O Ensino de Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras



Para se ensinar empreendedorismo no Brasil, significa uma quebra de paradigmas na nossa tradição didática, uma vez que aborda o saber como conseqüência dos atributos do ser. Assim, na sala de aula, elementos como atitude, comportamento, emoção, sonho, individualidade, ganham vaga antes ocupada somente pelo saber.
Pesquisas em sala de aula demonstram, que os alunos consideram este ensino fundamental mesmo para aqueles que não pretendem abrir empresas, e cuja vocação é, por exemplo, para a área acadêmica. Tais resultados conduziram a indagações e análises sobre o conteúdo da formação profissional oferecido aos nossos alunos, frente às exigências do mercado. De fato, a realidade conceitual trabalhada em sala de aula difere da sua aplicação no mundo não teórico.

Levantamentos feitos junto a empreendedores apontam que o conhecimento da tecnologia do produto pode representar algo entre 5 e 15% da solução global. Ou seja, os conhecimentos adquiridos em cursos de base tecnológica no Brasil, contribuem com um baixo percentual na solução dos problemas a serem enfrentados na criação, desenvolvimento e venda de um produto ou prestação de serviços. Esta conclusão conduz inevitavelmente a reflexões sobre os programas curriculares em todos níveis de ensino.
No ensino do empreendedorismo são abordados conceitos que regem a realidade nas relações de trabalho: a emoção, a convivência com a ambigüidade e incerteza, a aplicação contextual dos conhecimentos, o desenvolvimento do processo visionário. Trabalha também com fatores culturais, determinantes do grau de empreendedorismo de uma determinada região e de uma comunidade. Prioriza o comportamento (o ser) em relação ao saber. Desta forma, o objetivo final da disciplina não é instrumental. A proposta não é a transmissão de conhecimentos, mas o esforço no desenvolvimento de características pessoais necessárias ao empreendedor de sucesso.

Não se visa a criação de empresas de sucesso, mas sim a formação de empreendedores de sucesso. Para estes últimos, o eventual fracasso da empresa é visto antes como um resultado, com o qual saberão aprender. A atividade de empreender, representada principalmente pela identificação e aproveitamento constante das oportunidades. O empreendedorismo consegue propor conceitos que permitem a identificação de condições de sucesso na criação e gestão de negócios.
Assim, o ensino nessa área utiliza-se da análise de algumas características comportamentais básicas encontradas no empreendedor de sucesso. A ênfase na construção de um perfil de empreendedor e não somente na aquisição de um estoque de conhecimentos.
Questões fundamentais, surgiram como desafio a uma proposta metodológica que pudesse equacioná-las. A primeira questão diz respeito a indagações sobre como e em que condições pode se verificar o ensino nesta área. O que ensinar? É possível ensinar alguém a tornar-se empreendedor? Como fazê-lo? O empreendedor nasce pronto, é resultado de genes favoráveis? São indagações similares àquelas feitas em relação ao gerente, há 50 anos.

Uma conclusão que decorre de pesquisas afirma que é possível aprender-se a ser empreendedor, mas certamente sob condições diferentes daquelas propostas pelo ensino tradicional. A segunda questão emerge da discussão precedente e pode ser enunciada da seguinte forma: a universidade está capacitada a ensinar o empreendedorismo, considerando-se os seus métodos tradicionais de ensino, o estágio não estruturado do ramo do conhecimento, e ainda, levando em conta que o empreendimento na área de negócios não é prática das nossas universidades ?
A terceira questão central refere-se ao perfil do professor desta disciplina. Qual o seu papel num programa didático em que o comportamento é o alvo maior, e em que o conhecimento não é transmitido pelo mestre, mas gerado pelos próprios alunos, no processo de elaboração da sua visão de empresa, na auto-avaliação do seu comportamento, na construção de seus métodos próprios de aprendizado, na forma pró-ativa de agir? Qual o papel do professor tradicional no seu ministério de ensinar empreendedorismo, área em que as relações com o ambiente natural do empreendedor constituem a fonte essencial de conhecimento e aprendizado?

Nesta área, a conexão do aluno com o mundo exterior à universidade precisa ser intensa e sem intermediários. O verdadeiro ambiente "acadêmico" do aluno-empreendedor é o mercado, onde se articulam forças produtivas, econômicas, sociais, políticas. Nesse contexto, o estoque de conhecimentos do qual o empreendedor necessita é altamente mutante e contingencial. O saber confunde-se com a capacidade de percepção do comportamento do mercado concorrencial, composto por conjuntos de pessoas cujas ações provocam a sua transformação constante que, por sua vez, é geradora do alvo que o empreendedor incansavelmente persegue: a oportunidade. Como entender e abordar esta inversão no campo acadêmico? Como vencer o paradoxo do ensino pela universidade de um conhecimento que ela ainda não domina?

Alguns pesquisadores acham que é possível aprender-se a ser empreendedor. Outros acham que é possível ensinar. A metodologia proposta para a disciplina aborda o problema de forma pragmática. Enquanto tais questões são discutidas no meio acadêmico, há, em todo o mundo, uma febre de criação de empresas e de ensino de empreendedorismo. Se a universidade, por seus objetivos e missão, não empreende na área de negócios, esta disciplina responde convidando empresários a assumirem o papel de mestres, lado a lado com o professor.
Se os elementos essenciais ao empreendedor são a sua capacidade de criar, definir a partir do indefinido, de aprender constantemente a partir da ação, enfatizam-se no curso características comportamentais de criatividade, do pensamento difuso, da parceria definitiva dos dois lados do cérebro, do conhecimento autônomo, pró-ativo, do aprender a aprender. Se o importante neste campo é antes ser do que saber, invertem-se os papéis entre professores e alunos, como inverte-se o fluxo do saber. Os alunos são os agentes de geração de um conhecimento individualizado, da adoção de comportamentos adequados à realização da sua visão.

Os pressupostos da formação do empreendedor baseiam-se mais em fatores motivacionais e habilidades comportamentais do que em um conteúdo puramente instrumental. Esta característica irá provocar, como se verá mais tarde, mudanças radicais na abordagem educacional, tanto em termos de orientação profissional, uma vez que as nossas universidades estão mais voltadas para a formação do empregado de grandes empresas, como no que diz respeito à própria metodologia de ensino, já que no campo de criação de empresas o objetivo não é a transferência de conhecimentos, mas a geração de conhecimentos pelo ator do processo, o aluno.

Portanto, os papéis do professor e do aluno são transformados: aquele é somente um agente indutor do processo de auto-aprendizado pelo aluno, cuja tarefa é o desenvolvimento de habilidades comportamentais inspiradas na própria formação existencial e psicológica. O saber específico, instrumental, é conseqüência da forma de ser, da atitude diante dos objetivos de se criar um negócio. A empresa é uma projeção e extensão do próprio ego. No que diz respeito ao ensino de empreendedorismo a questão é resolvida, mais uma vez, de forma pragmática.
Experiências de sucesso, em todos os níveis de ensino, têm sido realizadas em todo o mundo. Sabe-se que fatores fundamentais para o desenvolvimento do espírito empreendedor apoiam-se, entre outros, em elementos tais como a motivação à auto-realização, iniciativa e persistência, energia, liderança, capacidade de desenvolver uma visão, suportada por uma rede de relações pessoais.
Autor: Sandra Regina da Luz Inácio


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