A CRISE FINANCEIRA: O MERCADO ESTÁ NERVOSO?



Introdução



Em análise sociopolítica do sistema financeiro no capitalismo contemporâneo foi possível analisar a crise financeira de modo muito esclarecedor. A inserção de uma análise sociológica debruçando-se ao entendimento da crise me introduziu a um novo “pensar”, em principio, a teoria econômica não como uma verdade única, mas como construção de um pensamento com base sociológica e de pensamento mais complexo, o contemporâneo. Ao encontrar e observar, o resgate de uma sociologia econômica, a nova sociologia econômica, a principio, foi possível entender em linhas paralelas em que horas se cruzam ou seguem outros rumos, como ‘estradas de ferro’, os aspectos da crise financeira mundial em um viés “puramente” econômico com o sociológico trazendo em sua pauta do dia o pensamento econômico a Crise financeira mundial 2007-2009.
Antes disso encontrava a economia em três correntes e suas subcorrentes explicando a crise a partir de uma construção teórica fundamentada e ao mesmo tempo “auto-explicativa” nos meios de comunicação nacionais, com pressupostos ou axiomas “exatos” (causa e efeito) e desconexos. Mas as correntes, a saber: (i) economia neoclássica, (ii) economia Keynesiana, e sobre tudo (iii) economia marxista davam conta de explicar mas sempre em confronto umas com as outras, o que verificava obviamente como qualquer estudante de economia saído do berço da academia. Grande parte desta observação, obtida em aulas de economia macro (I, II e III) e microeconômica (I e II), econômica monetária e internacional, e economia marxista (I e II) foram complementadas e repensadas, em grande parte nesta disciplina de pós- graduação.
O objetivo deste artigo é demonstrar o conhecimento inicial obtido nesta disciplina ao qual me introduziu ao conhecimento prévio sobre Crise financeira mundial e brasileira resultando rapidamente na realização de um mini-curso na forma de socialização do conhecimento (Aspectos teóricos da crise financeira) apresentado no Encontro Nacional dos Estudantes de Economia (ENECO), restringindo-se ao tema que ajudei a apresentar em sala, ao qual participaram cerca de 120 alunos de graduação durante três dias (UNICAMP, UFF, UFMT, UFRJ, UFES, UFRRJ, UFSC e UFPR). Com interesse em compreender a crise financeira a partir de 2007. O primeiro interesse foi desconstruir, de certa forma e a princípio, a “ideologia neoliberal” apresentados nos noticiários, assim debatendo os fundamentos teóricos como base no pensamento Pós Keynesianos, é claro.


1 Um mercado, um problema, um minuto!

Os neoliberais brasileiros não parecem se importar com a estrutura social mesmo a conhecendo em seu intimo mergulho nas teorias “economicistas”. O mercado nos aparece como “o mercado” fora de qualquer esfera de conhecimento e aos ao mesmo tempo em todas elas, autônomo, algo que deve ser “cortejado” desde o Brasil império. Mas talvez Dom Pedro fosse mais “liberal” em seu tempo do que os liberais de hoje o são, ou não, respeitando as diferentes estruturas postas nestes momentos distintos. O que se percebe é que a ideologia neoliberal tem aparecido nos noticiários e nos jornais como a verdade dos fatos sobre a “crise da globalização”, fazendo grandes “lavagens cerebrais”, esclarecendo de forma determinativa, impondo, e conservando o entendimento da crise.
Estas premissas econômicas podem ser fundamentadas ou encontradas principalmente nos de uma economia de manuais didáticos cuja densa explicação esta na sustentação primeira dos axiomas neoclássicos: (i) O consumidor é capaz de ordenar as cestas de mercadorias segundo preferência (racionalidade); (ii) O consumidor prefere mais a menos, a exceção é para os bens indesejáveis como, por exemplo, a poluição (não saciedade); (iii) O consumidor tem um conjunto completo de alternativas de escolha para ordenar as cestas, assim, o consumidor pode preferir A e B, ou preferir B e C, ou ainda ser indiferente a ambas (integralidade); e se os consumidores preferem o bem A em relação a B, e prefere B a C, então prefere A a C (transitividade). Desta forma o mercado se auto-regula por si só, é causa e possui seus efeitos.
Num primeiro momento da Crise da “Globalização” Parece “logo”, que a sociedade está somente dividida entre consumidores. O meio de comunicação, televisivo brasileiro demonstra naqueles noticiários depois das dezoito horas confundir força de trabalho com trabalho, riqueza com PIB, etc. Assim coloca em algumas vezes o estado nacional como empecilho a distribuição de renda, e finalmente a crise financeira mundial como crise norte-americana, em que gradativamente vai mostrando os resultados de forma fetichista: Crise é marolinha (Jornal Nacional/ declaração do governo lula), O fortalecimento do estado nacional (O GLOBO), Fusões empresarias (VEJA/Darwinismo social), Funcionários e empresas entram em concessão para diminuir carga de trabalho (Diário Catarinense).
O mercado está nervoso, hora o mercado está mais tranqüilo, parecendo uma instituição que determina todas as relações da vida econômica subordinando a social, instituições que se auto-regulam, O MERCADO. As instituições financeiras contemporâneas parecem ser instituições com certa autonomia, mas nunca podem assumir o caráter com “um fim em si mesmo”, penso eu. Desde a as empresas de papel celulose até as instituições que detêm maior “importância” (bancos centrais), emissores de papel-moeda com lastro fetichista são construções sociais que se transformam devido à interação entre atores sociais nas suas diversas singularidades. Assim com a financeirização num grau de desenvolvimento da riqueza econômica, com as empresas anônimas, determinado a produção, requer explicações mais coerentes. Podemos iniciar o entendimento da crise financeira que se instala, com algumas ressalvas:

As pessoas imaginam profundas articulações onde, em geral, há mecanismos bastante simples. Nada como alguns exemplos para ver como funciona. Há poucos anos estourou o desastre da Enron, uma das maiores e mais conceituadas multinacionais americanas. Foi uma crise financeira e um dos principais mecanismos de geração fraudulenta de recursos fictícios, foi um charme de simplicidade. Manda-se um laranja qualquer abrir uma empresa laranja num paraíso fiscal como Belize. Esta empresa reconhece por documento uma dívida de, por exemplo, 100 milhões de dólares. Esta dívida entra na contabilidade da Enron como “ativo”, e melhora a imagem financeira da empresa. Os balanços publicados ficam mais positivos, o que eleva a confiança dos compradores de ações. As ações sobem o que valoriza a empresa, que passa a valer os cem milhões suplementares que dizia ter. (DOWBOR, 2008)

Mesmo com a fraudulência e empresas fantasmas a crise financeira esta desconexa, onde não se consegue nem entender as relações entre as coisas. Somente integrando outras considerações pode-se assim entender as relações econômicas que se estabelecem no andar do desenvolvimento complexo que é a sociedade contemporânea a partir da concepção brasileira de sociedade. Através dos Dossiês (AKB), podemos perceber que o mercado financeiro vinha num processo de desregulamentação do capital financeiro nas últimas décadas, posteriormente ao acordo de Bretton Woods, mesmo no Tratado da Basiléia, e Acordos da Basiléia I e II.
De fato, em verdade, a busca pela valorização máxima do capital, que não retorna a esfera produtiva, desembocou em conseqüências desastrosas, e continuará mostrando a fragilidade do sistema econômico, de mercado auto-regulado, conforme defende a teoria neoclássica, sem que aja uma mão visível.

2 Keynes e o Keynesianismo

A essência do argumento de Keynes só aparece de forma clara e definitiva na Teoria Geral, conforme ele mesmo define: a palavra Geral faz “ressaltar o contraste entre os meus argumentos e a conclusão e os da Teoria clássica (Say, Pigou, Marshal e predecessores) em que me formei, e que agora governa meu pensamento econômico, tanto prático como teórico, dos meios acadêmicos e dirigentes desta geração, tal como os dominou no curso dos últimos cem anos” (Keynes, J. M. 1957.p 13). É principalmente em seu capítulo 17, desta mesma obra, que sintetiza sua teoria monetária. Em primeira aproximação, trata-se do conceito de preferência pela liquidez, ao qual veremos seu conceito e suas especificidades a seguir. Ainda, o que poucos tenham notado, e parece só ter sido devidamente esmiuçado por Minsky nos anos 1970, a novidade radical deste conceito não está nas suas conseqüências, mas nas suas causas. Assim, sua análise monetária deve ser integrada à uma teoria mais geral, a do capital. As obras de Keynes mostram que suas preocupações estavam sempre ligadas a questão prática, á política de conjuntura (contabilidade social - valores agregados). Ele não parecia interessado em construir uma teoria econômica a partir da análise do valor, mas em verificar por que motivo as teses marginalistas, as quais eram muito influentes, conduziam uma política econômica inconsistente, chegando, então, a contestar o conjunto de dogmas sobre os quais repousava o marginalismo escrito durante os anos da grande depressão, pós 1930. A saber, o marginalismo, conceituando grosseiramente, era a teoria utilitarista sobre bens e serviços. Segundo essa corrente, acreditava-se que uma economia de mercado encontrava “naturalmente” seu equilíbrio numa situação em que todos os que desejassem trabalhar por uma remuneração correspondente a sua produtividade poderiam fazê-lo. Neste modelo econômico jamais poderia haver superprodução, incorporando à antiga lei de mercado de Say, num regime de liberdade de comércio a produção cria seu próprio mercado.
Desta forma, a economia pode encontrar seu nível de equilíbrio mesmo com uma alta taxa de desemprego – conforme os marginalistas - e assim permanecer. No entanto, isso não solucionaria a crise. Assim, Keynes invoca a importância do papel do Estado, no sentido de intervir com uma política de investimentos e incentivos para sustentar a demanda efetiva, mantendo altos níveis de renda e emprego, de modo que, a cada elevação da renda, o consumo e investimento também cresçam.
Muitos teóricos, antes da crise de 1929, já haviam antecipado suas teses no sentido de previni-la, como Myrdal e Kalecki. Mas a teoria de Keynes ofereceu soluções concretas e subsídios para o entendimento dos problemas conjunturais. O Pleno emprego tornou-se um objetivo explicito, e os instrumentos de política econômica do estado foram postos em ação.
O sistema Bretton Woods foi o primeiro exemplo, na história mundial, de uma ordem monetária totalmente negociada, tendo como objetivo governar as relações monetárias entre Nações-Estado independentes. Em 1944, Keynes representou a Inglaterra na Conferência Monetária de Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário Internacional ((FMI (emprestamista de ultima instância)). Na ocasião, propôs o abandono do padrão-ouro (toda emissão de moeda deveria ter lastro em reservas de ouro) e a estabilização internacional da moeda. Em síntese: com representantes de 44 países, planejaram a estabilização da economia internacional e das moedas nacionais prejudicadas pela segunda guerra mundial.
Um alto nível de concordância entre os países sobre as metas e meios do gerenciamento econômico internacional facilitou em muito as decisões tomadas pela Conferência de Bretton Woods. A fundação daquele acordo foi uma crença comum no Capitalismo intervencionista. Apesar de os países desenvolvidos diferirem quanto ao tipo de intervenções que preferiam para suas economias nacionais, todos, no entanto, baseavam-se predominantemente em mecanismos de mercado e na noção de propriedade privada.
Keynes trabalha com conceitos próprios, resumidamente: Demanda efetiva: com a demanda determinando a produção efetiva da economia (contrariando a li de Say), Pleno Emprego: quando em uma economia todos os fatores de produção (trabalho, capital e insumos) estão sendo utilizados em sua máxima capacidade. Assim para Keynes era possível que a economia operasse abaixo do nível de pleno emprego, pois a produção seria determinada pela demanda efetiva. A preferência pela liquidez: liquidez no sentido de verificar a velocidade de conversão de um ativo em moeda, A saber, a demanda pela moeda ou preferência pela liquidez em Keynes é um atributo que já decorre da natureza da economia capitalista.
Segundo (Keynes, J. M. 1957) “a separação da propriedade e a gestão do capital, que prevalece atualmente, bem como o desenvolvimento dos mercados financeiros organizados, fizeram intervir um novo fator de grande importância, que às vezes facilita o investimento, mas também por vezes contribui para agravar a instabilidade do sistema financeiro”. Esta instabilidade financeira



3 Crise financeira (EUA) para os pós Keynesianos (dossiê)

O início deste processo de crise financeira (2007-2009) se dá deste modo: “Toma-se certo número de contratos de hipotecas, que prometem pagar uma determinada taxa de juros, para usar como base, ou lastro, de um título financeiro (cuja remuneração é baseada nos juros pagos pelo tomador da hipoteca). Esse título é, então, vendido para fundos Num primeiro momento, através de CARVALHO (2008), mostra a intervenção do FED em manter a taxa de juros básica baixas durante a década de 1990, o que já vinha acontecendo na década anterior, de modo que os ganhos dos bancos e financeiras daquele País (EUA) nas aplicações tradicionais, proporcionais à taxa de juros fixada pelo FED, se mantivessem também geralmente baixos, diferentemente dos anos 1970. Deste modo, a década dos 1990, para o sistema financeiro foi marcada, por um lado, pela existência de fortes pressões competitivas com financeiras invadindo o espaço de bancos, e vice-versa, e, por outro, pelos ganhos relativamente baixos dos mercados tradicionais de empréstimos a firmas, consumidores e governos. Assim, a busca por novos mercados (de maiores riscos) que fossem mais atrativos (lucro) tornaram-se importante: empréstimos a países emergentes e imobiliários norte-americano. de investimento, famílias ricas, empresas com dinheiro para aplicar, bancos etc. Uma das vantagens desse processo é que o comprador desse papel em geral não tem muita noção do risco que está comprando, porque ele não vê as hipotecas que lhe servem de lastro. Restava, naturalmente, convencer as pessoas a tomar esses empréstimos”.
Com a inadimplência dos tomadores hipotecários de pagar os juros se tornou fato e logo em seguida se alastrou, verificou-se o “risco de liquidez” por que passava os investidos. Assim a desconfiança no mercado começou a atingir outros papeis, desencadeando a crise a urgência de novos planos para conter o pânico generalizado.
Para CINTRA (2008) “Numa crise de crédito clássica, a somatória dos prejuízos potenciais (correspondente aos empréstimos concedidos com baixo nível de garantias) e sua distribuição já seriam conhecidas, enquanto que na atual configuração dos sistemas financeiros, os derivativos de crédito e os produtos estruturados lastreados em crédito imobiliário replicaram e multiplicaram tais prejuízos por um fator desconhecido e redistribuíram, globalmente, os riscos deles decorrentes para uma grande variedade de instituições financeiras”. Outra consideração a ser feita é que o “congelamento dos balanços” também se fez necessário neste momento, mas já vinham num processo fraudulento muito antes do início da crise.


Fonte: Folha de São Paulo (2008)

Uma proposta dos Estados Unidos para “remediar” a crise era uma nova regulação baseada na “ampliação dos poderes do FED” para supervisionar, além das holdings financeiras, os bancos de investimentos, seguradoras, e fundos de investimento. “É preciso reconhecer, contudo, a capacidade limitada da regulação e supervisão financeira, em controlar a qualidade dos créditos detidos pelo sistema bancário em face desse tipo de risco e do caráter inerentemente instável da atividade financeira. Porém é HERMANN (2008) sintetiza com mais clareza: “A relação inevitável entre crescimento e endividamento, aliada à possibilidade, sempre presente, de que este resulte em crise financeira é a essência da “hipótese de fragilidade financeira” de Minsk, ainda, o problema é que as expectativas que motivam (ou não) a emissão e aquisição de dívidas são em parte ancoradas em avaliações objetivas e, em parte, no que Keynes chamou de “otimismo [ou pessimismo] espontâneo”. Assim, um quadro de crise financeira sistêmica só se configura se a crise de crédito der origem a uma crise de confiança. A partir desta concepção podemos derivar o pensamento a respeito do que é o sistema financeiro e aproximar o entendimento da crise mas ainda não entender por completo a interação entre os atores sociais dentro das corporações e assim os seus laços que podem melhorar e conectar fragmentos dispersos no entendimento da Crise financeira 2007-2009.

Fontes bibliográficas

DOWBOR, L. Dossiê de textos recebidos e selecionados sobre a crise financeira, posicionamentos mais significativos. 2008. Textos na íntegra. http://dowbor.org/crise.asp
DOSSIÊ SOBRE A CRISE I. Associação Keynesiana Brasileira (2008) Website: http://www.ppge.ufrgs.br/akb Novembro de 2008
GARLIPP, J. R. D. (1996). Marx, Keynes & Polanyi e a economia desregrada. Cod. JEL: P16, 1996.
MEIRELLES, A. J. A. (1995). Moeda e Produção. Ed. Mercado de Letras (Unicamp). São Paulo, 1995.
SANDRONI, P (2005). Dicionário de economia do século XXI. Ed. Record. Rio de Janeiro – São Paulo, 2005.
SCHERER, André Luís Forti e CINTRA, Marcos Antônio Macedo (2008). "Pensar o impensável": o desenrolar da crise global. São Paulo, Princípios, nº 95, maio 2008.
Autor: Julio Cesar Lopes Borges


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