A GEOGRAFIA E SEU PAPEL SOCIAL – monografia



Os diagnósticos críticos são muito habituais em geografia, o mesmo acontecendo com outras ciências sociais. Cientistas que observam o mundo atual se sentem às vezes muito afetados pela gravidade das situações que descrevem.

O impulso moral de aspirar a um mundo melhor em que não exista a pobreza, a segregação ou a injustiça, e em que os homens não degradem de forma irreversível o meio ambiente, leva a observar de forma crítica a realidade que se examina e que, como cientistas, temos de estudar.

O resultado é um panorama bastante pessimista, com diagnósticos que geralmente desvalorizam, às vezes de forma superficial, qualquer interpretação otimista que possa realizar-se: os problemas seriam tão graves que no mundo atual só poderiam ser otimistas os ingênuos, os mal informados, os egoístas que unicamente pensam em si mesmos ou, pior ainda, que estão vendidos ao sistema de exploração.

A pobreza, a segregação e a exclusão social, a fragmentação das cidades, o aumento de doenças infecciosas em algumas regiões, e outros muitos problemas foram crescendo e se têm, se é que eram precisos, novos dados contundentes sobre todos eles. Assistimos também à aceitação da transcendência do aquecimento global e se admite já a necessidade de tentar reduzir esse processo. Muitos falam abertamente da crise global e dão argumentos sobre a urgente necessidade de procurar soluções globais.

Os problemas do mundo atual são muitos e muito graves. Mas não podemos ficar inativos ante eles. Temos de mobilizar-nos, e desenhar programas de investigação e de ensino que ajudem a tomar consciência e a enfrentar-nos à mesma raiz dos mesmos. Mas também temos de ter força para fazê-lo, o que é impossível sem um mínimo de otimismo, de convicção de que podemos abordá-los, com alguma esperança de que possam resolver-se.

Algumas disciplinas sociais têm já incorporada em suas tradições intelectuais a proposta de soluções, ou nelas é consubstancial o realizar planos de melhora. O economista ou o urbanista, por exemplo, não podem limitar-se a realizar diagnósticos, senão que têm de propor atuações concretas para resolver as situações que descrevem.

Outras disciplinas, entre as quais a geografia, têm menos interiorizada e aceitada essa dimensão.

A geografia foi durante muito tempo uma descrição do mundo. Mas é importante, e oportuno, recordar que também nesta ciência existiram desde há muito tempo propostas explícitas para que seu estudo contribua à solução dos problemas sociais.

A geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra, escreveu há anos o geógrafo francês Yves Lacoste num influente livro. O que é verdadeiro em grande parte, sempre que recordemos que não é a única ciência que contribuiu à atividade bélica. Mas, sem negar essa dimensão da disciplina geográfica, não há que esquecer que desde há séculos os geógrafos realizaram também contribuições, às vezes decisivas, à paz. E que tiveram assim mesmo a ambição de que esta disciplina sirva para procurar a felicidade no mundo.

Quiçá seja oportuno recordar neste momento não só que a geografia moderna nasceu aqui em América, tal como defendi em outra ocasião, senão que pode sustentar-se que também surgiu aqui a geografia aplicada. Sobre o primeiro bastará com recordar que foram as obras de Gonzalo Fernández de Oviedo História natural e general das Índias, Ilhas e Terra Firme do mar Oceano (1535) e de José de Acosta História natural e moral das Índias (1590) as que inauguraram um gênero historiográfico que unia ao mesmo tempo o estudo dos fatos naturais e humanos de um território, algo que se considerou característico da ciência geográfica.

Mas ademais, foi a necessidade de conhecer estas terras e organizar a colonização do Novo Mundo o que deu lugar ao desenho do primeiro programa científico de reconhecimento territorial, plasmado nas Relações Geográficas de Índias, e que culmina com o interrogatório de 1573 posto a ponto pelo geógrafo Juan López de Velasco.

De maneira similar, na América portuguesa a geografia foi essencial na organização da nova Europa que se constituía aqui, ao outro lado do Atlântico. Desde o primeiro momento a investigação geográfica acompanhou a todas as tarefas de governo e fomento territorial na América hispânica e portuguesa.

Exemplo disso podem ser durante o século XVIII as descrições e estudos territoriais realizados pelos engenheiros militares, corpo técnico ao serviço da Coroa, não só para a organização do sistema defensivo senão também para as políticas de fomento econômico, nas que também intervieram estes técnicos.
Autor: Monografia AC


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