Riscos de mercado



Agroanalysis
Março de 2005

Daniel Pacifico

O papel do Estado como grande controlador do setor agropecuário nacional é um velho paradigma em desaparecimento. Não obstante, a competitividade do setor, em longo prazo, depende muito da estabilidade das políticas macroeconômicas estatais (inflação, impostos, juros, câmbio). Mas a força do mercado, ditada pela competição, produtividade, tecnologia auto-sustentável e margens estreitas, exige novos instrumentos de gestão e oferece outra perspectiva para o segmento.
Embora a possibilidade de perdas potenciais represente um aspecto negativo, assumir riscos é necessário para a obtenção de retornos maiores de toda atividade econômica. Mais importante para o administrador é maximizar o retorno esperado, dado um nível de risco estabelecido.
Diversos fatores de risco influenciam o resultado do agronegócio, cuja previsão e controle não são tarefas fáceis, tais como condições climáticas, ataques de pragas, queimadas, aplicação de novas tecnologias, sazonalidade da produção.
Os modelos de gestão de risco de mercado têm grande possibilidade de aplicações nos mercados agrícolas, apesar de terem sido inicialmente desenvolvidos para organizações financeiras. As commodities agrícolas apresentam volatilidades em seus preços, dados fatores como sazonalidade, oferta, demanda e quebras de produção interna e externa. Como os participantes do agronegócio operam com poucos ativos, ao contrário da diversificação das instituições financeiras, os riscos de mercado aumentam.
A incerteza dos preços das commodities influencia o planejamento e a viabilidade econômica de uma cadeia produtiva. As baixas de preços podem afetar a liquidez e a solvência da empresa. Daí a importância de implementações de políticas nas organizações agrícolas
para avaliar, quantificar e gerenciar os riscos de mercado.

Aspectos de controle
Uma adequada política para a gestão de risco de mercado começa pela implementação de um comitê responsável pelas análises e tomadas de decisões. Para integrar as decisões, a sua composição deve incluir elementos das áreas de auditoria, sistemas, jurídico, risk management, produção, armazenagem, tesouraria e controladoria.
A formação dos seus membros será adequada às características particulares de cada empresa, com estabelecimento de processos decisórios, e não somente avaliações de números.
A prática de gestão de risco de mercado em empresas não financeiras se baseava na medição de impactos isolados de fatores como taxas de juros, moedas e commodities sobre áreas de atuação específicas da empresa: aplicações do caixa, carteira de derivativos, receitas estrangeiras ou de empréstimos. Esta prática evoluiu para uma visão integrada dos impactos sobre a exposição consolidada dos riscos de mercado da empresa.
Como a hipótese básica doVaR é a de que as posições não mudam dentro do horizonte de investimentos, para as operações de longo prazo, se torna imprescindível a simulação de trajetórias de preços para avaliar a entrada e saída de caixa da empresa.
Existe muita preocupação quanto ao resultado no final da safra pela empresa e também com a disponibilidade de dinheiro em caixa para honrar compromissos futuros. Face à variabilidade dos fluxos de caixa, surge a necessidade de uma medida de fluxo em risco, e não somente de valor em risco, ou seja, do Cash flow at Risk (CfaR), como uma métrica complementar aoVaR.
As metodologias estatísticas demandam alguns pressupostos importantes, por exemplo, a distribuição de probabilidade do retorno dos preços. Daí, em alguns casos, ao invés de se estimar a perda esperada com base nos métodos de risco de mercado, baseados no comportamento passado dos ativos e seus fatores de risco, a mensuração é feita atribuindo aos níveis de preços e de taxas valores esperados numa situação adversa, método conhecido como teste de estresse. Tal método é útil, por exemplo, quando se detém algum tipo de informação ou estudo com indicação do comportamento futuro das commodities. Nesse caso, a perda esperada é calculada pela diferença entre os valores de mercado corrente dos ativos no portfólio e os valores que seriam observados, se o cenário previsto ocorresse (estresse).
Os cenários lidam com um horizonte mais amplo. Quando o teste de estresse é usado em conjunto com as ferramentas métricas, a visão dos riscos de preços fica mais abrangente. Não existe uma medida que possa garantir a adequação em todas as situações, devido às muitas premissas adotadas no cálculo de qualquer métrica. As incertezas do futuro podem tornar rapidamente inválidas as métricas deterministas, daí a necessidade de abordagem do risco de múltiplas formas que se complementam e possibilitam maneiras mais adequadas para cada circunstância do ambiente volátil dos preços.
A construção de cenários deve ser feita com muita cautela por uma equipe que engloba diversas áreas da empresa, ou seja, pelo comitê de risco, pois serão utilizados no cálculo dos fluxos futuros. É necessário, para o gerenciamento, ter informações filtradas, e não um excesso de números e gráficos. O desafio da agregação de riscos é mostrar em um resumo todo o perfil de risco da empresa; o que pode ser aproximado, no caso dos riscos de mercado pelas métricas discutidas anteriormente.

Conclusões
Para as empresas do setor agrícola em geral, é de extrema importância o gerenciamento dos riscos envolvidos na atividade, sejam eles de mercado ou de produção, pois isso possibilita assumir riscos de forma consciente e estruturada. O produtor de commodity tende sempre a aumentar sua exposição com ampliações de economias de escala, e o gerenciamento de risco possibilita aumentar esta exposição de forma mais segura e rentável, na medida em que possibilita maior alavancagem e disponibilização de caixa para acelerar o crescimento da empresa.
O controle de preços de commodities tem diversas e graves implicações e, por isso, a implementação de uma correta política de gestão de risco de mercado deve ser vista como atividade empresarial essencial para a administração das empresas ligadas ao setor agrícola. Impactos macroeconômicos e outras influências internas podem comprometer a sobrevivência das empresas. Portanto, a conscientização da existência dos mecanismos e ferramentas de gestão de riscos de mercado constituem elementos importantes para uma evolução consistente da atividade agrícola.

Tipos básicos de risco para o agronegócio
• De produção: apontado como um dos principais responsáveis pelas variações e quebras de safras, devido à dificuldade de se prever, na época do plantio, o que irá ocorrer durante a colheita. O seguro agrícola é um instrumento mais adequado para o gerenciamento desse risco;
• De preço ou de mercado; proveniente de alterações nas relações de preços entre o momento em que a decisão é tomada e o período em que a venda da produção será realizada. O hedge contra a imprevisibilidade do preço futuro, como os contratos derivativos, cujo valor depende de ativo-base, que, são as commodities agrícolas, foi desenvolvido para administrar esse risco.
Primeiro passo: estruturação de uma política de gestão
• Consolida a estrutura hierárquica das operações, chamada de portfólio integrado (ativos e passivos);
• Projeta o fluxo de caixa de curto e longo prazo dos empreendimentos e da carteira de dívidas;
• Dá uma visão integrada dos riscos, de forma a comparar e priorizar os mais relevantes;
• Mapeia e acompanha a variabilidade e as correlações dos fatores de risco;
• Identifica as formas de administração de estoques físicos;
• Apresenta uma análise detalhada do portfólio de produtos (vendas a fixar, derivativos, CPRs)
Segundo passo: Estimativa com precisão da real exposição da empresa
• Conhecer os fatores geradores dos riscos, ou seja, tais como a exposição ao câmbio, taxa de juros, determinada commodity etc, por meio de métricas como o Value at Risk e o Cash flow at Risk.
Conheça o Value at Risk (VaR)
• É geralmente o primeiro número de risco calculado, complementado com outras métricas de risco, menos precisas do ponto de vista estatístico, mas mais adequadas aos objetivos do gerenciamento de risco de uma empresa do setor agrícola;
• Mede a perda potencial de uma probabilidade específica num determinado período;
• Tem capacidade de integrar, em uma só medida numérica, o risco de mercado total da carteira de investimentos, englobando no seu cálculo todos os ativos e passivos;
• Permite a comparação e agregação dos riscos envolvidos em diferentes mercados;
• Facilita o trabalho dos que têm que administrar e fixar limites de riscos;


Conheça o Cash flow at Risk (CfaR)
• Trata de resultado em risco relativo a um fluxo de caixa (geração operacional de caixa, por exemplo) ou da conta de resultado contábil (lucro);
• Tem seu foco na variabilidade de valor;
• Abstém-se de considerações à cerca da taxa de desconto;
• Se preocupa com o valor futuro do fluxo;
• Mensura o risco inerente ao fluxo de caixa (demonstrativo de resultados - DRE e lucro operacional - EBTIDA);
• Inclui o risco de variáveis não financeiras, como, por exemplo, a demanda.

Para saber mais sobre risco de mercado consulte a PR&A, uma das empresas de consultorias mais experientes do país, dirigida por Marcelo Rabbat, Sérgio Malacrida e Ricardo Pires, especializados em Consultoria de Investimento, Risco de Crédito e Risco de Mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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