O Dupla



Antes de um erro gramatical, a expressão “o dupla” tem um significado próprio em nosso meio policial. Nossa atividade, na verdade, tem várias peculiaridades, dentre elas; o uso da arma de fogo; o alto índice de adrenalina; o perigo iminente no confronto armado; as inúmeras prisões e a relação diária com os problemas alheios.

Um policial raramente atua sozinho, na maioria das vezes atua em dupla. Dentro das casernas chamamos nosso companheiro de guarnição de “meu dupla”.

É ele que vai nos apoiar nos momentos de maior perigo, vai nos ajudar naquele momento de decisão, ele, muitas vezes, é quem vai dizer – atira, não atira! Talvez ele mesmo efetue disparos para nos salvar.
Nesse duro ambiente em que se deve estar atento a tudo e a todos, encontramos “no dupla” o apoio mais próximo durante o turno de serviço. O policial que está ao nosso lado, seja a pé ou motorizado é a nossa extensão.

Para tanto, a escolha do colega de serviço é fundamental para uma boa prestação ao cidadão. Em geral, as duplas se formam por características semelhantes, tais como: carisma, honestidade, coragem, conhecimento, cursos realizados juntos, afinidades nas áreas de interesse e a mais importante; a confiança.

A expressão “o dupla”, em sentido estrito, seria dois em um, propositalmente, não utilizamos em nosso linguajar de polícia a expressão “a dupla”, pois queremos traduzir outra idéia. Todas as atividades policiais dependem de uma ação conjunta a fim de diminuir os riscos nela implícitos.

Nesse momento é que a afinidade policial deve prevalecer, pois a vida de um está na mão do outro, um desleixo de um e o outro pode ser ferido ou até morto. “Um dupla” de serviço é parte do outro.

Mas apesar dos momentos críticos, existem momentos gratificantes que vivem motorista e patrulheiro em uma guarnição no policiamento diário. Confidências, piadas, fofocas particulares, tristezas, frustrações, indignações, revoltas, problemas familiares que só “o dupla” confidente conhece. Uma guarnição afinada, na qual impera a confiança se conhece apenas na troca de olhar e gestos.

Ouvimos casos de partos feitos em viaturas pelos próprios policiais, casos de policiais que caíram em privadas, que tiveram fardas rasgadas correndo atrás de criminosos, tombos inesquecíveis no cumprimento do dever, prisões de grandes quadrilhas feitas às vezes por apenas dois companheiros afinados e comprometidos com sua atividade de polícia, tiroteios; e infelizmente também brigamos com a morte, que vez ou outra nos vence e leva “nosso dupla”. E sofremos todos.

A morte é, sem dúvida, o momento mais difícil em nossa atividade, pois leva nosso companheiro de luta diária, leva aquele colega de farda que esteve ao nosso lado e sabe como ninguém nossas dificuldades e expectativas. Se “o dupla” é morto por razões naturais até aceitamos, com lamentos, mas quando perdemos um colega em confronto, nossa tristeza se mistura ao ódio. Lembramos dos momentos de alegrias, das vitórias vividas, das pequenas discussões sobre pontos de vistas diferentes, das confidências mais íntimas.

E choramos, inevitavelmente.

Contudo, nessas lembranças encontramos forças redobradas para continuar nossa luta pela segurança do cidadão e representando a Brigada Militar com seus 171 anos e seus incontáveis heróis.

Assim como foi a dupla de irmãos, Márcio e Micheli - os inesquecíveis irmãos Murussi - continuamos como a grande Brigada Militar de incontáveis pares, cumprindo a missão que a sociedade nos confiou, como valor maior, resumido nas nossas ações para a preservação da ordem pública.
Autor: Geverson Aparicio Ferrari


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