Sabedoria e qualidade, em falta na TV



Uma enquete criada pelo colunista de assuntos televisivos Ricardo Feltrin apontou para algo que, apesar da endemia de alienação e mau gosto cultural, é, mais que uma verdade, uma necessidade prima da população. Em 29 de dezembro, 46,4% de cerca de 9200 pessoas compartilhavam uma opinião que merece muita atenção: deveria haver veiculação de sabedoria na TV aberta. Isso reflete o estado a que ela chegou. Ou melhor, de que nunca saiu.

Pergunte-se: “e não há um pouco de sabedoria?”, para eu responder: onde? Só se for um extremo mínimo, totalmente insuficiente para civilizar uma nação afundada em violência urbana, deseducação, alienação e descaso popular generalizado para assuntos públicos. O que vem fazendo o peso do conteúdo da televisão, em contrapartida, é o que há de mais podre, alienante e inibidor de soluções.

Nesta década, em vez de evolução, temos visto um recrudescimento da programação idiótica, apesar da decadência do gênero da baixaria explícita – Ratinho, Márcia Goldschmidt, o “exilado” João Kleber e companhia saíram de moda. As novelas da nove da Globo, embora decaindo ininterruptamente em audiência desde aquela “mediocridade americana” que fazia apologia a rodeios, ainda fazem o gosto popular, com o agravante da inserção do “inferno dramático”, vide as rotineiras brigas, discórdias, nervosismos, violências, mortes e baixarias d’A Favorita, perceptíveis até mesmo por quem já vive longe da TV. O jornalismo vem, como sempre, manipulando e formando visões de mundo distorcidas e míopes e preservando os interesses de quem tem muito poder sócio-político-econômico. Todas as tentativas do SBT de ressuscitar sua audiência, sem exceção, consistem em lançar programas fúteis ao máximo, que nunca têm nada a oferecer de edificante. Nenhuma outra emissora de TV aberta que não a constante TV Brasil vem investindo propriamente em cidadania, educação e responsabilidade sócio-ambiental em sua programação. Assim fica bem difícil as emissoras desejarem um mundo melhor, já que elas o estão fazendo ainda pior.

Há uma notável e feliz exceção. O CQC da Band vem fazendo a diferença com sua fórmula de jornalismo inteligente mais engajamento mais humor sábio e inquietante. Se (vira essa boca para lá) a emissora ousasse tirá-lo do ar, seria uma perda crônica para esse panorama televisivo contemporâneo que tanto carece de qualidade. Mas ainda assim é apenas um elemento entre o imenso mar de lama televisivo.

Quem esperava o que pareceria mais lógico, a evolução da televisão e o crescimento da exigência cultural por parte da audiência na década em que a internet consolidou sua popularidade e deu cabo a várias revoluções de mídia alternativa, quebrou a cara, entristeceu-se e mandou o televisor hibernar. É uma tristeza ver que um instrumento com enormes potenciais de prover e promover em massa educação cotidiana de qualidade, incentivar o pensamento autônomo e edificar a sabedoria popular, a criatividade, a cultura construtiva, cidadã e solidária venha fazendo exatamente o contrário. Mastigando e regurgitando deformadas e obsoletas visões de mundo prontas, manipulando opiniões, semeando preferências culturais bastante idiotas e fúteis, desencorajando a cidadania participativa e manifestante, prestando contribuições quase nulas para a evolução da educação e dos valores das pessoas. É esse diabo a tal TV do século 21?

É por isso que cada vez mais gente que desistiu de procurar cultura decente na TV vem seguindo a sugestão feita pela MTV alguns anos atrás: “desliga a televisão e vai ler um livro!”. Convido todos que ainda têm uma porção do cérebro livre da alienação e do emburrecimento promovidos pela telinha a fazerem o mesmo. Quanto aos demais, contaminados por completo, apreciadores da estupidez, só me resta no momento lamentar e perguntar “até quando”.
Autor: Robson Fernando


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