QUAL A AULA IDEAL?



Esta pergunta tem sido um dos maiores dilemas dos educadores que sempre são pressionados no sentido de produzir aulas interessantes , que envolvam os alunos , que tenham relação com sua vida e que possam mobilizar os alunos transformando – os em cidadãos ativos e conscientes preparados para a cidadania, para o mundo do trabalho e para a vida. Talvez na teoria isso seja possível mas na prática trata – se de um processo difícil de se realizar talvez daí seria importante reconhecer o trabalho heróico de educadores que tem nas mãos apenas seus conhecimentos que muitas vezes não são adquiridas nos processos de formação , mas na prática de suas experiências e pequenas contribuições dos gestores da educação brasileira que ainda não compreenderam ou fingem que não entendem a importância da educação para o futuro da nação ou mesmo para o processo produtivo na vida econômica.
Uma dificuldade enfrentada está presente na falta de compreensão do caráter da educação por parte das sociedades hoje presentes na realidade em que vivemos. Em alguns casos cobra – se postura dos educadores no sentido de mostrar autoridade, de dominar conteúdos de se fazer respeitar. A grande questão é como os que colocam filhos na escola vêem os professores. Será que confiam em seus educadores ? Será que sabem que o papel do professor é apenas moldar características que são adquiridas na vida familiar? Será que passam para seus filhos a importância da educação não apenas como fator de promoção social mas como condição de se fazer cidadão e compreender a vida ? O que nossas comunidades esperam da educação? Tais indagações com certeza não estão presentes nos manuais de didáticas ou na produção teórica sobre educação, pois as posturas de alguns responsáveis por jovens e crianças que estão na Escola são de total desrespeito ao papel do educador que se cristaliza em questionamentos às ações dos educadores ou posturas em sala de aula simplesmente com defesa dos filhos sem ver as atitudes que os mesmos acabam desenvolvendo no dia – a – dia em sala de aula.
Outra dificuldade está presente na geração de jovens que hoje temos que são vítimas de um sistema que os coloca como alienados , sem responsabilidade ou completamente desprovidos de opinião ou senso devendo apenas receber a educação sem questiona – la ou discutida. Para muitos pais morrer sem ter conseguido formar o filho passa a ser um certeza de purgatório no juízo final. Daí os jovens não são consultados sobre o conhecimento que querem , sobre o tipo de Escola que acham correta , sobre os temas que deverão ser discutidos, sobre idéias e ideais que eles tem e passam a ser indivíduos meramente receptores do conhecimento , pois para eles o que interessa é ter o diploma sem preocupação com qualidade de formação. Claro que eles não tem culpa dessas idéias que tem recebido que procuram sempre colocar os professores como entrave na formação sabendo que a Escola deve apenas ensinar a passar nos concursos e não prepara – los dentro dos preceitos de uma Educação Como prática da liberdade ou com estimuladora da cidadania ativa e consciente para o bem deles próprios. Desse modo nossos jovens são impelidos a rechaçar o conteúdo e com isso o próprio professor. As escolas são hoje espaços de geração do conhecimento apenas teórico que acaba prejudicando sonhos, destruindo talentos e colocando seres antagônicos ( Professor e Aluno) que deveriam ser cúmplices.
O processo de Ensino vem sendo prejudicado pelas ações políticas hoje desenvolvidas que nega aos educadores oportunidade de uma boa formação de investimento pessoal no crescimento intelectual, na informação, na busca de novos métodos e ações educativas daí como poderíamos exigir uma boa aula. O processo de geração de meios pedagógicos é prejudicado fortemente pela burocracia hoje presente na maioria das escolas que tem sufocado as iniciativas dos educadores e prejudicado sua capacidade inventiva e de criação. Muitas vezes uma iniciativa pedagógica acaba sendo abortada por ações burocráticas ou pelos interesses econômicos ou por simples picuinha de alguns gestores de Escola. Os professores deveriam ser pagos pelo seu grau de criatividade , pelo seu compromisso pedagógico, por sua capacidade de inovação, por seu engajamento com a Escola , com seu grau de respeito pelo aluno e por toda comunidade escolar.
Às vezes uma censura feita a um aluno tem sido objeto de questionamento dos pais que acusam os professores até mesmo de constrangimento. O que fazer diante da indisciplina. Os professores têm sofrido diante dessa incompreensão e muitas vezes os pais sentem – se mais profissionais que os próprios educadores mesmo não tendo nenhuma formação pedagógica. Além do mais temos situações de violência dentro da Escola que acabam levando a bulliyng , Burnout , alcoolismo e depressão. A falta de reconhecimento dos professores tem levado a uma grande migração da categoria para outros setores, para outra formação e para tornar os cursos de licenciatura cada vez menos atrativos nos níveis superiores.
A total falta de condições para os professores desenvolverem seu trabalho a contento talvez seja proposital , pois afinal de contas a classe dominante quer cada vez mais pessoas desprovidas do conhecimento para questionar o poder. As discussões sobre Escola são cada vez mais escassas e quando existem tem objetivo precípuo de acusar professores de descompromisso profissional e de falta de consciência. Como esperar de educadores desmotivados salarialmente, desmoralizados publicamente por governos que negam o direito à educação aulas satisfatórias e emocionantes ? Como fazer da Escola espaço de geração de conhecimento quando nossa sociedade é marcada exclusivamente pela competição? Como fazer Escola numa sociedade de cultura atrasada e marcada por sintomas graves de analfabetismo cultural, político e de formação?
Outro problema sério que os educadores tem enfrentado é no processo de gestão democrática da Escola que está cada vez mais se escasseando e se transformando em jogos políticos, conchavos ou propostas meramente pautadas por resultados financeiros e dos chamados exames da Escola Pública. A negação da democracia na Escola é evidente dos quase 5000 municípios do Brasil, são poucos os que elegem diretores por processo direto e os que o fazem geralmente são caracterizados pela presença maciça dos interesses políticos que hoje acabam destruindo a verdadeira democracia.
A Escola tem de ser plural, tem de respeitar as atitudes, tem de compreender que os educadores são seres humanos e por isso mesmo tem de ser respeitados em suas ações. Claro que para isso estes tem que amar o que fazem sabendo ser reconhecidos como tal, entendendo que os que os que os vêem o fazem com bons olhos. É preciso fazer da Escola um espaço de difusão de idéias , de compreensão do mundo , de investigação da realidade coisas que são impossíveis se não forem desenvolvidos no seu espaço a ética profissional e pessoal , a verdadeira face da competência, a essência verdadeira da cidadania, o ritmo correto do processo democrático. Para Paulo Freire todos os que fazem a escola são sobretudo, gente...E gente merece ser feliz...
Outra constatação necessária é o papel do Poder Público na garantia do direito à educação. Vemos sim algumas ações , mas nenhuma delas terá o sucesso necessário se não for desenvolvida uma política de valorização dos educadores tanto em termos de remuneração como na situação plena de geração de histórico de ganhos em termos de crescimento intelectual com fomento a formação e com campanhas de valorização dos educadores perante a comunidade. Não podemos vislumbrar um país de boas aulas com professores humilhados, desrespeitados e desprovidos de formação política plena que seja voltada para a valorização de sua categoria e para buscar os direitos que os gestores do ensino teimam em desrespeitar.
Autor: Francisco Djacyr Silva de Souza


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