Você É Um Medíocre?



Entrevista com José Ingenieros

José Ingenieros (1877-1925). Foi psiquiatra, psicólogo, farmacêutico, escritor, filósofo e sociólogo ítalo-argentino.

VRB – Explicável pelas mais diversas causas, a mediocridade está presente na maioria populacional de cada país, pouco importando o seu grau de desenvolvimento cultural, científico e tecnológico. O progresso apenas beneficia materialmente as pessoas medíocres, que permanecem satisfeitas com as condições em que vivem e não desenvolvem, por isso, o sentido crítico sobre o que acontece ao seu redor e no mundo.
Ingenieros – O homem medíocre é uma sombra projetada pela sociedade; é, por essência, imitativo, e está perfeitamente adaptado para viver em rebanho, refletindo rotinas, preconceitos e dogmatismos reconhecidamente úteis
para a domesticidade.
VRB – Medíocre é, então, toda pessoa privada da capacidade criativa.
Ingenieros – O medíocre nada inventa, nada cria, não impulsiona, não rompe, não engendra; mas, em compensação, sabe custodiar zelosamente a armação dos automatismos, dos preconceitos e dogmas acumulados durante séculos defendendo esse capital comum contra os assaltos dos inadaptáveis. Seu rancor contra os criadores é compensado pela sua resistência aos destruidores.

Os homens sem ideais desempenham, na história humana, o mesmo papel da hereditariedade na evolução biológica; conservam e transmitem as variações úteis para a continuidade do grupo social. Constituem uma força destinada a contrastar o poder dissolvente dos inferiores e a conter as antecipações atrevidas dos visionários. São necessários à coesão do conjunto, como o cimento, para sustentar um mosaico bizantino.

Mas — é preciso dizê-lo, o cimento não é o mosaico.

As rotinas defendidas, hoje, pelos medíocres são simples glosas coletivas de ideais concebidos ontem por homens originais. O grosso rebanho social vai ocupando, à passo de tartaruga, as posições atrevidamente conquistadas muito antes por suas sentinelas avançadas, perdidas na distância; e estes já estão muito longe, quando a massa cuida estar batendo na sua retaguarda. O que ontem foi ideal, contra uma rotina será, amanhã, rotina, por sua vez, contra outro ideal.

VRB - As rotinas são necessárias enquanto funcionam. São programas de ações para facilitar o funcionamento de atividades intelectuais, físicas e sociais. Mas se tornam grilhões, quando impedem a criatividade intelectual e o desempenho social no enfrentamento de novos desafios resultantes do processo das mudanças.

Ingenieros – A rotina é a síntese de todas as renúncias.O homem medíocre só tem rotinas no cérebro.
VRB – Poder-se-ia traçar, teoricamente, o perfil psicológico do medíocre?
Ingenieros – A psicologia dos homens medíocres caracteriza-se por um traço comum: a incapacidade de conceber uma perfeição, de formar um ideal.

São rotineiros, honestos, mansos; pensam com a cabeça dos outros, condividem a hipocrisia moral alheia, e ajustam o seu caráter às domesticidades convencionais. Estão fora de sua órbita o engenho, a virtude e a dignidade, privilégio dos caracteres excelentes; sofrem, por isso, e os desdenham. São cegos para as auroras; ignoram a quimera do artista, o sonho do sábio e a paixão do apóstolo. Condenados a vegetar, não suspeitam que existe o infinito, para além dos seus horizontes.

O horror do desconhecido ata-os a mil preconceitos tornando-os timoratos e indecisos; nada aguilhoa a sua curiosidade; carecem de iniciativa, e olham sempre para o passado, como si tivessem olhos na nuca.

Continua...
http://adriloaz.blogspot.com/2008/12/voc-um-mediocre.html
Autor: Francisco Amado


Artigos Relacionados


História De João Medíocre

Blogs Medíocres Da Bundosfera

A Necessidade De RestauraÇÃo

Todo Pai Deve Ser Um Educador E Todo Professor Um Instrutor

A Sustentabilidade Profissional X A Inércia E A Mediocridade.

Ensinando A Ousar

Paz