ÉTICA E CIÊNCIA: O homem brinca de ser Deus



Deus criou o homem e o presenteou com o dom da inteligência para que ele a usasse em seu benefício e em benefício de seus semelhantes com sabedoria.

O homem toma em suas mãos o dom da inteligência e, como se esta fosse uma massinha de modelar, ele brinca, a observa, a modela, remodela, a transforma e a aperfeiçoa.

Eis que este homem percebe que tem nas mãos o ‘poder da criação’ e então, o homem brinca de ser Deus.

Notoriamente, as duas últimas décadas nos são de extrema relevância, pois, se traçarmos um gráfico imaginário, ou uma linha de crescimento imaginário em relação às demais ciências, perceberemos que os conceitos biológicos e suas tecnologias tiveram avanços realmente significativos.

O homem aguçou sua inteligência a ponto de visivelmente observamos uma crescente e desenfreada capacidade de manipulação e intervenção nos mecanismos de sua própria existência.

Presenciamos a mão do homem, que brinca de ser Deus, manipulando a produção de alimentos transgênicos, clonando animais, realizando projetos de decodificação dos genomas, inclusive, os do próprio ser humano.

O incrível aperfeiçoamento do conhecimento propiciou a elaboração e a disseminação da informação pelos meios dae comunicação de massa, criados e aperfeiçoados pela inteligência humana.

Assim, quase que diariamente, os meios de comunicação nos disponibilizam notícias sobre a engenharia genética, gripe aviária, células tronco, clonagem, produtos transgênicos, biotecnologia, lei de biossegurança, meio ambiente, enfim, revelam as verdadeiras pretensões do ser homem em decifrar a sua própria fórmula. Contudo, poucos são os canais que propiciam aos que menos dominam a veracidade de tais noticias biológicas, quanto aos seus benefícios e/ou malefícios. Eis que se percebe um único caminho a ser seguido, para que seja, de fato, esclarecido à sociedade em geral, os dois lados dessa moeda apresentada pela biociência.

O caminho é priorizar um paralelo entre os avanços científicos e a ética, que surge não simplesmente para estabelecer regras de conduta, mas sim, para questioná-las em prol daquilo que é de fato, melhor a todos os seres vivos que habitam e compartilha com o homem, um lugar ao sol no planeta Terra.

MANIPULANDO A VIDA COM PRINCÍPIOS ÉTICOS

Muitos são os temas da biociência que clamam pela ética. Mas, dentre eles existe um que me aguça a curiosidade por leituras e debates: - células-tronco.

Há poucos dias, após a leitura em uma revista pedagógica que disponibiliza aos docentes importantíssimas atualidades para salas de aula, pude constatar uma reportagem na área de biologia cuja manchete se intitula - A ciência do século, na qual o texto discorre sobre os estudos e conquistas da biociência no Brasil, sobre as verbas para as pesquisas, bem como, os produtos e processos advindos dela. Na reportagem, uma das geneticistas da Universidade de São Paulo (USP), Lygia Pereira, faz algumas lamentações sobre a demorada burocracia brasileira para cumprir os tramites legais de importação dos materiais necessários às práticas de pesquisa, o que não ocorre com os países americanos e europeus que, com no máximo vinte e quatro horas agregam tais materiais aos seus laboratórios de pesquisas.

“... Nós conseguimos chegar a primeira linhagem de células-tronco embrionárias, sobre uma Placa de Petri (recipiente de vidro utilizado para abrigar as culturas de células).Para produzir isso em escala, é necessária outra estrutura.” Lamenta. PEREIRA (2008-2009, p.14)

A reportagem revela que, mesmo em meio aos entraves das tramitações e verbas e, com dez anos de atraso nas investigações em relação aos pioneiros das técnicas, Estados Unidos, o Brasil, através da USP, conseguiu montar uma linhagem de células–tronco embrionária no fim do mês de setembro do ano passado (2008) quando que o Superior Tribunal Federal já havia dado parecer favorável à continuidade das pesquisas com embriões humanos, que é a matéria prima das células-tronco.

Vejam a tamanha responsabilidade dos geneticistas brasileiros a partir de então.
E, não se poderia deixar de lembrar aqui, que, nesta semana, o atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mais uma vez, ocupou as primeiras páginas da internet, dos canais de rádio, televisão, jornais e revistas, quando que permitiu o financiamento de entidades internacionais de saúde que praticam o aborto e finalmente autorizou testes com células-tronco embrionárias em seres humanos.

Existe hoje um legado de informações em relação aos estudos biocientíficos, mas acredito que os estudos com células–tronco a partir de embriões humanos, seja o tema que mais carece nossa atenção nos debates em seminários, palestras, colóquios e até mesmo nas conversas de sala de aula, enfim, precisamos aguçar nossa criticidade para fazer cumprir o máximo possível dos princípios éticos, pois afinal,

É nos primeiros dias da fase embrionária, quando o ser possui cerca de cem células ( e recebe o nome de blastocisto), que está a oportunidade para a extração das células-tronco. O problema é que o embrião precisa ser destruído para que as células-tronco embrionárias possam ser obtidas. (ANGELO, 2008, p.67)


Contudo, penso que a biociência deve unir-se aos princípios éticos, o que no momento nos causa dubiedade e, perseguir nesta ampla e maravilhosa conquista que presenciamos, pois se abre um leque de possibilidades, já que, os estudos com células-tronco abrangem as pesquisas em prol das doenças degenerativas, da fertilização in vitro, da clonagem terapêutica, dos caminhos para a cura e da Teratoma

Mediante o exposto, entro em concordância com Salzano (1999, p.75-81) quando diz que cabe á sociedade em geral, e a cada um de nós em particular, manter-se vigilante para que esse conhecimento seja aplicado visando o máximo de felicidade para o maior número de pessoas.

É dever de todo cidadão, em especial, dos envolvidos de forma mais diretamente com a biociência, a atribuição de maiores considerações e questionamentos frente às autoridades governamentais visando possibilidades de implementação das verbas para as pesquisas em prol da saúde e do bem estar da sociedade e da nação, nunca descuidando dos princípios éticos que devem regir lateralmente à biociência.



São tantas incertezas e euforias presentes no cotidiano do homem deste século XXI. Essa inquietação iniciou-se logo após o anúncio da decodificação do genoma humano.

O ser humano está hoje, munido de uma inteligência que causa a dubiedade nas questões de aspectos éticos. O fato é que, ao brincar de ser Deus, o homem acaba por ter nas mãos a capacidade de modificar a natureza e o potencial genético dos seres vivos que habitam o planeta. Contudo, mesmo consciente das conquistas, avanços e possibilidades que tem nas mãos, o ser humano, ainda está condicionado a se distinguir das demais formas de vida presentes na natureza de um modo bastante antropocêntrico, esquecendo-se que ao manipular qualquer forma de vida ele estará, consequentemente, modificando as condições de vida das gerações futuras, inclusive as futuras gerações de sua própria descendência.

Portanto, a ética e a ciência devem agregar-se, mais do que nunca, nos debates e nas ações da sociedade em geral e nas práticas vivenciadas daqueles que estão mais diretamente ligados às investigações da biociência.



ANGELO,C. Ciências: dilemas e desafios. 1. ed. – São Paulo: Salesiana. 2008.

PEREIRA,L. A ciência do século. Carta na Escola: Confiança LTDA, v. 32, 2008 – 2009.

SALZANO, F. M. Genética, ambiente e problemas sociais. In. SACCHET, Ana |Maria de Oliveira Freitas (Org.) Genética para que te quero? Porto |Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999.
Autor: Gladenice T. da Silva


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