Valores, Ética e Moral nas Organizações



A sustentação de qualquer organização (família, empresa, cidade, país, planeta) depende de valores, da ética e da formação da moral. Apesar do crescente interesse e exaltação desses assuntos, principalmente nos ambientes corporativos, ainda constatamos uma incômoda imaturidade nas ações da maioria das pessoas, gerando inúmeros problemas como conflitos, corrupção, assédios, injustiças, etc.

Um valor é a consideração por uma atitude apreciada ou estimada por alguém. Assim, valores são apropriados quando demonstram certas atitudes éticas, sendo um padrão de conduta apropriado sempre originado na maneira pela qual eu desejo que os outros me vejam ou me tratem. O que espero ou desejo dos outros se torna meu padrão ético e originam-se da consideração inerente e comum ao próprio interesse e conforto. Por isso, padrões éticos são naturais e universais e formados por valores universais (a exemplo da verdade e da não-violência encontrados em muitos tratados filosóficos e popularizados por Mahatma Gandhi no exercício da liderança). No entanto, valores como competência, competitividade, foco em resultados ou eficiência, encontrados em muitos Códigos de Ética não são valores universais ou éticos, mas sim, um tipo de valor necessário e associado ao desenvolvimento da organização.

Etimologicamente, ética deriva do grego "Êthos" e "Ethos", que significam respectivamente “habitat, morada, abrigo” e “conduta, comportamento”. Ética envolve os aspectos físicos e comportamentais que nos permitem utilizar, de forma harmônica e sustentável, todos os bens da vida, possibilitando que nossos descendentes também o façam. Numa abordagem mais ampla, ela existe para garantir a sobrevivência de todos. Entretanto, a ética não é um valor por si só, mas um conjunto de valores implícitos, íntimos e estimados pelo indivíduo, que deve orientar suas ações e maneira de se relacionar com os outros. Por outro lado, a moral vem do latim "Mores" que significa “regra, norma”, sendo, portanto um conjunto de princípios explícitos e coletivos que também têm a mesma função, no entanto é um conjunto de regras formais que devem ser aceitas por um grupo de pessoas inseridas numa certa comunidade.

Temos visto muitas organizações desenvolvendo e publicando seu Código de Ética, quando na verdade deveria ser chamado de Código de Moral/Conduta. A ética, quando bem compreendida diz respeito a um comportamento comum que abrange a “todos os seres” (universalidade), enquanto a moral é pertencente a um grupo especifico. Uma ação de responsabilidade social e ambiental, por exemplo, é considerada ética por contemplar o cuidado com “todos os seres” (comunidades, fauna, flora, etc.).

Constatamos então que a ética fornece a base para moral, enquanto os valores universais a base para a ética. Nas relações sociais percebemos diversas situações que atendem a moral, mas infringem a ética e vice-versa.

Um chefe/colega que opta por não punir/denunciar o funcionário que fez mau uso de um ativo da empresa ou apresentou um comportamento inadequado (violência, assédio, oportunismo, etc.), mas prefere ter uma conversa franca e assertiva, indicando ao colega o seu comportamento inadequado, pode ter infringido o Código Moral da empresa (quando este orienta a punição/denúncia), mas demonstrou um comportamento ético na solução de um problema, dando uma segunda chance ao funcionário que precisa do emprego. Neste caso, ocorre a prática dos valores universais da verdade e não-violência e a ética prevaleceu sobre a moral.

Por outro lado, o gerente que demite um bom funcionário subordinado a um chefe demitido por lesar a empresa, sem antes averiguar o real envolvimento do funcionário, age em não conformidade com os valores da verdade e não-violência, infringindo a ética, mas considerando o Código de Conduta. Neste caso, prevaleceu a moral sobre a ética.

Essas reflexões são polêmicas, mas nos mostram o quanto nossas decisões e ações devem se pautar por valores universais, onde a ética sustenta a conduta e a moral. O padrão ético deve ser baseado em três princípios:

No senso e bem comum, a respeito do que é a conduta aceitável (bem de todos);

Valorização da singularidade;

Autonomia e responsabilidade individual pelo todo.

A saúde organizacional depende do equilíbrio entre os diversos valores praticados na empresa (valores éticos, desenvolvimento e econômicos). Os valores devem ser desenvolvidos a partir da consciência e da educação, nunca por regras rígidas. Somente quando reconhecemos a importância de um valor em nossas vidas pessoal, profissional e social estaremos dispostos em assimilá-lo e praticá-lo. A diferença é que o valor assimilado não exige escolha da minha parte, torna-se espontâneo. Para um valor não-assimilado tornar-se valor assimilado preciso:

Exercitá-lo deliberadamente até que esteja convencido de seu valor. Para se tornar espontâneo devo considerar seu valor na minha vida pessoal;

Reconhecer os resultados danosos (médio e longo prazo) da ausência do valor.

O ambiente corporativo é uma oportunidade para melhorar a sociedade. O desafio e responsabilidade das organizações é educar e desenvolver pessoas em valores universais e comuns, tornando-as mais éticas, equilibradas e sadias. A sociedade ganha muito com isso.
Autor: Carlos Legal


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