Medo: parcerias subliminares
Dentre os vários acordos, alguns são clássicos. O principal deles talvez seja os religiosos. Algo como: “Eu cumpra as regras, contribuo para a causa e disponibilizo meu tempo em troca de proteção e de uma vida longe do inferno após a morte”. É isso que ocorre quase sempre, pois o medo do inferno (que talvez já se viva aqui na terra) como algo doloroso e eterno tem suas raízes já na infância. Considero essa uma das maiores covardias; aquela que tem como alvo um ser ainda puro e inocente. E não só realizadas pelos “donos” das religiões e seus “discípulos”, mas também pelos próprios pais que, uma vez já “contaminados” por esse medo, repassam-no a seus inocentes rebentos como se algo de altruísta estivessem fazendo. É lamentável!
As religiões estão sempre ligadas ao dinheiro. Por dentro ou por fora.
Por dentro quando: contribuições são cobradas descaradamente, são pedidas “candidamente” ou são induzidas subliminarmente, pois é a lei ditada por um deus - um deus particular, exclusivo, antropomórfico e personagem de uma fábula.
Por fora quando: obtêm vantagens em relação ao não pagamento de impostos, possibilidade de receber doações não contabilizáveis e o lucro obtido pela venda de material “didático” de qualidade duvidosa e quinquilharias, ofertadas a “preços módicos” em nome da obra do senhor. Resta saber qual o senhor a que se referem.
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Particularmente, acho que ter condições materiais é algo muito bom, pois permite a realização de anseios e sonhos. É tão ruim quando não se tem dinheiro para bancar nem as necessidades básicas. Nunca vi o dinheiro estragar ninguém. Vejo alguém estragado se manifestar com mais intensidade quando passa a ter uma grana mais folgada. O que não se pode permitir é ser escravo do dinheiro, encará-lo como um objetivo e não como uma ferramenta que pode trazer prazer à vida.
Talvez - nessa educação a que se é submetido - o medo encontre terreno fértil e irrigação para crescer e dar frutos. O problema, sob meu ponto de vista, é que esse comportamento está baseado em uma ilusão. Tem sede no imaginário e se propaga em quantidade e intensidade inimagináveis. As pessoas, em geral, são facilmente impressionáveis, crêem em céu e inferno, crêem em “olho gordo”, em "assombração", em “trabalho feito” e acreditam no demônio como um ser personificado e não como fruto de sua própria ignorância interior. Muitos se locupletam disso – os espertalhões - de forma mais ou menos visível, mais ou menos perceptível. E só existem espertalhões quando existem tolos para patrociná-los, para alimentar sua voracidade. Via de mão dupla: causa e efeito, só isso!
Há uma parceria não oficial entre três segmentos da sociedade que, no fundo, têm um objetivo comum. Eles atuam como um curral, cujo objetivo é que o rebanho não se disperse. Rebanho contido, preso em um espaço com pouca margem de manobra, limitado pela má educação que é oferecida, com baixas condições de saúde orgânica e intelectual, subempregado e sem dinheiro para o mínimo digno fica mais fácil de ser controlado e conduzido mental e emocionalmente. Essa sociedade, que não é juridicamente legal, dá sinais de que existe há séculos. Será que já ouviram essa frase? “Estiveram presentes autoridades civis, militares e eclesiásticas à inauguração do monumento ao...” A arma dessa parceria: o disfusão do medo individual, que gera o coletivo.
Didaticamente, civis são as polícias, os políticos, os juízes e os poderosos empresários, detentores do caminho que a sociedade deve seguir; militares são os generais, almirantes e coronéis, detentores do poder bélico supremo, veladamente sempre prontos a tomar o poder à força; eclesiásticas são os cardeais, arcebispos, bispos, padres, apóstolos, missionários, pastores, rabinos e mais um monte de denominações inventadas a cada dia, falsos detentores da escolha da sua próxima moradia no “além”. E ai de quem ouse se manifestar contra essas instituições, mesmo que de modo legal e pacífico. É sumariamente condenado e isolado do resto do rebanho para não contaminá-lo. O preço pago pelo atrevimento pode ser alto. Mas esse, eu pago!
© 2009 Carlos Bayma
Autor: Carlos Bayma
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