Filho da música



É como lança no ar, disposta a tropeçar nos ventos pela velocidade do som; é uma amamentação permanente sobre acordes soltos que se depuram entre dedos variáveis nas esquinas, nas praças, nos palcos, nas garagens, em quartos vazios; é voar solitário, e estando no ápice que se alcança, lança por sobre todos asas coloridas, e desnudo, cai em si mesmo, apagam-se as luzes, e já não existe mais nada; porque a música também é o silêncio mais insuportável do compasso entre uma nota e outra que se abraçam mais à frente, formando delírios, transformando-se em chaves que lentamente vão abrindo as mentes mais deprimidas; olhos vão se abrindo, ou se fechando para ouvir sua dança, no dominio de formas em madeira, pratos, cordas, extraindo da inércia o poder da sua existência.
O filho não tem saída. Precisa do leite, do deleite, precisa viver e sobreviver nela e por ela; ignorá-la, levará o filho para cavernas onde os sons poderão sim, tirá-lo dali; e como ondas, alcançam a sua cria, levanta-o da obscuridade, e o faz produzir em si mesmo, ventres multiplicados de criações que viajaram pelos séculos, pelas ruas, pelas praças, pelos palcos, pelas almas, pela vida, pelas ondas do rádio...
O filho da música nunca tem saída. Porque até no silêncio, ele ouve os ruídos das suas caixas torácicas. O filho da música vive de partos permanentes.
Autor: antônia amorosa


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