Aula de conformismo



Aprendi, meus caros e caras que estão presentes aqui
Com a sociedade em que vivo e vocês vivem
Que não adianta lutar por um mundo melhor
Por uma humanidade mais benigna e menos brutal
Porque não vamos chegar a lugar algum

Aprendi que a humanidade é um mói de “fila da...”
Que só existe hoje porque evoluiu
E evolução, disse um conhecido meu
É um matando o outro
E nela só os melhores sobrevivem

Aprendi que deveríamos pensar sempre de forma dicotômica
Mesmo quando a dicotomia é falsa
Dos dois que estão na minha frente, quem merece sobreviver?
Um amigo humano meu ou uma droga de uma galinha?
A morte de quem eu deveria evitar?
De cem mil pessoas ou de cem mil galinhas?
Não devo pensar em procurar solução com outras pessoas nem em pensar em meio termo
Ninguém pode interferir, eu devo pensar sozinho
E matar ou deixar morrer a metade dos seres à minha frente
Porque outra solução não existe

Estão vendo esses nomes?
Betty Williams, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Nelson Mandela, Oskar Schindler...
Muito sortudos, mas não me convenceram
Com ou sem eles, somos uma espécie desgraçada
Que está a caminho da autodestruição
E daí que eles sonharam com um mundo melhor e que conseguiram ótimos resultados?
E daí que eles uniram tantas pessoas por seus objetivos?
E daí que eles renovam as esperanças de tantas pessoas?
E daí que eles salvaram vidas e que o mundo hoje seria pior sem eles?
Ainda penso que não vou mudar o mundo
Porque estou sozinho e não acho que posso conquistar ninguém
Pra um modo de pensar coerente e lutador
Não tenho boa oratória, não tenho escrita muito boa, não tenho a mídia ao meu lado
Logo sou um zé-ninguém, não acredito que eu vá promover mudanças pra melhor
Nem mesmo em ajudar nisso

Aprendi que, por mais que eu fale e defenda uma ética, uma dignidade
Sempre estou incomodando outras pessoas
Que vão caguetar pra uns e outros que eu sou inconveniente, um chato de galocha
Não acho que posso simplesmente melhorar meu jeito de falar e me expressar
O jeito é desistir e aceitar que o mundo é cruel

Aprendi que não fez sentido a humanidade avançar ao ponto de criar
Leis, artes, ideias, empreendimentos, esperanças
Porque nada disso impede que sejamos estúpidos e brutos
E nada garante que deixaremos de sê-los um dia
Na verdade, a humanidade nunca vai deixar de ser bestial e destruidora
Nunca!
Não adianta cultivar esperanças!
Não adianta conscientizar, esclarecer, explicar nossos ideais
Ninguém vai nos dar ouvidos
O jeito é nos calarmos, aceitarmos tudo como está
E fazermos nossa parte em sobreviver

E daí que cada um de vocês tem um sonho de viver
Numa humanidade mais digna e respeitável?
E daí que cada um evolui em seu jeito de ser, melhora sua visão de mundo?
Eu não acredito na humanidade
Na verdade, eu não acredito em vocês
Nem em mim mesmo como alguém responsável pelo mundo em que vivo

Aprendi que o melhor a se fazer é pensar como troglodita
Neste mundo de trogloditas
Afinal, quem não pode vencê-lo junta-se a ele!
Por exemplo, melhor é pensar que a vida humana
É superior à vida de outros animais
Ninguém além de nós tem prioridade em ser espécies respeitadas
Aprendi que deveríamos sempre que possível
Fazer genocídio de animais não-humanos
Em caso de epidemias
Porque só a vida humana prevalece
Só a vida humana é valiosa
Ou melhor, só a nossa e a das espécies de que gostamos mais
Cães, gatos, primatas, leões etc.
Opa... melhor dizendo, nem a desses animais porque eles devem morrer
Se ameaçarem transmitir doenças
Pesquisar cura? Procurar todos os meios possíveis de salvá-los?
Pra quê? São muitos animais doentes a nos ameaçar
Somos incapazes de curá-los
E o esforço de buscar a cura humana não conta
Em ser estendida para a salvação dos outros animais
Porque... porque... ééé... sei lá, mata tudinho logo!

Aliás, pra que nós continuamos aqui?
Por que vocês estão aqui numa instituição de ensino como esta?
A raça humana é uma desgraça
Está se matando e não tem mais solução
Não adianta querer mudar
Não adianta tentar
Vai tudo se acabar mesmo
Quer saber de uma coisa?
Vamos viver nossas vidas enquanto não terminamos de destruir tudo
Vamo beber, ver tevê, nos entregar ao hedonismo apocalíptico
Que tudo vai se acabar mesmo
Ganhar um dinheirinho pra satisfazer nossos desejos de consumo
Enquanto o mundo não colapsa

É, é isso o que eu tinha a dizer
Cabou-se e que se dane o mundo
Porque vamos todos nos danar mesmo.
Autor: Robson Fernando


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