A pequenez humana e a lágrima que cai.



Joel C. Santana Santos 22/11/04


E dizia o poeta: Tudo vale a pena se a alma não é pequena.

E o homem concretiza essa máxima.

Em pleno século 21, a alma a que se referia o poeta continua pequena e se minimiza a cada dia. O mundo está sujo e suja a alma do homem. O homem está na imundícia que cria e luta contra uma que se lhe está recôndita. Liça que nunca vencerá porque é quem a cria e não percebe.

É assim: não se quer ferir-se, mas se fere o outro; não se deseja passar por percalços, porém o fazem aos outros. É difícil compreender a razão por que não se pára com essa essência, por que não há fim para a intolerância ao vizinho, por que não apraz a alguém poder aprazer a outrem.

“Entra numa choupana, que servia mal de um pequeno bar, todos ali mal-vestidos, sujos, bêbados e entregues ao acaso, um jovem rapaz. Simples e educado, o rapaz adentra temeroso ao recinto. Observa tudo ao seu redor e percebe o quão hostis lhe são os olhares. Embora tenha vergonha e embaraço, segue até o velho e sujo balcão. Todos olham-no de cima a baixo; um olhar coercivo o machuca a alma, que por dentro chora. Jamais compreendeu por que o tratavam assim. Do mais estranho ao mais amigo dos indivíduos que com ele conviviam, o olhar parecia tão igual. Jamais ofendeu ou subjugou alguém, mas diuturnamente era ofendido e subjugado.

Continuou. Chegou até o senhor que atendia ao balcão, cumprimentou-o e perguntou singelamente: ‘vendem-se ovos aqui?’ – e, antes mesmo de concluir a pergunta e de ouvir a resposta, ouviu ditos sobre sua aparência e vivência. Todos o julgavam estulto, e chegavam até a ofensas mais pessoais e agressivas. O pobre rapaz ouviu a resposta do vendedor e, sem nada dizer, exceto ‘obrigado!’ àquele que o atendera, foi-se. Ao sair da casa, outros tantos o avistaram e ao longe e proferiram mais xingamentos a ele. Alheio àquilo tudo, seguiu.”

Quem neste mundo não tem a alma pequena? Hombridade e respeito ficaram para poucos. Tendo em vista a atitude de muitos nos dias de hoje é até difícil definir o tamanho de suas almas, ou melhor, é difícil saber quem tem e quem não. Há falas como: “Por que tenho que ser complacente com o outro? Não tenho que agradar a ninguém nem que esconder o que penso dele.” É não temos mesmo(!) se vivermos fora de órbita; pois, se se vive em comunidade é preciso acima de tudo respeito. Talvez complacência seja sinônimo de cumplicidade. Porém até para não se ser cúmplice tem que se ser complacente; não é a qualquer custo que se diz algo a alguém. Imagine-se numa situação em que alguém diz para você a verdade que mais lhe doeria saber. Há duas vias: a que incomplacentemente ele diz e lhe agride a cada palavra que cospe; ou a que sem cumplicidade, mas com complacência lhe diz aquilo que dói o coração ouvir e você se compreende necessitado daquela verdade e incumbido de mudar. Qual situação se valida pela atitude? Há grandeza na alma humana? Qual o tamanho das almas dos indivíduos incomplacentes? De quem subjuga, de quem subestima, do egoísta, do insensato?

“Depois de alguns minutos, já em casa o pobre rapaz chorou. E cada lágrima que correu sobre seu rosto levou consigo uma de suas esperanças, até a de que o mundo um dia seria mais ameno.”

Isso ocorre todos os dias. Não se pode perceber uma situação assim se não se vive na pele. Certamente o poeta viveu, e – na intenção de expressar sua indignação – disse tudo valeria a pena se a alma não fosse pequena. Portanto, façamos com que tudo valha a pena.
Autor: Joel Carlos Santana Santos


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