O MARKETING DA ENGANAÇÃO



Que atire a primeira pedra quem, nesses dias bicudos, não saiu de posto em posto de combustível em busca de um abastecimento mais em conta. Qualquer economia vale a pena. Os empresários do segmento, através de suas entidades classistas, tem acesso a pesquisas comportamentais e sabem exatamente como atrair o consumidor para suas instalações. Não é à toa que, a esmagadora maioria dos postos de combustível, se transformou em mini centros de compras, com excelentes lojas de conveniência e outros serviços.

Também mudou, significativamente, o layout dos postos. Os antigos e fedorentos postos de gasolina – muitas vezes a céu aberto –, com frentistas sujos, mal educados e exalando desodorante vencido, deram lugar a modernas e bem planejadas instalações, onde é possível abastecer o carro com conforto, segurança e relativa excelência no serviço.

Os postos também se transformaram em ponto de encontro da moçada jovem, que encontram ali um ambiente para a prévia das festas e, mesmo em dias de Lei Seca, o local perfeito para fazer a “base”, se divertir, exibir “as mina” e o som do carrão. Mas isso tudo é acessório e salvo em casos de emergência ou de clientes encantados o grande chamariz é mesmo o preço do combustível praticado na bomba.

Os postos, pra disfarçar a formação de cartel, criaram uma nova moeda! Uma fração de dinheiro que não existe na prática, mas que legalmente ninguém pode acusá-los de praticar o mesmo preço. Tente abastecer apenas um litro e pedir troco para R$ 2,497...

Se ficarmos atentos aos cardápios de preços expostos – e obrigatórios – nas entradas dos estabelecimentos, vamos encontrar valores que variam na escala R$ 2,473, R$ 2,532, R$ 2,649 etc, e o consumidor, desavisado, acaba por não fazer as contas da verdadeira economia na hora de encher o tanque, por que é natural que nos empolguemos a abastecer pelo valor visualmente mais barato. Mas se fizermos as contas, às vezes gastamos mais nos deslocando para um posto mais distante ou comprometendo o funcionamento do carro comprando um combustível de qualidade duvidosa por uma economia de araque.

Façamos as contas:

O posto “A” oferece a gasolina por apenas R$ 2,497, O posto “B” R$ 2,523, o posto “C” vende o combustível por R$ 2,545 e por último, o posto “D” pratica a bagatela de R$ 2,569 por litro.

Considerando um abastecimento de quarenta litros a diferença entre o primeiro e o ultimo posto é de apenas R$ 2,88, ou seja, a variação entre o mais caro e o mais barato é de R$ 0,08 e tem gente que pega uma tremenda fila para economizar R$ 0,08 por litro.
Ta certo que pra quem consome 100 litros por semana, nesse meu raciocínio, vai economizar R$ 96,00 por ano. O que não é pouca coisa em se tratando de economia, mas a discussão não é a economia, é o marketing da enganação. Ou seja, levar o consumidor a acreditar que está fazendo um grande negócio ou que está participando de uma grande promoção de preço.

O mesmo raciocínio se aplica para o abastecimento com gasolina comum ou aditivada. Muitas vezes a diferença entre o abastecimento com o combustível de melhor qualidade não chega a um real em um tanque cheio, mas a diferença visual do preço na bomba faz com que o cliente opte pelo combustível comum. Nem sei se a gasolina comum remunera o posto com um percentual maior que a aditivada, mas na média o estímulo é para o consumo da comum.

Eu, da minha parte, só abasteço em local confiável, onde o combustível é garantido e sempre faço as continhas desse dinheiro que os postos inventaram pra não comprar gato por lebre. Ah! Outra coisa que também não entra na minha cabeça é posto de combustível não aceitar cartão de crédito. O posto ao lado da minha casa – que não aceita – nunca viu a cor do meu dinheiro, e olha que é um baita postão!

Nelson Gonçalves
www.nelsongoncalves.net
Autor: Nelson Gonçalves


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