Quero ser banqueiro!



Quero ser banqueiro!

Esse é o negócio!

Por décadas temos ouvido que a tal “taxa SELIC” é a mais elevada do mundo; que todos os efeitos desastrosos e retrocessos na nossa economia foram causados pelos juros altos, pela falta de crédito, etc.; e que o Brasil deveria operar com taxas condizentes com às dos mercados internacionais.

Sim, sob o prisma da razão, todos esses argumentos e mais um montão de outros têm sentido, no entanto, quanto mais o tempo passa, mais me convenço de que tudo isso funciona em qualquer outro país que não seja o nosso.

Basta cutucarmos a nossa preguiçosa e generosa memória...

Com todas as quedas significativas e sucessivas que a tal da “taxa SELIC” sofreu nos últimos doze meses, uma pergunta surge e não cala: o que de fato mudou no dia-a-dia das pessoas e das empresas?

No das pessoas, posso confirmar que nada mudou – os juros do cartão de crédito, os do cheque especial, as taxas, os juros dos empréstimos, etc. – em nada mudaram, continuam vergonhosamente altos.

Dizer que a crise econômica mundial alterou o cenário, e que... – Não!

Essa desculpa esfarrapada não cola mais, pois, independentemente dos riscos e dos tristes impactos nas economias globais, o governo despejou bilhões em incentivos e créditos subsidiados, através da Caixa Econômica Federal, do BNDES e, mais recentemente, do Banco do Brasil, sendo que neste último, o presidente do país teve que derrubar o presidente do banco que não obedecia à ordem de oferecer mais crédito. Incentivos trazidos como remédio contra a crise ou como palanque das próximas eleições? Não esqueçamos, por exemplo, que o maior tomador individual dos créditos oferecidos pelo BNDES, em detrimento aos milhões de pequenos e médios empresários em verdadeiro estado de desespero por crédito, foi a Petrobrás – bilhões...

Voltemos à tal da SELIC – enquanto ela caia em vários pontos porcentuais, os efeitos nas taxas de balcão, aquelas tomadas por endividados e empresários em desespero, recuavam na casa de centésimos de ponto porcentual, variações vergonhosamente imperceptíveis.

Por quê?

Por uma razão muito simples: o modelo econômico-financeiro que ancora os bancos privados no país jamais será capaz de oferecer taxas decentes aos tomadores de crédito, e isso não é reclamação barata, é fato. Nem o “companheiro” conseguiu – aquele que viveu falando das “bravatas dos banqueiros”, ainda esperneia quando desafiado, mas não se atreve a meter o dedo nesse vespeiro.

Os lucros bilionários dos bancos formam-se, essencialmente, a partir das taxas cobradas nas diversas e variadas transações de crédito. Todas as demais explicações fazem parte de discursos institucionais e filosóficos.

Os bancos registram lucros recordes, na casa dos bilhões, sucessivos e crescentes. Trata-se do segmento que mais cresce; aquele que mais movimenta recursos; e um dos maiores empregadores do país. Quando questionados pelo governo, em meio a encenações políticas indignadas, os bancos reagem, também em meio a encenações, dizendo que as altas taxas são mantidas por temor aos alarmantes índices de inadimplências e devido a provisões necessárias para créditos duvidosos. Por tratar-se do segmento que mais cresce, mais movimenta, e um dos maiores empregadores do país, o governo, ainda que em encenações banais, não se atreve a não patrocinar tal modelo.

De fato, além de tudo, esses mesmos bancos, hoje patrocinados pelo governo em modelo e atuação, amanhã serão os algozes citados em discursos inflamados nos palanques das próximas eleições, sentenciando-os pelos seus “lucros escorchantes”...!

Aliás, alguém já viu, ouviu, ou pelo menos, se recorda de ter presenciado a publicação de prejuízo por algum banco, ainda que pequeno, nas últimas décadas?

De fato, alguns poucos resultados deficitários surgiram, mas tão somente retratavam o impacto de investimentos em aquisições e fusões bilionárias ocorridas, criando novas e monstruosas entidades monopolizadoras nesse mercado. Outras possibilidades de maus resultados surgiram apenas diante de quebras fraudulentas.

Bem, depois de relembrarmos esses fatos que, afinal de contas, todos conhecem em algum grau de profundidade, fica muito difícil imaginar a vida daqueles que lutam por recursos para crescerem os seus negócios ou dos demais que suplicam por crédito para o pagamento de suas dívidas, sem gargalhar sobre a própria miséria.

Quando criança, o meu sonho era trabalhar para comprar um fusca.
Errei feio..., deveria ter lutado para ter um banco!
Autor: Roberto A. Trinconi


Artigos Relacionados


O Crédito Consignado No Mercado.

O Bndes Deveria Ter Melhores Critérios Para Realizar Seus Empréstimos

A Importância Dos Bancos Públicos Para O Brasil

Fundo Soberano

Temos InflaÇÃo De Primeiro Mundo E Pagamos Os Maiorfes Juros Do Mundo

Crédito Consignado E Suas Vantagens

Descida Da Taxa Euribor A Três Meses