Ludicidade no Contexto Hospitalar



Autor: Douglas Moraes Machado, acadêmico do Curso de Letras da URI - Campus Santiago.
Orientador(a): Prof.Mcs Cintia Andréa Dornelles Teixeira.

A educação está no centro das principais questões e temáticas sobre o comportamento humano. Pensar o ser humano fora de uma perspectiva educacional, que o perceba como um ser social em constante desenvolvimento é excluí-lo do que lhe é mais peculiar: sua capacidade de criar novos significados a todo instante, dando sempre um novo sentido às suas ações, criando e recriando sempre novos caminhos frente às situações diversas vividas em seu cotidiano.
Segundo Franco (2005): “à medida que a sociedade se tornou tão complexa, há que se expandir à intencionalidade educativa para diversos contextos, abrangendo diferentes tipos de formação necessários ao exercício pleno da cidadania”. De maneira geral, pode-se dizer que a educação é o processo pelo qual são transmitidos ao individuo os conhecimentos e atitudes necessários para que ele tenha condições de integrar-se à sociedade.
No Brasil são ainda alarmantes os índices de evasão e diversos motivos que levem a criança a distanciar-se da escola. Alguns desses motivos são imposições que mesmo contrariando sua vontade, precisam ser aceitos, como por exemplo, o problema da criança hospitalizada que precisa afastar-se da escola por tempo indeterminado.
Sabemos que a Pedagogia é um campo de atuação da educação que tem um cunho interdisciplinar onde encaixam-se todas as áreas do conhecimento, e que o profissional dessa área é o mais apto a mediar e nortear a educação, que por sua vez é guiada por conta da existência de objetivos educacionais. Por outro lado, sabemos que o ambiente hospitalar, é um centro de referência e tratamento de saúde, que acaba por gerar um ambiente muitas vezes de dor, frustrações, ansiedade, sofrimento, causando assim uma forma de extrusão dessas crianças e adolescentes com laços que mantém com seu cotidiano e produção da existência da construção de sua própria aprendizagem. Mediante a problemática de saúde que requeriam hospitalização, independente do tempo de internação, através das políticas públicas e estudos acadêmicos, surge a necessidade da implantação da Pedagogia Hospitalar, atendimento este reconhecido pela legislação brasileira com direito de continuidade de escolarização aquelas crianças e adolescentes que encontram hospitalizados (CNDCA 1995).
Pode-se dizer que ludicidade é a capacidade de se ensinar e de aprender através de brincadeiras. Aprender brincando. Ensinar brincando. O lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana. Caracterizando-se por ser espontâneo, funcional e satisfatório. Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o movimento vivido. São lúdicas as atividades que propiciem a vivência plena do aqui-agora, integrando a ação, o pensamento e o sentimento. Tais atividades podem ser uma brincadeira, um jogo ou qualquer outra que possibilite instaurar um estado de inteireza: uma dinâmica de integração grupal ou de sensibilização, um trabalho de recorte e colagem, uma das muitas expressões dos jogos dramáticos, exercícios de relaxamento e respiração, uma ciranda, movimentos expressivos, atividades rítmicas, entre outras tantas possibilidades. Mais importante, porém, do que o tipo de atividade é a forma como é orientada e como é experienciada, e o por quê de estar sendo realizada.
Enfim o lúdico é muito importante no desenvolvimento da aprendizagem de crianças hospitalizadas, pois ali, naquele momento de internação as mesmas ficam afastadas da escola e o mesmo, além de ser uma forma de criar e recriar também é um instrumento de aprendizagem. Através dele as crianças de uma maneira confortável e alegre aprendem novos conceitos, conhecem novas pessoas e também podem entender o momento pelo qual está passando.
A educação é um direito de toda e qualquer criança ou adolescente, e isso inclui o universo da criança e do adolescente hospitalizado. A legislação brasileira reconhece tal direito através da Constituição Federal de 1988, da Lei n. 1.044/69, da Lei n. 6.202/75, da Lei n. 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, da Resolução n. 41/95 do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Lei n. 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, da Resolução n.02/01 do Conselho Nacional de Educação. A esta modalidade de atendimento educacional denomina-se Classe Hospitalar, que segundo a Política Nacional de Educação Especial, publicada pelo MEC – Ministério da Educação e da Cultura, em Brasília, em 1994, visa ao atendimento pedagógico ás crianças e adolescentes que, devido às condições especiais de saúde, encontram-se hospitalizados.
A hospitalização, geralmente é traumática em qualquer classe social, pois a criança deixa sua família e seu ambiente natural e passa a viver em um ambiente estranho e com pessoas diferentes.
Sendo uma experiência bastante estressante para a criança, a mesma pode apresentar reações emocionais e regressões, podendo levar a repercussões negativas no seu comportamento durante e após a hospitalização (ALMEIDA, SABTES, 2008).
A brinquedoteca hospitalar é um espaço criado para favorecer a brincadeira dentro do hospital, podendo ser um espaço de recreação onde a criança tem a oportunidade de expressar seus sentimentos, conscientes ou inconscientes. Os objetivos da mesma são: Amenizar o sofrimento causado pela doença e pela íngreme separação do convívio social (Família, Amigos, Escola, Objetos pessoais, Animais de Estimação) por meio da representação de sentimentos como: medo, angústia, saudade, tensão e outros; Favorecer a externalização e elaboração de conteúdos do mundo mental da criança; Proporcionar espaço lúdico para crianças hospitalizadas e momentos de descontração, estimulando a expressão e comunicação da imagem da realidade em que estão inseridas; Promover a integração entre a criança, a família, a escola e o hospital, amenizando os traumas da internação e contribuindo para a interação social; Aproximar a vivência da criança no hospital à sua rotina diária anterior ao internamento, utilizando o conhecimento como forma de emancipação e formação humana; Fortalecer o vinculo com a criança hospitalizada, possibilitando o fazer pedagógico na pratica educacional dos ambientes hospitalares; Oferecer a criança hospitalizada a possibilidade de, mesmo estando em ambiente hospitalar, ter acesso a educação.
Pelo longo período de internação que a criança sofre, a mesma, não pode ser prejudicada, neste contexto, o pedagogo é o agente de mudanças, pois “entende que o escolar doente não é um escolar comum, ele se diferencia por estar acometido de moléstia, razão pela qual precisou de cuidados médicos, bem como necessita ainda de ajuda para vencer as conseqüências de sua própria doença”.(MATOS, MUGGIATTI, 2001)
O trabalho do pedagogo no hospital é propiciar uma atividade educativa visando a formação integral a criança enferma com objetivo de amenizar o possível estresse e desmotivação causado pela internação.
O brinquedo tem um papel importante quando utilizado com crianças hospitalizadas. Segundo Martins (2001), brincar é a atividade mais importante da vida da criança e é crucial para seu desenvolvimento motor, emocional, mental e social.
A brinquedoteca hospitalar é um espaço onde faz renascer nas crianças a alegria, o encantamento, a fantasia, bem como propicia o fortalecimento das relações que ali se estabelecem.
Uma finalidade da brinquedoteca hospitalar é preparar a criança para voltar ao lar. Se a permanência foi longa, alguns vínculos podem ter sido rompidos e ela pode precisar de ajuda para se readaptar. Até porque, em certos casos, voltar pode ser pior do que ficar. Pode acontecer também que, no hospital, ela tenha encontrado mais atenção e alimento do que em sua própria casa infelizmente é uma situação muito triste, mas, é uma realidade que acontece freqüentemente.
Autor: Douglas Moraes Machado


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