Distritos Industriais (ou Clusters) Como Estratégia De Desenvolvimento Econômico Local Para O Brasil



O conceito de "Distrito Industrial" foi inicialmente descrito por MARSHALL (1890) no século XIX para caracterizar as "concentrações de pequenas e médias empresas localizadas ao redor das grandes indústrias", nos subúrbios das cidades inglesas. Dessa forma, pode-se afirmar que os "distritos industriais ingleses" eram constituídos por aglomerações de grandes, pequenas e médias empresas inter-relacionadas em microrregiões geográficas, produzindo bens em larga escala tanto para o mercado interno como para o mercado externo (principalmente).

Nesse tipo de sociedade, as pequenas e médias empresas (PMEs) eram fortemente "beneficiadas por fatores obtidos gratuitamente" na economia (infra-estrutura, mão-de-obra já treinada, existência de recursos naturais locais, informações sobre as novas técnicas de produção, etc). Além disso, as PMEs eram igualmente "beneficiadas pela proximidade geográfica entre as firmas" bem como pelo seu "elevado grau de inter-relacionamento", o que lhes asseguravam um clima propício à produção em larga escala, não só reduzindo custos de transporte e de outras transações, mas também proporcionando e agilizando a comunicação entre os produtores.

Todos esses benefícios adquiridos pelas PMEs, nos "distritos industriais ingleses", MARSHALL (1890) denominou-os de "economias externas", ou seja, "ganhos obtidos pelas PMEs no mercado independentemente de suas ações" (infra-estrutura, mão de obra treinada, recursos naturais, informações tecnológicas, proximidade geográfica entre as firmas, forte relacionamento interfirmas, etc.). As "economias externas", portanto, eram apontadas como as principais causas do extraordinário desenvolvimento sócio-econômico alcançado pela Inglaterra no século XIX.

Observe-se que esse tipo de desenvolvimento é mais conhecido na literatura não só econômica, mas também entre sociólogos, geógrafos, antropólogos, etc., como a "teoria do desenvolvimento local", isto é, um modelo de desenvolvimento que não se baseia simplesmente na mensuração de variáveis econômicas como taxa juros, salários, inflação, déficit público, câmbio, etc, mas sim, nas potencialidades de uma determinada região geográfica delimitada, levando-se em consideração, principalmente, os recursos naturais existentes, a vocação trabalhista e produtiva da comunidade e fatores sócio-culturais como: laços familiares, confiança entre os agentes produtores, grau de relacionamento entre as empresas, cooperação interfirmas, costumes, tradições, religião, etnia, laços culturais, etc.).

Nessa perspectiva, o "desenvolvimento local" é conceituado como um processo de articulação , coordenação e inserção dos empreendimentos empresariais associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração sócio-econômica, de reconstrução do tecido social, de geração e renda." (JORDÁN; ZAPATA, 1998). Assim, a parceria ou o estabelecimento de alianças estratégicas entre empresas para formar redes em torno dos distritos industriais ou clusters permite às PMEs competirem com vantagens que antes só estavam ao alcance das grandes empresas.

Feitos esses esclarecimento preliminares, cabe lembrar que na década de 70 do século XX, o fenômeno do "desenvolvimento local" focado em "distritos industriais" (Dis) voltou a se repetir na Europa, sobretudo na Itália. A região de Emilia Romagna (que inclui as cidades de Friuli-Veneza-Giulia, Vêneto, Trentino-Alto Adige e Toscana), ao Sul da Itália, tradicionalmente pobre, ficara conhecida internacionalmente devido ao extraordinário desenvolvimento atingido por seus distritos industriais, e também pela política pública regional inovadora em relação às pequenas e médias empresas. A alta taxa de exportação, os elevados salários, o pleno emprego e melhoria do nível de vida resultante de um sistema produtivo baseado em PME's, tem gerado numerosos estudos sobre o chamado "Modelo Emiliano".

Sem dúvida, esse modelo não se baseia apenas num sistema produtivo de pequenas e médias empresas, mas também numa singular combinação entre um governo progressista, integração social e de êxito empresarial. É a partir daí que surge o elemento inovador, enriquecedor do sucesso obtido pela região. Tanto isso é verdade que, ao verificar o rápido crescimento econômico obtido pela região de Emilia-Romagna, onde havia considerável concentração de pequenas empresas, BECATTINI (1992) logo retomou o conceito de "economias externas" marshallianas (dos distritos industriais ingleses, do século XIX) para adaptá-lo ao caso italiano (no século XX , anos 70), isto é: "O distrito industrial é uma entidade socioterritorial caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas num determinado espaço geográfico." (BECATTINI, 1992).

A partir de então, vários estudos se sucederam sobre esse tema, todos eles identificando mais e mais fatores para explicar o fenômeno ocorrido no sudeste italiano, que foi batizado, por BAGNASCO (1999), de "Terceira Itália", como forma de indicar o desdobramento do tradicional dualismo italiano entre o Norte desenvolvido (Primeira Itália) e o Sul atrasado (segunda Itália) .

O fenômeno do "desenvolvimento econômico local focado em distritos industriais" ocorrido na Itália despertou particular interesse dos observadores internacionais, e vários outros distritos foram identificados na Europa e em outros continentes, como por exemplo: Vale do Silício, na Califórnia; Vilarejos do Cholet, Vale do Rio Arve , Oyonnax e Thiersna, na França; Baden-Württemberg, na Alemanha, etc.

Com efeito, o modelo dos distritos industriais tomaram vulto extraordinário pelos pesquisadores desenvolvimentistas, colocando em dúvida a eficácia dos antigos modelos macroeconômicos de desenvolvimento para as sociedades ocidentais, principalmente, para os países periféricos, muitos dos quais já começaram a mudar suas políticas públicas de desenvolvimento sócio-econômico, replicando o modelo dos distritos industriais italianos de acordo com as suas próprias particularidades.

Por último, resta saber "em que medida o modelo de desenvolvimento econômico local baseado em distritos industriais pode ser transplantado para a realidade brasileira.". Eis uma questão sobre a qual não existe consenso entre os economistas de várias matizes ideológicas no Brasil.


Autor: Hélio Barbosa Hissa


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