio. Sérgio, o radical. In: Vários autores. Sérgio Buarque de Holanda: vida e obra. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura: Universidade de São Paulo, 1988.

CARDOSO, Fernando Henrique. Um livro perene. In: FREYRE, Gilberto. Casa Grande&Senzala: formação da família brasileira sobre regime de economia patriarcal. 49ªed. São Paulo: Global, 2004.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande&Senzala: formação da família brasileira sobre regime de economia patriarcal. 49ªed. São Paulo: Global, 2004.

MONTENEGRO, Olívio. “Apresentação”. In: FREYRE Gilberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social brasileira como processo de amalgamento de raças e culturas.Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.

MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira: pontos de partida para uma revisão histórica. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1977

QUINTAS, Fátima. A senzala fez o idioma. Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, nº 25, nov.2007.

RIBEIRO, Darcy. Gilberto Freyre: uma introdução a Casa Grande&Senzala. In: FREYRE, Gilberto. Casa Grande&Senzala: formação da família brasileira sobre regime de economia patriarcal. 46ªed. São Paulo: Global, 2002.

SEVERINO, Antônio J. Metodologia do Trabalho Científico. 22.ed. São Paulo: Cortez, 2002.

SOUZA, Laura de Mello e. Aspectos da historiografia da cultura sobre o Brasil colonial. In: Marcos Cesar de Freitas (org.). Historiografia brasileira em perspectiva. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

VENTURA, Roberto. Casa Grande&Senzala. São Paulo: Publifolha, 2000. (Folha explica).
Autor: Maiko Cesar Menassa Silva


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