Eu tenho medo de Marina Silva!



Sim, ela inspira medo. Apesar de ter aparecido como a pessoa que faltava para quem não gosta de Dilma nem de Serra nem de Aécio e ser tão louvada atualmente por sua história de vida e luta ambientalista, ela assusta quanto a propostas suas relativas à educação, ao progresso científico e à própria política e pelos riscos que a liberdade religiosa no Brasil sofreria num governo seu. Evangélica e criacionista convicta, apoiou a ascensão do evangelho cristão na política em 2006 e desejou em 2008 uma “invasão” da Gênese cristã na pesquisa científica e na educação, por isso sua possível vitória em 2010 soa de fato ameaçadora.

Ela seria a candidata mais próxima da excelência se comparada com os prés Dilma Rousseff, José Serra e Aécio Neves. Isso pode-se dizer porque, enquanto ela foi ministra do Meio Ambiente, travou bravamente batalhas contra os interesses de ministérios – incluindo a Casa-Civil da própria Dilma – e empresários que pretendiam destruir mais e mais paisagens naturais em nome do progresso e do desenvolvimento e ajudou o Governo Lula a reagir com rapidez quando foram denunciadas altíssimas taxas de desmatamento na Amazônia. Além do mais, seu passado de mulher pobre, trabalhadora e muito lutadora lhe dá, assim como deu a Lula, o caráter de pessoa identificável com o povo. Nesses pontos, ela se mostra um encanto.

Mas ninguém é perfeito/a, muito menos ela. Ela queimou o seu filme perante ateus/ateias, agnósticos/as, candomblecistas, budistas, hindus e outras minorias não-cristãs em dois momentos: agosto de 2006, quando defendeu a ascensão evangélica na política brasileira, e janeiro de 2008, quando, entrevistada pelo blog adventista “éoqhá” (http://eoqha.net/criacionismo/111-entrevista-com-a-ministra-do-meio-ambiente-marina-silva/), deu opiniões sobre criacionismo, ciência e educação que deixaram as referidas categorias de credo alvoroçadas.

Segundo ela, a narrativa bíblica da criação do mundo, da vida e dos seres humanos literalmente considerada deveria ser ensinada “em pé de igualdade” com as teorias científicas que incluem o Big Bang,a abiogênese primordial e o evolucionismo nas escolas, sob o pretexto da “liberdade de escolha”. A ciência para ela também deveria aceitar a incorporação da fé assim como esta teria aceito os ensinamentos científicos. Com seu nome entre a lista das pré-candidaturas presidenciais, tais afirmações transformaram-se em ameaças.

Pela declaração dela feita em 2008, a educação laica se vê sob o perigo de ter que abandonar o seu laicismo e ensinar o criacionismo para gente de todas as crenças e descrenças. E subtende-se que serão apenas duas “opções” – o mito cristão e as teorias científicas – porque, quando Marina preconizou a tal “liberdade de opção” sobre no que crer, faltou dizer que essa liberdade abrangeria a abordagem também igualitária de tantos outros mitos cosmogônicos diferentes – indígenas, candomblecista, hinduísta, xintoísta, muçulmano, greco-romano etc.

Religião, num ensino laico, só tem espaço em disciplinas que tenham espaço reservado à abordagem de culturas e crenças, e com as devidas explicações dos significados contidos nas narrativas mitológicas. Nesse contexto, o cristianismo abordado por tais matérias é apenas uma entre as mais diversas religiões abordadas, nunca a melhor ou a mais verdadeira.

Elevar no ensino os ditados literalmente interpretados da Bíblia ao status de “teoria alternativa” com o mesmo peso que o ensinamento científico – este que tem reservadas para si a Biologia, a Química, a Física e a Geografia Física – implicaria tornar o cristianismo superior às demais crenças religiosas na escola e também incorporá-lo às disciplinas de Ciências Naturais – considerando-se que, para se igualar à ciência, não poderia caber mais apenas em uma ou duas matérias ligadas apenas à cultura.

Conclui-se assim que o desejo educacional expresso por Marina naquela entrevista é perverso porque ameaça desgarrar a neutralidade religiosa da educação brasileira. Cristã(o)s podem ter gostado da ideia pela possibilidade de verem sua fé ser propagada, mas as pessoas que não compartilham da fé deles/as, podem ter certeza, odiaram e odiarão. Tudo o que não precisamos hoje é de criacionismo nas aulas das ciências naturais.

E não é só a educação que estará em maus lençóis: caso Marina Silva não mude de ideia e depois ainda vença o pleito e aplique como política pública sua proposta de fomentar que a ciência abrace a fé, a pesquisa científica no Brasil também sofrerá uma bagunçada.

O que seria de pesquisas sérias envolvendo estudos evolucionistas e cosmológicos, os quais não provam a inexistência do deus cristão mas descartam os mitos bíblicos do Gênesis e do Apocalipse? E quanto a uma possível ascensão da pseudociência direcionada a legitimar a “teoria” criacionista? Veríamos muitos/as novos/as professores/as de criacionismo da estirpe de Adauto Lourenço por aí? Não se sabe ainda, mas as hipóteses mais prováveis para essas indagações não são nada agradáveis para quem preza pela seriedade da ciência.

O criacionismo da ex-ministra não é o único problema. Ela também já demonstrou apoio ao crescimento da religião evangélica na política, numa reunião com líderes protestantes e pentecostais acontecida em agosto de 2006 (http://noticias.gospelmais.com.br/ministra-marina-silva-se-reune-com-liderancas-evangelicas.html).

Entre suas declarações, passagens bisonhas como:
- “Você pode escolher ser um político que tem a esperteza do mundo ou um político que tem o Espírito de Deus. A esperteza do mundo é passageira e se você a escolher saiba que a primeira coisa que vai acontecer é que o Espírito de Deus irá se afastar de você.”
- “Temos nossa parcela para oferecer para a política, para a economia e para todos os setores da sociedade. A Palavra de Deus nos ensina em quem devemos votar. Basta olharmos o que diz e compararmos com os candidatos. Se ele se encaixar nos princípios bíblicos merece nosso voto”

O Artigo 19 da Constituição e o inciso VI do Artigo 5º ainda estão no caminho de seus desejos de glorificar a “vontade de Deus” em Brasília, mas muitas pessoas religiosas e até o próprio Congresso o ignoram quando permitem a intervenção cristã em discussões sobre, por exemplo, aborto, eutanásia humana e células-tronco, decoram as assembleias legislativas federal, estaduais e municipais e fóruns judiciários com crucifixos e inibem investigações a processar políticos religiosos envolvidos em corrupção, estelionato e outros crimes.

Marina Silva, caso não volte atrás do que já disse, poderá valorizar o poder, as ações e as decisões da bancada evangélica, e isso é assustador para o futuro, especialmente para os/as brasileiros/as não-cristã(o)s e também católicos/as.

Caso ela, uma vez eleita, não recue de suas intenções cristãs e antilaicas para a educação, o desenvolvimento científico e a política e não adote uma posição de respeito à diversidade de crenças e descrenças, o futuro brasileiro em suas mãos presidenciais não é dos bons. É muito tentador voltar em quem se firma como alternativa à bipolaridade pré-eleitoral PT X PSDB que desanima o Brasil, mas precisamos ser racionais na hora de votar.

Fica a recomendação: se não quisermos tornar o Brasil uma nebulosa república evangélica de fato, deveremos esperar Marina desistir de suas pretensões religiosas para o poder e começar a respeitar o laicismo nacional para então pensarmos em votar nela. Não adianta uma presidenta ser ambientalmente maravilhosa mas figurar como ameaçadora quanto a vários outros pontos de importância não menor.

Com a palavra, Marina Silva, que, por tudo isso, deve explicações a grande parte da população, que não compartilha da fé dela.
Autor: Robson Fernando


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