Construindo sonhos com interesse



O quadro “Construindo um sonho”, do programa do SBT “Domingo Legal”, é uma boa fonte de reflexões morais sobre o capitalismo. Assistindo a isso, podemos ver como empresas aliadas à decadência cultural da TV fazem da pobreza alheia uma ótima oportunidade de, pelo disfarce de bons samaritanos, angariar clientes e obter lucro. Ali o pseudoaltruísmo empresarial faz ibope.

Para quem não conhece ou não se lembra bem dessa parte do programa de Gugu Liberato, uma pessoa muito pobre que sonha em reformar sua casa e ganhar condições melhores de vida para sua família manda uma carta a Gugu e ele atende mandando uma leva de empresas que fazem a reforma, pintam e remobiliam a casa e dão brinquedos às crianças. A família pobre fica alojada talvez em algum hotel pago pelo programa e, depois de tudo, um repórter leva-a de volta, atraindo um mar de alegres lágrimas do(a) remetente da carta.

As empresas envolvidas fazem sua propaganda divulgando-se na tela quando o repórter entrevista seus representantes que estão pela casa reformada. É uma forma mais barata, impactante e comovente de fazer propaganda do que os anúncios televisivos convencionais.

A audiência compadece-se da situação anterior das famílias que tiveram seu sonho “construído” pela trupe do Domingo Legal e abre um sorriso quando aqueles “heróis” mudam a vida delas. Tem-se a ilusão de que é um momento em que o capitalismo se faz “do bem” e toma ares “altruístas”.

Ilusão porque as companhias prestam seus serviços para o programa e para a família contemplada porque estão muito interessadas na heterodoxa publicidade e no embelezamento institucional os quais sua participação no “Construindo um sonho” proporciona.

Nada ali é feito de graça, por altruísmo, sem perspectivas lucrativas. É de se perguntar: por que as tais empresas nunca são vistas fazendo tais serviços fora do alcance das câmeras do SBT, melhorando a vida de outras famílias sem visar fins lucrativos? Por que só vestem o “traje institucional” de “heróis dos humildes e necessitados” diante do olhar da audiência nacional da emissora? Por que não fazem atos caridosos para divulgar por informe publicitário?

Não vou negar que as famílias que são respondidas pelo Domingo Legal saem ganhando um notável enriquecimento material-patrimonial graças às companhias contratadas pelo programa. Mas questiono a bondade interesseira destas. E estendo essa questão para o empresariado capitalista como um todo.

Capitalismo não dá espaço para altruísmo, com raríssimas exceções envolvendo empresários muito ricos que destinam parte de sua fortuna pessoal – eu disse fortuna pessoal, e não receita empresarial – para caridades ou projetos sociais, como é o caso de Bill Gates. Quando virmos uma empresa sendo tão boazinha com determinada população pobre, é porque ela foi contratada e está intencionando fazer publicidade mais embelezamento institucional a partir de sua boa ação.

Se alguém, ao ver atrações televisivas como o “Construindo um Sonho”, diz que acredita no “poder capitalista de fazer o bem”, está incidindo em profunda ingenuidade. Se analisarmos direito o que as empresas “caridosas” querem, veremos interesse publicitário, nunca altruísmo. Para quem está longe das câmeras da TV e não pode comprar seus produtos ou serviços, só desprezo. Só irão estender a mão a alguém se isso ajudar a lucrarem depois.
Autor: Robson Fernando


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