MADRUGADA EM JABOQUE...



MADRUGADA EM JABOQUE...

Madrugada em Jaboque.

Duas figuras engalfinhadas numa luta estranha.

Os primeiros albores da aurora já rompem a escuridão do vale.

Os montes circundantes contemplam a cena em reverente silêncio.

Em meio a duas tremendas emoções – a fuga de Labão e o encontro com Esaú – Jacó, o usurpador, encontra-se face a face com Deus.

Ali estava ele... No vale de Jaboque... Na encruzilhada de dois terríveis caminhos.

Lutando, lutando, até o romper do dia.

Olhos desavisados e sem discernimento olhariam aquele quadro com horror.

Mas, ali se desenrolava o encontro decisivo que nortearia uma família, um povo, e a própria História.

Ali, o enganador transformava-se em príncipe.

Ali, um simples mortal lutava com Deus e prevalecia.

Ali, traçava-se a linha-mestra das grandes transformações espirituais do mundo.

Jacó, edificador de colunas, ungidor de pedras, neto de um construtor de altares.

Jacó, o sonhador.

Jacó, o homem-misterioso, o aproveitador de oportunidades, o ladrão de bênçãos.

Ladrão de bênçãos?

Sim. Para ele, a benção teria de vir, mesmo usando o engodo, a mentira e o fingimento.

Incrível, tremendo, porém glorioso paradoxo!

Para ele, a bênção teria de vir, mesmo que, para isto, tivesse de aproveitar-se de um caçador fraco, cansado e incapaz de raciocinar.

Para ele, a bênção teria de vir, mesmo que fosse necessário usar de violência. Mesmo que fosse necessário lutar.

Em plena madrugada.

No vale de Jaboque.

- Não te largarei!

- Larga-me, mortal!

- Não te largarei!

- Que queres te faça?

- Não te largarei, enquanto não me abençoares.

Onde estão as esposas, por quem trabalhara duramente durante catorze anos?

Onde estão as crianças que, com lutas, delas nasceram?

Onde estão os servos que, debaixo da proteção de Deus, foram gerados?

Nada interessa, a não ser a bênção.

- Não te largarei, enquanto não me abençoares!

-Abençoar-te-ei, Israel, príncipe do Senhor, porém não andarás mais à vontade como dantes.

E Jacó atravessou o vale manquejando de uma perna.

Aleijado para sempre!

No entanto, conquistara a bênção!
Autor: Paulo de Aragão Lins


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