dengue: “CONTINUAREI A DIZER O QUE PENSO, MESMO QUE ISSO CONTRARIE VELHAS TEORIAS”



Os primeiro dados sobre a DENGUE foram estudados por Ashburn e Craig em 1909, que descobriram um agente infeccioso filtrável em sangue humano confirmando tratar-se de uma patologia de etiologia viral. No mesmo ano, Bancroft descreveu a forma de transmissão pelo mosquito Aedes aegypti.
Sabin e Schlesinger, durante a Segunda Guerra Mundial, isolaram os dois primeiros sorotipos do vírus do dengue, em 1944 - os sorotipos 1 e 2.
Nas Filipinas a dengue causou epidemias de 1901 a 1907 e, em 1956, Hammon e Col, isolaram os sorotipos 3 e 4 durante outra epidemia (dengue hemorrágico) ocorrida em Manila (Filipinas).
Passei a estudar esta patologia em 1993, ano que acompanhei os primeiros casos da doença, ao vir residir em Mato Grosso. Pouco se sabia sobre o assunto, como também o material para pesquisa era bastante reduzido. As mais diferentes suposições e teorias, de diversos pesquisadores estão publicadas. A grande maioria dos pesquisadores está seguindo uma linha que sugere a existência de vários e diferentes vírus.
Discordo desta teoria e minha hipótese envolve um vírus único.
As sorologias que apresentam diferenças, denominadas DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4, sorologias essas coletadas de diferentes indivíduos, que tiveram 1, 2 ou mais vezes a infecção. O equivoco ocorre pela falta de uma revisão mais aprofundada, um estudo das seqüenciais epidemias ocorridas, por região.
São necessários novos estudos (análise e enfoque diferente) em nível de moléculas e antígenos e as reações que ocorrem num primeiro contato com o vírus e as diferenças moleculares no caso de uma 2ª ou 3ª infecção, visando identificar e classificar cada sorotipo, e uma investigação sobre infecções sofridas pelo indivíduo em anos anteriores. Isso pode ser dificultado devido ao grande número de casos que passam sem registro, subnotificados pela falta de sorologias e isolamento viral, não solicitados pelo médico.
Mas atenção! “Sorotipo circulante” é o indivíduo que sofreu uma, duas ou três Dengues! Não existe “mosquitos do vírus ‘um’ ‘dois’ ou ‘três’”! Esta é a confusão que gera erros de avaliação e até mesmo dificuldades para se criar uma vacina.

TRÊS TEORIAS BUSCAM EXPLICAR A DENGUE HEMORRÁGICA:

o 1. Relaciona a Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) à virulência da cepa infectante, de modo que as formas mais graves sejam resultantes de cepas extremamente virulentas;
o 2. Na teoria de Halstead, a FHD se relaciona com infecções seqüenciais por diferentes sorotipos do vírus do Dengue, num período de 3 meses a 5 anos. Nessa teoria, a resposta imunológica na segunda infecção é exacerbada, o que resulta numa forma mais grave da doença;
o 3. Uma hipótese integral de multicausalidade tem sido proposta por autores cubanos, segundo a qual se aliam vários fatores de risco às teorias de Halstead e da virulência da cepa. A interação desses fatores de risco promoveria condições para a ocorrência da FHD:
Neste caso eu posso dizer o que penso mesmo que isso contrarie velhas teorias! Muitas vezes, quando não há explicação sobre o “porquê” de algum fato, surgem hipóteses diversas e, entre estas, uma poderá estar certa, mas, a confirmação, poderá envolver muito tempo de pesquisa até a conclusão final.
Analisando o desastre da dengue, por exemplo, não é tão difícil porque existem tantas contradições e equívocos, pois seguir velhas teorias ou hipóteses, sem rever fatos, discordar de dados, verificar a consistência dos dados obtidos pode provocar um desvio de graves conseqüências.
Utilizando amostragem sistemática, buscando números de pessoas infectadas numa determinada época, exemplo de Cuba, 1987.
Naquela ocasião, foram notificados 344.203 casos, com 34 mil casos de FHD, 10.312 das formas mais severas, 158 óbitos (101 em crianças). O custo estimado da epidemia foi de US$ 103 milhões,

No período de 1986 a outubro de 1999, foram registrados, no Brasil, 1.104.996 casos de dengue em dezenove dos vinte e sete Estados
A média anual, após 1986, foi de 78.928 casos/ano, ficando acima desse valor em 1987, com 82.446 casos; em 1990, com 103.336; em 1995, com 81.608; em 1996, com 87.434; em 1997, com 135.671; em 1998, com 363.010 e 1999, com 104.658 casos
Rio de Janeiro: em 1986/1987, novamente em 2002, o Rio de Janeiro foi castigado por uma epidemia de dengue, agora “com a entrada do vírus tipo 3”. Quase 290 mil pessoas contraíram a doença e 91 morreram em todo o Estado, sendo 65 mortes e 138 mil casos somente na capital. Foi o ano com mais casos de dengue na história do país, concentrados no Rio de Janeiro.
Em 2008, a doença volta a assustar os cariocas. Na atual epidemia(que amenizou a partir do mês de maio), já foram registrados quase 250 mil casos da doença e 174 mortes em todo o Estado (e outras 150 em investigação), sendo 100 mortes e 125 mil casos somente na cidade do Rio de Janeiro. A epidemia de 2008 superou, em número de vítimas fatais, a epidemia de 2002, onde 91 pessoas morreram.
Em 2009 novos casos surgem no Rio, pois cada epidemia envolve parte de um e outro ano.
COMPLICAÇÕES DESENCADEADAS:
No Rio de Janeiro um paciente necessitou uma cirurgia para retirada do baço, “Temos complicações que não conhecíamos, como problema pulmonar, no sistema nervoso central, problemas no coração. “Temos casos de crianças fazendo miocardite, que é uma inflamação no miocárdio”, disse Sousa, médico diretor do Hospital da Posse, que também está preocupado com os quadros em que grávidas são infectadas pelo vírus e podem transmitir a doença para o filho. Estas crianças, aos 04 de vida correm risco de sofrer uma segunda dengue, com reações mais fortes, podendo evoluir para o quadro hemorrágico e óbito, caso não recebam tratamento rápido e adequado. (G1 08/04/2008).
O que vemos pelo Brasil afora são médicos atestando as mais diferentes doenças quando se sabe que na realidade é Dengue. “Derrame no pulmão” foi um diagnóstico e, depois do óbito o atestado: ‘Leptospirose’... (no Acre).
O que está acontecendo? Por que médicos escondem a verdade sobre a Dengue? Ou eles realmente não sabem que é Dengue? Por que existem poucos médicos que se interessam na área de Medicina Tropical/Infectologia? Afinal, moramos num país tropical onde o número de doenças de origem infecciosas é bastante alto
AÇÕES NECESSÁRIAS E URGENTES

Gubler tem proposto, diante das dificuldades encontradas na luta contra o Aedes, a utilização de um sistema de vigilância ativa do dengue com o objetivo de detectar precocemente a ocorrência de epidemias.
Isto possibilitaria pôr em prática medidas de controle imediatas com o objetivo de reduzir a incidência e, desta forma, o risco de ocorrência do dengue hemorrágico.
Essa vigilância ativa estaria centrada principalmente na organização de um sistema de vigilância virológica, epidemiológica, clínica, sorológica e entomológica.
REVENDO VELHAS ESTRATÉGIAS

Acreditar que ações aleatórias possam resolver este grave quadro faz o problema aumentar a cada epidemia. Declarar que “houve redução de x%” na comparação entre um ano e outro também cria ilusão de redução de casos e isto não é verdade!
A partir do momento que decidi cursar Ciências Biológicas e, no mesmo ano de conclusão já busquei especialização na área de Entomologia Médica (estudo de vetores patogênicos ao homem e aos animais) enfrentei todo tipo de perseguição desencadeada por pessoas que ocupavam cargos mas não tinham nenhum comprometimento com o trabalho!
Muitas vezes senti essas pessoas mais preocupadas em atrapalhar minha pesquisa em vez de fazer o trabalho de combate ao mosquito! Montaram um processo de exoneração, após tentarem me forçar a desistir do curso, cortaram meu salário, me afastaram do setor da Dengue e mais: o mesmo grupo está me processando por que questiono em meus artigos seus erros cometidos! Aliás, estas mesmas pessoas estão me processando, porque estariam se sentindo ‘caluniadas’...
Ora, ora, e se eu decidir processar estas pessoas que, quando fui fazer o curso de especialização, me disseram as seguintes palavras de ‘incentivo’, rindo muito da própria piada: “Vai morar em baixo de uma ponte no Rio de Janeiro e beber carote de pinga”...???
Mas não fiquei embaixo da ponte, fiquei na residência de uma maravilhosa família que, mesmo não me conhecendo, abriu as portas da casa e do coração e me acolheu, apoiou e incentivou a prosseguir com este trabalho.
Não é meu hábito criticar por criticar, costumo apresentar projetos e soluções, embora meu projeto tenha permanecido “dormindo” em alguma gaveta ou tenha sido ‘arquivado’... Na cesta do lixo!
Eu questiono o Ministério da Saúde pela indicação de inseticidas errados e ineficientes no combate ao Aedes aegypti, e também por considerar índices de infestação de 1% como “normal”; discordo dos horários inadequados de aplicação e da falta do fumacê. E mais: se estas orientações estivessem corretas, não haveria casos de dengue ou epidemias...
Autor: Beatriz Antonieta Lopes


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