O Gênero Narrativo E A Linguagem Cotidiana



Na atualidade passou-se a chamar gênero narrativo ao conjunto de obras em que há narrador, personagens e uma seqüência de fatos. É uma variante do gênero épico. Abrange várias modalidades de texto em que aparecem os seguintes elementos:

·Foco narrativo: presença de um elemento que relata a história como participante (1º pessoa)ou como observador (3º pessoa ). E, também há o narrador onisciente.

·Enredo: é a seqüência de fatos, podendo seguir a ordem cronológica em que eles ocorrem (sucessão temporal dos fatos), ou a ordem psicológica (sucessão dos fatos, seguindo as lembranças ou evocações das personagens, apresentando, muitas vezes flash-backs ou voltas ao passado.

·Personagem: seres criados pelo autor com características físicas e psicológicas determinadas.

·Campo e espaço: o momento e o local em que os fatores são narrados e onde se desenrolam.

·Conflito: situação de tensão entre os elementos da narrativa.

·Clímax: a situação criada pelo narrador vai progressivamente aumentando sua dramaticidade até que chega ao clímax, ao ponto máximo.

·Desfecho: momento que recebe o clímax, no qual se finaliza a história e cada personagem se encaminha para seu "destino".

( http://www.ficharionline.com/literatura/pagina_exibe.php?pagina=06017, 2006 )

O nosso estudo sobre o gênero narrativo se dará por meio da abra de José de Alencar- Cinco Minutos.

É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima.

Mas é uma história e não um romance.

Há mais de dois anos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí.

Sabe que sou o homem menos pontual que há neste mundo; entre os meus imensos defeitos e as minhas poucas qualidades, não conto a pontualidade, essa virtude dos reis e esse mau costume dos ingleses.

Entusiasta da liberdade, não posso admitir de modo algum que um homem se escravize ao seu relógio e regule as suas ações pelo movimento de uma pequena agulha de aço ou pelas oscilações de uma pêndula.

Tudo isto quer dizer que, chegando ao Rocio, não vi mais ônibus algum ; o empregado a quem me dirigi respondeu :

- Partiu há cinco minutos.

Resignei-me e esperei pelo ônibus de sete horas. Anoiteceu.

Fazia uma noite de inverno fresca e úmida; o céu estava calmo, mas sem estrelas.

A hora marcada chegou o ônibus e apressei-me a ir tomar o meu lugar.

Procurei, como costumo, o fundo do carro, a fim de ficar livre das conversas monótonas dos recebedores, que de ordinário têm sempre uma anedota insípida a contar ou uma queixa a fazer sobre o mau estado dos caminhos.

O canto já estava ocupado por um monte de sedas, que deixou escapar-se um ligeiro farfalhar, conchegando-se para dar-me lugar.

Sentei-me; prefiro sempre o contato da seda à vizinhança da casimira ou do pano.

A partir desse pequeno trecho extraído do primeiro capitulo do livro Cinco Minutos – José de Alencarpercebemos que , o enredo desenvolve-se a partir do momento em que o narrador perde o ônibus por cinco minutos e é obrigado a pegar o próximo. O fato do narrador estar incluído na historia , defini esse tipo de narração como da primeira pessoa.

No ônibus , ao senta-se ao lado de uma mulher que não conhece, apaixona-se e teme que esta seja feia; ela parte e ele a perde de vista, sem saber quem é , ele procura durante, um mês, descobrir quem seriaa moça.

O ambiente é responsável pelo desenrolar do enredo e por onde circulam os personagens , no caso de Cinco Minutos, o lugar que originoutodo o enredo foi o ônibus, mas esta trama tem vários ambientes, como : o teatro, a cidade de Petrópolis, Tijuca, Andaraí e a Europa. Assim percebemos que a trama não esta centrada em um único lugar. O ambiente possui tão importância que pode tornar-se um personagem , que é o caso de O Ateneu, O cortiço...

O tempo exerce uma função relevante pois percebemos que os fatos narrados não aconteceram num período tão próximo da realidade" Há mais de dois anos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí". O tempo também não passa despercebido quando o narrador enfatiza que por cinco minutos perdeu o ônibus, o que seria o momento mais crucial, pois foi com a ação do tempo que se desenrolou todo o enredo. " Eram onze horas; no espaço de uma hora eu faria as quatro léguas que me separavam daquele porto. " neste trecho citado, notamos mais uma vez a importância do tempo no enredo.

Os personagenspossuem uma individualidade e expressividade, com seus conflitos pessoais e sociais.

Os conflitos ocorremdesde o inicio da narração, a partir do suspense de quem seria a moça e por que tal mistério sobre sua identidade.

O clímaxda trama , chega ao ponto crucial quando Carlota então revela que já o observava nos bailes, amava-o , mas não podiam ficar juntos porque ela estava doente. Revelando isso numa carta e partindo para a Europa.

O Desfecho, momento mais esperado pelo leitor, ocorre quando Carlota à beira da morte, pede um beijo e por milagre no momento do beijo ela se reanima.

Durante um ano na Europa, onde casam elesmontam uma casa num lugar retirado de Minas, numa provinciazinha.

LINGUAGEM COTIDIANA

Existem dois tipos de linguagem: o da norma culta, que obedece e segue os padrões e a linguagem cotidiana que é mais espontânea variando de acordo com o meio social, a época e etc. Esse tipo de linguagem muito usada em textos literários modernos, como uma característica básica do modernismo : a incorporação do coloquial à linguagem literária. Mário de Andrade e João Guimarães Rosa, por exemplo , são escritores modernistas brasileiros em cujas obras essa característica se ressalta.

Mas o nosso estudo sobre linguagem cotidiana se dará por meio da obra deCarlos Drummond de Andrade- Alguma Poesia

Explicação

Meu verso é minha consolação.

Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua

[ cachaça.

Para beber, copo de cristal, canequinhade

[ folha-de-flandres,

Folha de taioba, pouco importa: tudo serve.

Observamos nessa primeira estrofe, a presença da contextualidade do dia-a-dia, a simplicidade do verso e a verossimilhança .

Sesta

 

... a filha mineira

está comendo banana.

A filha mais velha

Coça uma pereba

Bem acima do joelho...

Nesta outra obra do mesmo autor, vemos como a oralidade está explicita e como o autor utiliza-se da capacidade de transformar algo tão simples e tão real em poesia.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo

Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

Que não amava ninguém....

Utilizando –se da realidade, mais uma vez Carlos Drummond de Andrade, consegue fixar nossa atenção na linguagem do dia-a-dia , através da sua obra quadrilha , onde procura de forma cômica , mostraruma verdade dos apaixonados.

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras

Mulheres entre laranjeiras

Pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.

Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta , meu Deus.

Concluindo esta analise, observamos este ultimo poema que não deixa duvidas sobre apresença marcante da linguagem cotidiana nas obras do autor Carlos Drummond de Andrade, que consegue se expressar de maneira atual , mesmo com a diferença de anos da produção de sua obra, por se utilizar da oralidade como marca principal.


Autor: Cyndia Marinho


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