ALFABETIZACAO E LETRAMENTO



Sendo letramento uma palavra ainda desconhecida, ela pode não ser plenamente entendida pela maioria das pessoas, por que e uma palavra que entrou na nossa língua a pouco tempo.
Vivemos a séculos sem precisar dessa palavra, ate que, nos anos 80, tendo em vista a necessidade dessa palavra, foi inventada por que surgiu um fato novo para o qual precisava-se de um nome.
A palavra letramento ainda não esta dicionarizada, considerando o fato de ter sido introduzida recentemente nba língua portuguesa. Socialmente e culturalmente a pessoa letrada já não e a mesma que era quando analfabeta ou iletrada, ela passa a ter uma outra condição social e cultural.
Torna-se letrada, traz também conseqüências lingüísticas: alguns estudos têm mostrado que a pessoa letrada fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto.
Enfim, aprender a ler e escrever e também fazer uso da leitura e da escrita, transformam o individuo, levam o individuo a outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, lingüístico, entre outros.
No entanto só o fato de ser alfabetizada não garante que a pessoa seja letrada; e somente o fato de viverem em uma sociedade letrada não garante a todas as pessoas formas iguais de participação na cultura escrita. O acesso à “tecnologia” do ler e escrever e, em decorrência ao conhecimento, sobretudo o sistematizado que se encontra registrado em textos escritos, também não esta igual e livremente disponível para todos. Os significados, usos,funções da leitura e escrita e as formas de produção, distribuição e utilização do material escrito e impresso também dependem do tipo de sociedade e dos projetos políticos, sociais e culturais em disputa em determinado momento histórico.
E, embora o letramento não seja conseqüência natural da alfabetização, pode-se considerar que o individuo letrado e alfabetizado e mais poderoso que o letrado não-alfabetizado. Isso significa concluir ingenuamente que a condição de alfabetizado e letrado, por si só, seja suficiente para garantir o exercício pleno da cidadania, sobretudo se considerarmos os elevados números da pobreza e da miséria, que vem aumentando e se traduzem em grande contingente de excluídos sociais e culturais em nosso país.
A aquisição da leitura e da escrita, por si só, porem, não vem garantindo maior nível de letramento, e, por vezes, nem mesmo essa aquisição inicial esta sendo efetivada ou garantida a todos os brasileiros. Pode-se considerar, assim, que a alfabetização e a escolarização, bem como a disponibilidade de uma diversidade de material escrito e impresso, em nosso contexto atual, são condições necessárias, mas não suficientes, para o letramento, tanto do ponto de vista individual quanto social.
Mesmo assim, não há total desvinculação entre letramento e alfabetização (escolar). Embora se trate de processos distintos, não se pode desconsiderar a relação de interdependência e indissociabilidade que se estabelece entre ambos. Com a introdução do conceito de “letramento” em nosso país, por um lado, foi-se configurando melhor a especificidade da alfabetização, que vinha tendendo a se diluir no conjunto de tentativas de ampliação de seus significados, a fim de contemplar as novas necessidades sociais de leitura e escrita; por outro lado, foram-se também configurando melhor os limites e o alcance do potencial explicativo do conceito, que vinha tendendo a se esgotar ante os novos desafios do persistente problema do analfabetismo.
Enquanto processo, a alfabetização é também um continuum ao longo do qual podem ocorrer diferentes níveis de domínio nas habilidades e conhecimentos envolvidos; mas seu produto, saber ler e escrever, pode ser pré-fixado, reconhecido e medido com certa objetividade, mas não sem certa arbitrariedade.
O letramento, por sua vez, é um continuum que envolve um processo permanente, cujo produto final não se pode definir nem pré-fixar, impossibilitando a distinção precisa entre analfabetismo e letramento e entre iletrado e letrado, do ponto de vista tanto individual quanto social.
Entre outras, os estudiosos procuram responder as seguintes questões básicas:
- Quais mudanças sociais e discursivas ocorrem em uma sociedade quando ela se torna letrada?
- Grupos sociais não-alfabetizados que vivem em uma sociedade letrada podem ser caracterizados do mesmo modo que aqueles que vivem em sociedades “iletradas”?
- Como estudar e caracterizar grupos não-alfabetizados cujo conhecimento, modos de produção e cultura estão perpassados pelos valores de uma sociedade letrada?

Os estudos sobre o letramento , desse modo, não se restringem somente àquelas pessoas que adquiriram a escrita, isto é, aos alfabetizados. Buscam investigar também as conseqüências da ausência da escrita a nível individual, mas sempre remetendo ao social mais amplo, isto é, procurando, entre outras coisas, ver quais características da estrutura social tem relação com os fatos postos.
A ausência tanto quanto a presença da escrita em uma sociedade são fatores importantes que atuam ao mesmo tempo como causa e conseqüência de transformações sociais, culturais e psicológicas às vezes radicais.
Em termos sociais mais amplos, o letramento é apontado, como sendo produto do desenvolvimento do comercio, da diversificação dos meios de produção e da complexidade crescente da agricultura. Ao mesmo tempo, dentro de uma visão dialética, torna-se uma causa de transformações históricas profundas, como o aparecimento da maquina a vapor, da imprensa, do telescópio e da sociedade industrial como um todo.
Nas sociedades industriais modernas, lado a lado com o desenvolvimento cientifico e tecnológico, decorrente do letramento, existe um desenvolvimento correspondente, a nível individual, ou de pequenos grupos sociais, desenvolvimento este que independe da alfabetização e escolarização. Existe, no entanto, o lado negativo, o lado da perda: esse desenvolvimento não ocorre à custa de nada.
Autor: Maira Haydée Goellner


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