Invasão Da Baia Dos Porcos



Isso é um símbolo para todos os povos oprimidos. É a primeira derrota do imperialismo na América Latina, mas também é uma das primeiras derrotas do imperialismo em escala mundial. (Ernersto "Che" Guevara). [1]

Este ensaio faz referência à invasão da Baia dos porcos, em 16 de abril de 1961, objetivando elucidar as razões pelas quais os Estados Unidos não obtiveram êxito nessa investida sobre o território cubano. Para tanto, os argumentos aqui apresentados tem a finalidade de responder a seguinte questão: Que razões levaram os Estados Unidos a não utilizar seu oficial poderio militar para a invasão a Cuba? Evidentemente é importante destacar que na prática, Cuba nunca representou perigo aos americanos, portanto não se fazia necessário uma investida direta ao território cubano. No entanto a preocupação por parte dos Estados Unidos estava mais ligada aos encaminhamentos ideológicos que o país caribenho estava tomando e a repercussão mundial que suas atitudes no sentido de encorajar outros grupos de esquerda pelo mundo.

O jornal Folha de São Paulo noticiava na terça-feira, 18 de abril de 1961:

MIAMI, 17 - Forças rebeldes invadiram Cuba pelo ar e por mar, travando, hoje, uma sangrenta batalha nos pântanos situados a uns 150 quilômetros a Sudeste de Havana, e pareciam haver feito recuar as forças do primeiro-ministro Fidel Castro na arremetida inicial, segundo informações radiofônicas incompletas recebidas nesta cidade.

A Frente Revolucionaria, presidida por José Miro Cardona, parece haver lançado em ação uns 5.000 combatentes no termo de 48 horas.

O primeiro-ministro Castro assumiu pessoalmente o comando de todas as forças armadas cubanas, substituindo em tais condições o presidente da Republica, Osvaldo Dorticos.

(...)A Cruz Vermelha da ilha também anunciou pelo radio que havia "muitos feridos" em Jaguey Grande, pequena localidade situada a 27 quilômetros ao norte da zona de invasão e a uns 32 quilômetros da costa.

Não se pôde determinar, contudo, se a referencia a Jaguey Grande significava que os invasores haviam avançado profundamente em território cubano ou se a localidade era utilizada como centro de evacuação de feridos. [2]

A invasão que a matéria se refere ficou conhecida como invasão da Baia dos Porcos. Segundo Vizentini as tropas contra-revolucionárias, organizadas pela CIA, foram facilmente derrotadas no território cubano. Um dos principais motivos da derrota era a expectativa dos EUA em alcançar o apoio popular, o que efetivamente não aconteceu. Os estadunidenses esperavam que houvesse uma indisposição popular em aceitar o governo revolucionário de Fidel Castro. [3]

Fidel Castro, que no início de 1961 era primeiro ministro de Cuba, liderou um grupo de guerrilheiros que desencadeou desde 1956 uma revolução popular. O levante alcançou seu objetivo em 1º de maio de 1959, com a derrubada do ditador Fulgêncio Batista. Mesmo promovendo reformas moderadas, o novo governo, recebeu forte oposição do governo estadunidense, que dominava a maior parte da economia de cubana, e dessa forma, incidiu uma forte pressão econômica e diplomática sobre a Ilha. [4]

Em informações não oficiais, as forças anti-revolucionárias eram formadas por cerca 1.500 soldados, sendo que 194 deles tinham sido militares do governo de Fulgêncio Batista que estavam equipados com 31 aviões, 15 bugues, uma companhia de tanques, diversas armas portáteis, além de morteiros e pistolas [5]. Estes números, porém, diferem do efetivo de 5.000 homens, destacados anteriormente na matéria do jornal Folha de S. Paulo. Dois dias antes das tropas desembarcarem na praia de Girón, há 150 quilômetros ao sul de havana, foi promovido um bombardeio aéreo a algumas bases militares cubanas, pela força aérea norte americana. [6]

Após três meses no governo, Kennedy autorizou operação clandestina de contra-revolucionários montado pela CIA. O desembarque na Baía dos Porcos (16/04/1961) foi derrotado com certa facilidade, frustrando as expectativas americanas de encontrar apoio popular para derrubar Castro. [7]

A contra partida ao resultado da operação articulada pelo governo estadunidense foi que Fidel Castro proclamou a adoção do socialismo no país caribenho, fronteiriço às águas pertencentes ao território estadunidense em primeiro de Maio do mesmo ano [8]. Mesmo assim, é importante salientar que a Revolução Cubana não teve cunho de reforma política no sentido de promover o comunismo, pois como René Remond afirma:

o partido comunista só desempenhou, de fato, um papel muito reduzido, e que se junta em seguida ao bloco das revoluções comunistas. [9]

Em 1º de maio de 1961, menos de um mês após a invasão da Baia dos Porcos, Castro proclama a adoção do regime socialista, com orientação marxista-leninista. Esta proclamação causou furor para os dirigentes americanos, que trataram de realizar uma série de embargos econômicos e políticos aos cubanos, inclusive expulsando-os da Organização dos Estados Americanos (OEA). Dessa forma, a política estadunidense acaba promovendo a aproximação de Cuba ao bloco soviético, tanto no plano econômico como no político [10]. Isso um ano mais tarde, acarretará no que se denomina a crise dos mísseis, ocorrido pela implantação de base militar soviética em Cuba.

Ainda sobre o inconsistente engajamento inicial de Cuba ao comunismo, Hobsbawn afirma que o partido comunista cubano não era sequer simpático a Fidel Castro [11]. Portanto, a característica comunista do regime cubano, pode ser entendida como um efeito da oposição aos estadunidenses e não como um objetivo inicial da revolução, o que forçou uma conseqüente aliança com os soviéticos.

Acerca do caráter não-comunista de Cuba, Hobsbawm acrescenta sobre as relações do governo revolucionário cubano e o Partido Comunista:

As relações entre eles eram visivelmente geladas. Os diplomatas e conselheiros americanos debatiam constantemente se o movimento era ou não pró comunista [...], mas claramente conclui que não era. [12]

Esta conclusão fora uma das razões pelas quais os estadunidenses não colocaram em ação seu exército oficial para derrubar o governo de Fidel Castro, ou seja, no início não era explícito que acontecera uma revolução no sentido comunista, mas sim, uma revolução popular contra um governo autoritário.

No entanto, apesar da Revolução Cubana não ter causado qualquer perigo iminente ao poderio dos EUA, a revolução conseguiu atrair a atenção de praticamente todas as esquerdas do mundo ocidental. A forma com que os cubanos encaminharam sua revolução encorajava outros grupos oposicionistas pelo mundo e era visto como um modelo, até mesmo, para os críticos da União Soviética, pois a política fidelista coexistia com o capitalismo a cem milhas da maior nação capitalista do mundo [13]. Portanto, além do caráter político e militar está em jogo o mental, ou seja, não se sabia até que ponto uma ilha revolucionária, agora oficialmente comunista, às portas do motor capitalista do mundo, poderia intervir em seu poderio continental.

Mesmo Cuba não representando um perigo para a economia americana, era vista como um incômodo, principalmente do ponto de vista ideológico, encorajando outros países da América Latina, Ásia e África a promover a Revolução [14] e, além disso, eram avalizados e protegidos pela União Soviética. Na época os Estados Unidos já se impressionavam com o avanço tecnológico soviético e a competitividade econômica do Japão e Europa Ocidental [15], herdeiros do Plano Marshall. Por isso parte dos estadunidenses a iniciativa de colaborar com um grupo de exilados, treinados e armados pela CIA para derrubar Castro, sem se expor oficialmente, para tentar sufocar o germe de problemas futuros. Portanto, a verdade é que:

A revolução castrista criara um clima de perplexidade nos Estados Unidos, permitindo aos países latino americanos aprofundar suas reivindicações e desenvolver uma diplomacia relativamente autônoma nas nações maiores como México, Brasil e Argentina [16]

Conclui-se também que não seria salutar para os Estados Unidos utilizar todo o seu poderio bélico contra Cuba, até porque, como se pode perceber não havia motivos evidentes para isso. Ainda que houvesse motivos, a Ilha fica a pouco mais de cem milhas da costa estadunidense; utilizar armamentos pesados seria arriscado para a sua própria população. O presidente John Kennedy se utilizou do patrocínio a exilados anti-castristras para a operação. No entanto, até hoje, a invasão à Baia dos Porcos é conhecida como a principal derrota estadunidense, em seu próprio continente.

Realmente foi uma derrota considerável para os EUA, mesmo com as ressalvas militares elencadas anteriormente, até porque não há a intenção de se quantificar o poderio militar de cubanos e estadunidenses na década de 1960, mesmo porque se fosse isso seria apenas uma descrição quantitativa e as diferenças a meu ver são desproporcionais. A questão é que no período em questão, o que está em jogo não são apenas armamentos e soldados, mas políticas e mentes unidas com o objetivo de solidificar uma ou outra ideologia.

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Bibliografia:

-HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve sáculo XX 1914-1991I. Trad. Marcos Santarrita. Ver. Técnica Maria Cecília Paoli. 2ª ed, 12ª impressão. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

-RÉMOND, René. O Século XX: de 1914 aos nossos dias. Trad.: Octávio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1974.

-VIZENTINI, Paulo Fagundes. História do Século XX. 2ª Edição. Porto Alegre: Editora Novo Século, 2000.

-Folha de S. Paulo, 18 de Abril de 1961, disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/mundo_18abr1961.htm> acesso dia 02/06/2004.

-GOMES, Joaquim. Baía dos Porcos: CIA é destroçada pelas tropas de Fidel. Disponível em: <www.grupofr.hpg.ig.com,br/artigos/arquivo/especial02.html> Acesso em 27/06/2004.

-PIZANO, Daniel Samper. La Bahía de los Cochinos - 40 años después. Publicado em: EL TIEMPO, Colombia, 8 de abril de 2001. Disponível em: <http://home.t-online.de/home/effi.schweizer/bahia-cochinos.htm>. Acesso dia 02/06/2004.

-<http://www.granma.cu> acesso dia 02/06/2004.

-<http://www.esg.br/publicacoes> acesso dia 02/06/2004.




Autor: Fábio Paulo da Silva


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