ANJOS E DEMÔNIOS



Anjos e Demônios: política, religião e ideologia
Por José Ricardo Martins*

O livro e o filme “Anjos e Demônios” de Dan Brown traz à cena novamente as discussões sobre religião, Igreja Católica, sociedades secretas, enfim, a antiga discussão entre ciência e religião. Para alimentar o acaloramento dos debates, o ex-Primeiro Ministro britânico, Tony Blair, em entrevista à revista americana Newsweek de 25 de maio de 2009 põe mais lenha na fogueira.
Blair afirma que no século XXI a fé religiosa será tão importante quanto a ideologia política foi no século passado. É fato que hoje em dia, por exemplo, o debate sobre direita e esquerda não são mais tão relevantes, já que os partidos políticos em vista de um maior número possível de votos e de constituir coalizões para governar, moveram-se para o centro. Tanto a esquerda, quanto a direita parecem mais partidos de centro do que nos anos 80 do século XX. Certamente, devido a esta menor polarização, as idéias políticas não têm mais o mesmo poder de atração dos tempos da Guerra Fria, onde o mundo era dividido entre os Estados Unidos e a União Soviética.
Esse vácuo é ocupado pelo discurso politizado e salvacionista da religião de todas as denominações. A religião, assim, exerce hoje um maior poder de atração que os discursos e ideologias políticas. A religião e sua degeneração em fanatismo religioso encontram terreno fértil na ausência de uma proposta política consistente. Não é necessário apenas querer automaticamente condenar o fanatismo religioso mulçumano. O fundamentalismo religioso não faz parte apenas dos cidadãos pobres e sem perspectivas de alguns países mulçumanos, como o Iraque, Irã, Afeganistão, Paquistão, entre outros. O fundamentalismo também habita países ricos como os Estados Unidos e outros como o Brasil.
Portanto, onde não há uma ideologia e um projeto político fortes, sendo capazes de trazer esperança e finalidade para a vida das pessoas, a religião traz. A religião hoje tem um poder de atração maior que as idéias políticas, pois é o consolo do presente ruim e conturbado e a promessa de um futuro melhor trazidos com a autoridade que nenhum político pode trazer: Deus. Em tempos de descrédito político como os atuais, certamente essa é uma competição injusta.
O uso das promessas de dias melhores e de salvação revestidos da autoridade de Deus, fez com que Marx chamasse a religião de ópio do povo que funcionava como uma droga que ajuda aliviar o sofrimento do presente e faz as pessoas viveram na esperança de um futuro melhor na outra vida. Ou seja, faz as pessoas abdicarem de sua condição de cidadãos, com direitos de uma vida digna, em troca de algo no futuro, ou melhor, na outra vida. É aqui que a ideologia política deixa de existir e cede lugar à ideologia religiosa. Com esse poder anestesiante das adversidades do presente, a religião foi sempre muito bem aproveitada pelo poder político. É quando o político faz uso da religião, e esta do político: uma prostituição nada divina.
Através de seu uso político, especialmente seu poder facilitador de atrair massas, eleger políticos, conquistar e manter canais de televisão, a religião é encarada como uma força que pode congregar as pessoas através da solidariedade e justiça social ou que pode desagregar através da divisão e do conflito. Afinal, se matou mais pessoas em nome de Deus na História da Humanidade do que qualquer outro motivo, como bem ilustra o filme.

*Mestrando em Sociologia, Especialista em Geopolítica e Relações Internacionais e Licenciado em Filosofia.
Autor: José Ricardo Martins


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