Terapia Ocupacional na UTI Neonatal



Entrevista realizada dia 10 de abril de 2007 ás 13:00 hs com a Terapeuta Ocupacional Luciana Sanged Portella,formada há 14 anos pela Universidade de São Paulo e com especialização em Neurologia Infantil; Desde então faz seu trabalho com crianças e já trabalhou em instituições como Amarati e em clínicas particulares em São Paulo.

Atualmente trabalha na clínica Stimuly que conta com uma equipe de profissionais que inclui: Fonoaudiologia, Psicologia e Fisioterapia e também no hospital Paulo Sacramento.

Relatou também em sua entrevista que a anamnese usada foi criada por ela e pela Fisioterapeuta que faz parte da equipe da clínica e que abrange desde o histórico básico do bebê (nascimento), até sua alta da UTI.

Dentro da clínica ela trabalha com a terapia neuro-evolutiva, usando métodos como Bobath e no HPS ela faz um trabalho de humanização de UTI Neonatal, incluindo o método canguru.

Essa humanização leva á um contato mais próximo, a uma relação mais humana entre o bebê, a família e os próprios profissionais. O hospital não é um ambiente ideal para bebês, e hoje em dia os profissionais são muito técnicos e é justamente aí que se abre um espaço para a atuação da terapeuta, onde busca criar um espaço mais adequado e assim não tratar os neonatos como números, mostrando que apesar de serem  frágeis e pequenos, merecem respeito como seres humanos em primeiro lugar, enfim criar uma maior humanização dentro de um local que ás vezes por causa da correria fica difícil encontrar.

Em relação ao bebê, trabalha nas patologias, mas não deixa de frisar a estimulação, onde o dia a dia do bebê fica menos estressante e mais prazeroso assim diminuem-se os momentos de dor e incômodo, adaptando e melhorando sua chegada ao mundo, para isso utilizamos técnicas como: contenção do bebê, estimulação visual onde mostre formas redondas para que memorize os rostos, porque para o bebê o círculo é a primeira forma que ele entra em contato, como barriga, rosto do médico, rosto e seios da mãe, então isso o remete a prazer, logo fica relaxado e sem o stress normal de uma UTI, onde se mexe muito com a criança, faz-se muitas intervenções, vira-se o bebê de várias formas, geralmente fica solto e sem roupas na incubadora, a luz intensa irritativa e a porta ou mesmo campainha que toca, enfim, um conjunto de acontecimentos que estressa e irrita o bebê.

Os bebês podem apresentar atrasos ou mesmo, serem prejudicados mentalmente por estarem expostos a tantos estímulos assustadores e desnecessários. Menciono também o método canguru que a terapeuta usa com os bebês e mães onde é um tipo de assistência neonatal que implica contato pele a pele precoce, entre a mãe e o recém-nascido de baixo peso, de forma crescente e pelo tempo que ambos entenderem ser prazeroso e suficiente, permitindo, dessa forma, uma participação maior dos pais no cuidado ao recém-nascido.

Proteger, estimular de maneira terapêutica e proporcionar um desenvolvimento prazeroso para este ser tão indefeso é sua maior recompensa.

A Terapia Ocupacional no Contexto de Humanização de Recém-Nascidos Internados em Unidade de Terapia Intensiva

Este artigo descreve o trabalho realizado por Terapeutas Ocupacionais dentro de UTI Neonatal que visa uma assistência integral e humanizadadentro do espaço hospitalar proporcionando uma melhor qualidade de vida durante o processo de internação, para mulheres, gestantes, bebês e seus familiares, oferecendo suporte por meio da relação terapeuta-paciente-atividade.

Objetivo

Os objetivos deste trabalho visam o atendimento humanizado e tecnicamente capaz ao bebê e sua família dentro da Unidade Neonatal e que pode se estender após a alta; Estimular a prática do aleitamento materno e cuidados de higiene; Avaliar o crescimento e desenvolvimentoneuropsicomotor, diagnosticando precocemente os desvios, seqüelas e situações clínicas de risco, identificando as que necessitem de intervenção; Possibilitar alta hospitalar precoce; São realizadas avaliações do crescimento,do desenvolvimento motor e cognitivo, visual, acompanhamento de estimulação precoce, não esquecendo de estimular principalmente o vínculo mãe-bebê. Os terapeutas também fazem o encaminhamento para outros serviços de reabilitação, quando necessários.

Humanização na UTI Neonatal

Consideramos que humanizar a assistência significa agregar, à eficiência técnica e científica, valores éticos, além de respeito e solidariedade ao ser humano. O planejamento da assistência deve sempre valorizar a vida humana e a cidadania, considerando, assim, as circunstâncias sociais, étnicas, educacionais e psíquicas que envolvem cada indivíduo. Deve ser pautada no contato humano, de forma acolhedora e sem juízo de valores e contemplar a integralidade do ser humano.

Quando o bebê nasce com problemas e não tem condições clínicas de permanecer com sua mãe é então encaminhado para a UTI.

O foco é o atendimento humanizado, respeitando a individualidade e a subjetividade de cada bebê e sua família.Quando o bebê é internado na UTI Neonatal, sua mãe é visitada pela equipe, até que possa ir vê-lo.

A equipe funciona como um elo, garantindo informações, esclarecendo dúvidas e preparando-a para o ambiente da UTI. Os terapeutas geralmente convidam os pais a participarem da internação do filho, o que é de extrema importância para que elabore os seus conflitos acerca do nascimento do bebê e comece a interagir com o mesmo, podendo reconhecê-lo como seu.

Os cuidados com o ambiente são fundamentais no tratamento deste bebê, desde redução de ruído, todas as lixeiras e portas emborrachadas o uso proibido de celulares (mesmo para médicos), garantia do ciclo dia/noite,com luz natural e iluminação artificial individualizada.(Conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde sobre a "atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso - método canguru". Rev. Bras. Saude Mater. Infant., 2006, vol.6, no.4, p.427-436. ISSN 1519-3829).

A Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde entende por humanização a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde e enfatiza a autonomia e o protagonismo desses sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo de gestão. Pressupõe mudanças no modelo de atenção e, portanto, no modelo de gestão. Assim, essa tarefa nos convoca a todos: gestores, trabalhadores e usuários.(Grupo de Trabalho de Humanização do Hospital São Paulo. 2005. UNIFESP).

Triagem

A população alvo são os recém-nascidos (RN) patológicos e os recém-nascidos pré-termos que apresentaram complicações Pré, Peri e Pós-Natal,apresentando risco para o desenvolvimento neuropsicomotor caracterizando-se como bebês com dificuldades de auto-organização, irritados, em constante estado de choro ou hipoativos.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através da observação de movimentos e reações do bebê (como o bebê está naquele dia, se está atento à face humana, aos sons, quais são seus movimentos, quais reflexos apresenta, como reage ao toque, saber observar a dupla mãe-bebê: (como ocorre a interação, o estado da mãe, se ela pega o bebê, como manipula, como reage ao choro do bebê, como amamenta), observar durante os procedimentos de enfermagem: (como reage durante e após os procedimentos dolorosos, como reage durante a troca de fralda, durante a alimentação, enfim, toda a rotina diária do bebê).Após observar todos os fatos do nascimento até o presente momento, o terapeuta parte para o tratamento em si conforme a demanda da patologia.

Atendimento

Segundo Meyerhof, "a intervenção envolve tanto a inibição quanto a estimulação. O terapeuta deverá estruturar o ambiente de tal forma que o bebê consiga uma melhor auto-organização. Portanto, o objetivo da intervenção será tanto no sentido de promover o 'input' sensorial como a de proteger o bebê do excesso de estimulação, graduando os estímulos de acordo com o desenvolvimento adaptativo do neonato" (Meyerhof, 1997, p. 207).

É de suma importância observar as condições do bebê, verificando em que estado de consciência o bebê se encontra e é importante obter informações com a equipe de enfermagem sobre o dia do RN (se dormiu, se chorou, se a mãe compareceu à visita, quanto tempo ficou, horário da amamentação), pois é por meio dessas informações que nos baseamos para iniciar todo o atendimento.

Verificamos também o posicionamento do RN na incubadora ou no berço, se está aconchegado, organizado, em flexão de membros inferiores e superiores, lembrando a posição no útero. É importante rolinhos para contê-lo e assim diminuir o espaço dentro da incubadora ou do berço, para que o RN com estes procedimentos, se sinta mais protegido, aconchegado e principalmente calmo e confortável.

Realizamos estimulação tátil, visual e auditiva, orientando a mãe para a importância desses estímulos para o desenvolvimento. O suporte à mãe é importante para favorecer o vínculo mãe bebê, porque, muitas vezes, a mãe tem receio em tocar o bebê, acha que ele não a entende, acha que não pode pegá-lo, enfim; Essas dúvidas e dificuldades precisam ser esclarecidas para ajudá-la na relação com seu filho, pois bebês muito irritados podem provocar ansiedade nas mães,causando dificuldade de aconchego. O apoio do profissional é importante para ajudar a mãe nesse processo, para ajudar a aconchegar o bebê, pois esse aconchego favorece a recuperação do bebê no qual o contato direto com a mãe, substitui a incubadora hospitalar.

A equipe aproveita todas as oportunidades da visita materna, no sentido de motivar a sua participação nos cuidados do bebê e promover o fortalecimento do vínculo.(Clipping-Calor do corpo recupera bebês.27/10/2001.cidades.págC5).

Recebendo a Família na Unidade Neonatal

A família é estimulada a participar ativamente no tratamento da criança internada na UTI Neonatal, facilitando assim a formação de vínculos afetivos.

Os terapeutas visam a participação da família na UTI, pois isso favorece um apoio social e emocional aos pais que vivem esse momento difícil, melhora a interação entre a família e a equipe de saúde e possibilita conhecermos a situação psicossocial que envolve o recém-nascido e sua família e principalmente, integra o bebê à sua família.

Atendimento Individualizado à Família

O terapeuta ocupacional é um catalisador de informações, ou seja,nesse momento, podemos abordar, de forma individual, aspectos que envolvem a situação clínica do bebê, a participação da família ou outras questões, no que tange a compreensão e elucidação das informações técnicas com o objetivo de promover o acolhimento familiar e elucidar dúvidas sobre conduta e procedimentos, aumentando a confiança e capacitação da família com a rotina diária de atenção ao RN. (Andréia Yuriko Obana e Milena Oshiro-A Terapia Ocupacional com bebês de risco: reflexões sobre a clínica).

Preparação para alta

No preparo para o processo de alta, é importante orientar as mães ou pais para que se sintam seguros na realização das AVD's (banho, alimentação, troca), pois, a partir disso, serão as responsáveis pelos cuidados com o bebê.

Não podemos esquecer de envolver toda a família para que a mãe não seja a única cuidadora, sobrecarregando-se.

É preciso lembrar a mãe sobre a importância do brincar, já que esta é a atividade básica de toda criança, por isso é importante ter móbiles e brinquedos estimuladores no ambiente,sempre que possível e orientarmos a importância do brincar para o desenvolvimento neuropsicomotor e como a mãe pode estimular o bebê.

Considerações Finais

Sabe-se que a hospitalização pode prejudicar o RN, já que está submetido a uma rotina institucional que não prioriza o ritmo individual na realização das AVD's, ou seja, ele não pode ser alimentado na hora que deseja, ele tem de ser trocado no horário possível para a enfermagem, o horário do banho é no período da manhã entre a troca de plantão das auxiliares.

Winnicott (Takatori, 1999, p. 74), "nos fala da rotina completa do cuidado que deve ser pessoal e voltado para as características de cada bebê. Nessa rotina estão: carregar no colo, manipulação na hora do banho, vestir, despir, hora da alimentação, enfim, atividades básicas e presentes no cotidiano, levando em conta que o tônus muscular, a sensibilidade cutânea e a temperatura corpórea são diferentes em cada bebê.(MEYERHOF, P. G. O neonato de risco — (Proposta de intervenção no ambiente e no desenvolvimento. In: KUDO, A. M. et al. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1994. p. 20)

Junto com o bebê muitas vezes nasce também uma mãe, um pai, uma família que se reestrutura para recebê-lo. A humanização na UTI Neonatal, aliada à capacitação da equipe e à infra-estrutura adequada, é responsável pela pronta recuperação dos prematuros nas mais variadas patologias.

Referências

GTH - Grupo de Trabalho de Humanização do Hospital São Paulo. Unifesp.São Paulo.2005

Método Canguru:Conhecimentos e práticas dos profissionais de saúde sobre a "atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso. Rev. Bras. Saúde Materno Infantil. vol.6, no.4, p.427-436. 2006. ISSN 1519-3829).

Clipping-Calor do corpo recupera bebês.Rev.Cidades.págC5.Out2001.

OBANA,Yuriko Andréia e OSHIRO,Milena-A Terapia Ocupacional com bebês de risco: reflexões sobre a clínica.2006.

KUDO, A. M. et al. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional em Pediatria. Proposta de intervenção no ambiente e no desenvolvimento. 2. ed. São Paulo: Sarvier, 1994. p. 204-222

Referências Digitais

 

Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exeextAction=lnk&exprSearch=438269&indexSearch=ID>. Acesso em: 02 mai. 2007.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-35552007000100002&script=sci_arttext>. Acesso em:30 abr. 2007.

Disponível em: <http://www.casadato.com.br/Noticia.asp?ID=237>. Acesso em: 02 mai 2007

Disponível em: <http://www.huufma.br/site/web/servicos/neonatologia/passos_atendimento.htm>. Acesso em:27 mai. 2007

Disponível em: <http://www.unifesp.br/spdm/hsp/humaniza/humani.htm>. Acesso em: 29 mai. 2007

Disponível em: <http://www.metodocanguru.org.br/2001_10_27b.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2007

Disponível em: <http://www.hospitalmontesinai.com.br/servicos.aspx?p_id_categoria=124>. Acesso em: 2 jun. 2007.


Autor: Leandra Oliveira


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