O outro lado do tão louvado novo empreendimento frigorífico



Nesta semana, a mídia e os políticos manifestaram um quase orgásmico regozijo pela abertura de uma grande fábrica frigorífica em Vitória de Santo Antão. Empregos! Desenvolvimento! $$$$! Pontos como esses foram e estão sendo louvados à exaustão nos noticiários. A minha visão é que, pelo seu “outro lado” extremamente perverso e também sangrento, não há motivo nenhum para se comemorar.

Inicialmente é bem difícil para muitos pensar onde está esse aspecto sanguinolento que desperta esse repúdio. Para quem já o encontrou sem levar tanto tempo, eu premiaria com um almoço vegetariano, já que descobriram que falo das inúmeras mortes de animais que serão – e já devem estar sendo – causadas pela fábrica.

É de causar arrepios essa cegueira da imprensa e das autoridades políticas para com o intenso sofrimento de tantos animais, nascidos com a “função” única imposta de ter seu corpo retalhado para virar carne. Para essa turma, a morte também é uma grande aliada da economia e do desenvolvimento. Vale matar bem muito, ainda que sejam “só” animais não-humanos para dar emprego e renda a uma miríade de pessoas.

Choram ainda mais os bois, os frangos, os porcos, os perus, todos aqueles que estão desesperados, prevendo que vão morrer, presos num estreito corredor que os levará a um imundo e ensanguentado matadouro, onde vão ser “insensibilizados” para em seguida ser submetidos a um cruel e letal procedimento de degola e sangria.

A verdade é que, por trás desse empreendimento dito “maravilhoso”, que simboliza a suposta resistência pernambucana à crise mundial, há uma questão ética que ninguém de maior escalão está considerando. É válido perguntar se é ético fazer isso, matar tantos animais em nome do dinheiro e do desenvolvimento. Se é bonito termos uma economia regada por um perene chafariz de sangue que não vai parar de jorrar enquanto a pecuária continuar alegrando tanta gente.

Em nome de uma cadeia alimentar que já foi superada pela globalização do comércio de nutrientes vegetais, minerais e sintéticos, em nome de prazeres fúteis como os churrascos e os rodízios de carne, apesar de toda a destruição e poluição implacáveis causadas pela pecuária no meio ambiente, apesar de todos os intensos gritos de bichos desprezados pela sociedade e pelos deuses dela, apesar de toda a argumentação dos vegetarianos, a indústria da morte ganha musculatura com a nova instalação de Vitória e recebe bênçãos do presidente churrasqueiro.

O presidente, o governador e mais outros milhares de pessoas que não entendem porque os animais têm direito a coexistir sem violência com a nossa espécie dita racional comemoram, fazem uma grande festa. Mas todos aqueles que ainda sonham com uma humanidade menos bestial e mais consciente lamentam a inauguração da fábrica frigorífica, consideram-na (dubiedade proposital) uma lastimável vergonha.

Eu e muito mais outras pessoas sonhamos que um dia brindes de “$angue” como o que aconteceu no município de Vitória serão relegados à barbárie do passado de uma espécie humana que não via nada de errado em matar também seus semelhantes. Sonhamos que no futuro fatos como esse despertarão luto, e não mais alegria.
Autor: Robson Fernando


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