Não sou liberal, neoliberal e nem sou marxista



(*) Nelson Valente

Não sou liberal, nem sou marxista.
A terminologia política a quem muitos continuam apegados, na velha Europa, não tem mais o sentido lógico que assumiu em certa fase da história das idéias. Os conceitos que alicerçaram esquerda e direita, na fase que culminou com o embate entre fascismo e bolchevismo, mudaram de natureza, em conseqüência da Segunda Guerra Mundial e da explosiva evolução que se opera em nossos dias, e que também a nós nos abarca.
De um lado, vemos tradicionais partidos socialistas da Inglaterra e da Alemanha, revendo postulados fundamentais de seus programas, mas, de outro lado, assistimos – sem que os preceda um ideário nítido – a saltos sociais da envergadura dos operados no Egito, na Índia, em Cuba, na África.
A mentalidade política se refaz ao empurrão dos acontecimentos, e destes deverá resultar uma nova definição para velhos problemas.
Nem mesmo as supostas "cortinas" separam homens e não-homens, e a impossibilidade de uma direção monolítica para os povos se evidencia na rebelião iugoslava, na insurreição húngara, na afirmação de independência da Polônia, no atrito entre a China e a União Soviética (hoje Rússia) com o corolário das crises que proliferam nas organizações partidárias internacionais que se inspiram no exemplo desses países.
Cumpriremos, agora, a decisão do Príncipe Regente, baixada desde 28 de janeiro de 1808.
A Nação, entretanto, tem deveres para com a América do Sul.
É evidente que nossos esforços resultarão improfícuos, se não contarmos com a cooperação e compreensão dos nossos irmão do Norte, por vezes imperfeitamente esclarecidos sobre a necessidade imperiosa, incontornável de eliminação de tantas áreas de pobreza.
Concorre, para isso, talvez a concepção unilateral de que só ao capital privado compete papel básico na luta em prol do futuro latino-americano.
Daí as crises periódicas que afetam o Continente.
Nação independente, soberana, o Brasil prescinde da liderança internacional de qualquer potência. Sabe onde estão os seus direitos e os seus interesses. Não os aliena. Não os sub-roga.
Mas, e por igual, fiel às suas tradições, aos seus compromissos, é avalista determinado e espontâneo da intangibilidade do Continente. Aqui, ninguém interferirá.
Não há lugar, na América, para o exercício de curatelas européias ou asiáticas, a nenhum título.
Sempre soubemos, nesta comunidade de Nações livres, solucionar as pendências emergentes, diria inevitáveis, sem que tais desacordos justificassem malignas intervenções extracontinentais.
Não as concebo, nem as tolero. Insisto, entretanto, em que a melhor, quiçá a única maneira de exorcizarmos os fantasmas que rondam o Continente, está na imediata efetivação e consolidação do MERCOSUL.
Povos economicamente desenvolvidos, libertos da miséria e do medo, aptos a se realizarem, não teme, e por isto mesmo, não agridem.
Tarda, por outro lado, que fortaleçamos as nossas relações comerciais, para não falarmos nas culturais, com os países da Europa e da Ásia.
Temos caminhado para trás, nos nossos processos de intercâmbio e de trocas, suplantados até pelo atilamento e pela tenacidade de diplomacias mais bisonhas, embora mais resolutas do que a nossa.


(*) é professor universitário, jornalista e escritor
Autor: Nelson Valente


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