EDUCAÇÃO SEGUNDO PAULO FREIRE



A sua teoria educacional surge num momento crucial, num momento em que as Teorias Críticas da Reprodução não viam mais perspectiva para a Educação. Ao contrário dos educadores das Teorias Críticas da Reprodução, Paulo Freire vê a Educação impregnada de esperança, tanto que não hesitou em chamá-la de Pedagogia da Esperança.
A Educação trás consigo um coeficiente muito grande de Esperança. Ela pode mudar muito a realidade, dependendo de como a aplicamos e da maneira que a concebemos. Nem tudo está perdido, dizia Paulo Freire, basta o trabalho educacional e teremos o que queremos, uma Educação verdadeira que dê conta da mudança da realidade.
Mas as contribuições e inovações de Paulo Freire não param por aí, pois além da Educação ser embasada em uma esperança, é necessário:
(...) que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos(...) abertura à justiça, não é possível a prática pedagógico-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica (FREIRE,1997,p. 136).

Todas estas características, ou como chama Paulo Freire, virtudes, serão, no nosso trabalho, explicadas através das palavras-chave: Esperança Humildade, Amor e Solidariedade.
Para entendermos o que é a proposta educacional em Paulo Freire, dois conceitos tem de ter a suas características bem compreendidas. Trata-se do conceito de homem, o qual já vimos no item anterior, e o conceito de sociedade.
Sociedade, para Paulo Freire, não é um objeto estagnado, sem mudança. Ao contrário, é um processo em constante modificação e transição.
Sendo composta por valores, a sociedade está à mercê, durante sua existência, de uma possível degradação, chegando a um certo ponto a sofrer um momento de transição. Suponhamos a nossa sociedade brasileira com todo seu conjunto de valores, que fazem a identidade de nosso povo. Estes mesmos valores podem, aos poucos, entrarem em degradação e levarem à mudança.
Mas, há que se deixar bem claro que esta transição de alguns valores e a conseqüente aquisição de outros, não implica no esquecimento daqueles, pois “(...) todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje (...). Temos de saber o que fomos, para saber o que seremos” (FREIRE, 1982b, p. 33).
A sociedade , por ser constituída de valores, é capaz da alienação das consciências através destes mesmo valores, que como bem sabemos, nem sempre são valores, pois estes podem servir como suporte na perpetuação do status quo, com todas as suas implicações e justificações[1].
Perguntamos então, após esta compreensão de homem e sociedade, qual a ligação deste dois conceitos à educação?
Ora, a resposta é simples, pois o homem, através da educação, descobre um meio para a construção de um novo status. Este novo status deve possibilitar ao homem as mesmas condições que a classe dominante lhe impossibilitou de obter.
Esse é um aspecto um pouco restrito no modo de compreensão da Educação, pois o objetivo primordial da Educação é levar o ser humano a se livrar das amálgamas que o impedem de desenvolver seu próprio ser.
A Educação, para Freire, não é uma doação ou imposição, mas uma devolução dos conteúdos coletados na própria sociedade, que depois de sistematizados e organizados, são devolvidos aos indivíduos na busca de uma construção de consciências críticas frente ao mundo.
É educando pela conscientização do “educando” que Freire fundamenta a união entre a Educação e o processo de mudança social.
A Educação, para Paulo Freire, contrapondo-se ao que ele chama de “educação bancária”[2], é acima de tudo problematizadora, ou seja, está intimamente ligada à realidade, ao contexto social em que vivem o professor e o aluno e onde o ato de conhecer não está separado daquilo que se conhece. O conhecimento está sempre dirigido para alguma coisa.
Sendo assim, o homem, um ser inacabado, toma consciência do seu inacabamento e busca, através da Educação, realizar mais plenamente sua pessoalidade. A partir desta visão torna-se tarefa primordial da Educação levar o ser humano o mais próximo possível da perfeição. Assim expõe L. FERACINE, comentando o pensamento de Freire: “Ele (o homem) cria no sentido de explicitar, fazer desabrochar, dar desenvolvimento às potencialidades que existem em estado latente e embrional”
[1] Justifica-se, por exemplo, a hierarquia patrão – servo; toda a situação econômica; cria preconceitos os mais variados possíveis etc..
[2] Educação tradicional e tecnicista que identifica a educação como um depósito bancário, onde o aluno nada sabe e o professor é o detentor do saber.
Autor: Sidnei Laone


Artigos Relacionados


Anotações Sobre Ensino E Os “tipos” De Educação Em Paulo Freire

O Papel Do Trabalhador Social No Processo De MudanÇa

A Educação Como Prática De Liberdade

Nossas Escolas Devem Cumprir O Papel De Libertar

Paulo Freire E A Autonomia

A Escola E A (des)educação

Educação De Jovens E Adultos: Dicas Aos Educadores