Machado de Assis



(*) Nelson Valente


Quem se aprofunda na análise da obra de Machado de Assis - e têm sido tantos os escritores - não pode deixar de considerá-la agridoce, se é possível a imagem. Sua postura foi sempre dissimuladamente risonha, talvez em função da epilepsia que ele carregava consigo, e que procurava a todo custo esconder.


O humor em Machado, assim, pode ser entendido como válvula de escape, como aparece fortemente na sua obra-prima Memórias Póstumas de Brás Cubas. Logo de saída, diz o finado: "Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio". No dizer de Graciliano Ramos, a característica marcante dessa obra é um "sorriso franzido".


No trabalho do escritor e acadêmico Arnaldo Niskier, é possível identificar em Machado uma adequada mistura entre ironia (o pessimismo altivo apresentado, em geral, que quer dizer exatamente o contrário do que está escrito) e humour ( tom de galhofa perspicaz e velado, envolto em dor e tragédia). Ironia e humour são atitudes que muitas vezes confundem em sua sutileza.


Não é outro o pensamento do escritor Murilo Mello Filho, para quem a obra de Machado de Assis é fundada em três motivos principais "o humorismo, a tragicidade e a simbologia". Compreendendo, como Bergson, que o riso deve ter uma significação social, o escritor e acadêmico Murilo afirma que, "em Machado, o humorismo é aliado ao pessimismo, à amargura, ao ódio do gênero humano, à irritação que lhe causava o espetáculo da vida".


Brás Cubas ( que poderia ser o próprio Machado) muitas vezes atira suas armas contra si mesmo, em outras ocasiões zomba de Deus e da natureza, como no momento em que analisa as mortificações a que se impõem uma mosca e uma formiga. E usa de irreverência quando entende que Marcela o amou durante 15 meses e 11 contos de réis.

A mesma característica que está no conto "Teoria do Medalhão", em que o pai ensina meios escusos ao filho para se projetar socialmente. É o Machado de Assis que todos admiramos como o maior dos nossos escritores.


(*) é presidente da Academia de Letras de Blumenauense (ALB)
Autor: Nelson Valente


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