DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM X DESESTRUTURA FAMILIAR



Este trabalho aborda como tema as dificuldades de aprendizagem mediante a desestrutura familiar. A necessidade de um maior questionamento sobre o tema em questão foi o motivo que nos levou a investigar e tecer considerações, uma vez que, em contato com a dinâmica da escola observamos casos de crianças que agridem na escola e são agredidos em casa ou assistem agressões entre familiares. Outros possuem pais desempregados e sem perspectiva de futuro; pais omissos e ou violentos física ou verbalmente; pai ou mãe alcoólatras; pais separados. A aprendizagem humana é um processamento complexo de informações, sendo que os processos centrais são modificações e combinações que ocorrem nas estruturas cognitivas. No Brasil, cerca de 40% da população que freqüentam as primeiras séries escolares tem algum tipo de dificuldade acadêmica (Ciasca). É importante compreender estas dificuldades de maneira a diminuir o impacto na vida do indivíduo.
O objetivo desse artigo é fornecer uma reflexão sobre a relação entre dificuldade de aprendizagem e ambiente familiar, uma variável de importância. Não se esgotando o tema, mas apontando aspectos relevantes ao mesmo.
Essa questão que sempre nos causa preocupação enquanto profissionais da educação: a dificuldade na aprendizagem que certos alunos apresentam em sala de aula. Algumas situações, como os casos de alunos que se negam a realizar suas atividades e de outros, como crianças que agridem na escola e são agredidos em casa ou assistem agressões entre familiares sempre causam – nos questionamentos. O fato remete-nos as seguintes reflexões:
A quem se atribui a culpa as dificuldades de aprendizagem?
A Escola vem cumprido com seu papel de promover a aprendizagem das crianças?
E os professores, estão conseguindo agir como mediadores entre conhecimento e a criança?
Tudo que quebra a sua lógica um dia pode receber uma nova lógica? Quando o uso da moldura em um quadro foi retirada representou a quebra de uma estrutura, porém com o passar do tempo essa "abertura da obra" se tornou normal e muito usual.
Será possível transformar a utilidade das coisas sem abalar sua estrutura [função] inicial, exemplificando, será que um dia longínquo um banco foi uma cadeira que arrancaram-lhe o encosto? Bem, um quadro não deixou de ser ele mesmo por falta da moldura.
O exercício de Ver, Julgar e Agir, ações importantes resultantes da prática constituem um processo educativo, cultural e científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável possibilitando uma relação transformadora. Esta relação enriquece o processo pedagógico socializando o saber acadêmico com a participação da comunidade na vida acadêmica. Os resultados desse processo atingem não só os alunos, mas também profissionais e comunidade, além de realimentar o ensino e ser fundamental para a pesquisa científica (BARROS, 2000).
Refletir sobre a ação educativa é fundamental pra detectar erros e mostra-se como um caminho para a melhoria do ensino-aprendizagem. Acreditamos poder colaborar trazendo, com o resultado desse estudo, informações que possam auxiliar a equipe escolar, em especial os professores na reflexão de problemas que seus alunos apresentam em sala de aula.

2.0 ESTRUTURA E DESESTRUTURA FAMILIAR

Todo indivíduo possui uma família, independente de ser ela a desejável ou não. A importância da família na vida do ser humano é indizível, vez que é a partir dela que o 'homem' adquire os seus primeiros conceitos que formarão, ao longo do tempo, as pilastras de seu caráter, servindo de orientação para os inúmeros caminhos que a vida imporá durante sua trajetória.
Todavia mudanças ocorreram, muito mais no campo fático que jurídico. O pai, em especial no Brasil e países do hemisfério sul, deixou de ser o "chefe" absoluto, regente do núcleo familiar. O número de mães solteiras, separadas, e até de 'criações independentes', agigantam-se quotidianamente.
Algumas mães, diante da impossibilidade em disciplinar e sustentar seu filho, o abandona em entidades assistências, em educandários anacrônicos, ou os vendem ou mesmo os entregam à famílias estrangeiras, às vezes, por crerem piamente de que, com a nova família, terão seus filhos uma chance de vida digna.
Para Osório (1996) a família “é uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e consangüinidade (irmãos) – e que a partir dos objetivos genéticos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais, desenvolveu através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores éticos, religiosos e culturais.”
Para Minuchin (1982) a família “sempre tem passado por mudanças que correspondem às mudanças da sociedade “, que “assume ou renuncia a funções de proteção e socialização de seus membros em resposta às necessidades da cultura”, e que as funções da família atendem a dois objetivos: a proteção psicossocial de seus membros e a acomodação a uma cultura e a transmissão dessa cultura.
Para o autor a família é a matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros: um sentido de pertencimento e um sentido de ser separado. É a família que dá a identidade, modelam e programam o seu comportamento da criança.
Para Ackerman (1986) a família é “a unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha. É também a unidade básica de doença e saúde”. Afirma que a família está em constante transformação através dos tempos como produto de um processo evolutivo, e que molda-se às condições de vida que predominam em um certo tempo e lugar.
Sobre a família contemporânea, diz que ela está mudando seus padrões em um rítmo muito rápido, que “está se acomodando de forma notável à crise social que é a marca de nosso período na história”.
Segundo o autor a família tem duas funções: assegurar a sobrevivência física e construir a humanidade essencial do homem, e que os objetivos sociais atendidos pela família são: “1. O fornecimento de alimento, abrigo e outras necessidades materiais que sustentam a vida e protegem contra perigos externos, uma função melhor desempenhada sob condições de unidade e cooperação social; 2. O fornecimento de uma união social que é a matriz para a ligação afetiva das relações familiares; 3. A oportunidade de desenvolver uma identidade pessoal, ligada à identidade familiar, essa união de identidade proporcionando a integridade física e a força para enfrentar novas experiências; 4. A padronização dos papéis sexuais, que preparam o caminho para a maturidade e desempenho sexual; 5 A educação dirigida à integração nos papéis sociais e à aceitação de responsabilidade social, e, 6. O desenvolvimento da aprendizagem e o apoio à criatividade e iniciativa do indivíduo”.
O que entendemos por estrutura familiar é que ela compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interação regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adaptados, habitando num ambiente familiar comum.
Por estrutura entende-se, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989; p. 21).
O crescente número de relações pouco duradouras tem gerado uma conseqüência drástica no que diz respeito à estrutura da família. Atualmente poucas são as famílias onde se encontra pai, mãe e filhos vivendo em harmonia sob o mesmo teto, o que gera certa desestrutura.
No entanto, alguns especialistas afirmam que este termo deve ser revisto. Desestrutura familiar, por exemplo, não quer dizer, necessariamente, ausência de pai ou de mãe; ou modelo familiar alternativo. A desestrutura tem a ver com as condições mínimas de afeto e convivência dentro da família, o que pode ocorrer em qualquer modelo familiar.
O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em 1990 surgiu com a finalidade de garantir proteção integral à criança e ao adolescente. É um documento importante pois a partir dele a criança passou a ser preocupação principal da sociedade. Em 2006, foi criado o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, em conjunto com os conselhos nacionais da Assistência Social e dos Direitos da Criança e do Adolescente. O Plano aposta que a família, mesmo quando vivenciando limitações e dificuldades sociais, tem condições e potencialidade para cuidar de seus filhos. Também prevê a recuperação do ambiente familiar e medidas que busquem prevenir que crianças e adolescentes passem a viver nas ruas e fora da escola.
Vários foram os fatores que ao longo da história abalaram e até os dias atuais continuam abalando as estruturas familiares. Desde mudanças climáticas, guerras, transição de governos, recessões, separações, disputas por terras e heranças, mortes, álcool, drogas, doenças, miséria, religião, modismos e até mesmo disparidades culturais entre cônjuges causaram e ainda causam, de alguma forma, impacto negativo na estrutura das famílias; de modo que não há como proteger cabalmente qualquer grupo familiar, nem eximi-lo de sofrer ataques do que quer que seja.
Por alguns instantes, chegamos a pensar que a família estaria entrando em extinção. Mas não é bem isto! Na verdade, a família está sofrendo um processo de metamorfose e em algum momento se estabilizará em seus novos e variados formatos.
Mas o que fazer com as crianças com dificuldades de aprendizagem enquanto estatísticas apontam a desestrutura familiar como principal causa do fracasso escolar?

GOELLNER, Maira H.
FARIAS, Viviane dos S.
ASSIS, Anne Gabriela da F.
Autor: Maira Haydée Goellner


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